Palácio Nacional de Queluz

O Palácio Nacional de Queluz fica hoje bem perto de Lisboa, com o infame IC19 mesmo à sua porta. No século XVIII estaria igualmente perto da capital, mas o suficientemente afastado para ser considerado um lugar de veraneio, um recanto face ao bulício da corte.

As suas origens estão na antiga Casa de Campo de Queluz, parte da Casa do Infantado de que D. Pedro foi o seu 3° senhor. Em 1747 esta Casa foi transformada num palácio de verão por este D. Pedro, que viria a ser rei consorte por casamento com a futura rainha D. Maria I. Não surpreende, pois, que seja o monumento Rainha D. Maria I, rodeada pelos continentes, a receber-nos à entrada do hoje Palácio Nacional de Queluz. À sua frente, a cénica e azul Torre do Relógio, hoje Pousada D. Maria I.

Este Palácio, que no início foi pensado como residência de verão, acabou por vir a servir de residência permanente da Família Real entre 1794, data do incêndio no Palácio da Ajuda, e 1807, data da partida da corte para o Brasil em fuga das invasões francesas. O Rei D. Pedro IV (D. Pedro I do Brasil), por exemplo, nasceu e morreu aqui. Integrado no património do estado em 1908, é na ala mais recente do Palácio, o Pavilhão D. Maria, que os chefes de estado estrangeiros em visita oficial a Portugal ficam hospedados.

Conhecido como o “Versalles Português”, o Palácio Nacional de Queluz foi sendo construído ao longo de cerca de dois séculos, reflectindo o gosto da corte de cada uma das épocas de que foi testemunha, pelo que vamos vendo apontamentos de estilos como o barroco, o rococó e o neoclássico, com claras influências francesas e italianas. Há quem considere que o conjunto que daqui resultou carece de harmonia. Quanto a mim, se os tons de azul e amarelo das várias fachadas chegam para cativar, reconheço que quer a sua arquitectura exterior quer a decoração das suas salas, na generalidade, não superam o deslumbre de um Palácio Nacional da Ajuda, de um Palácio Nacional de Mafra ou de um Paço Ducal de Vila Viçosa. Mas quanto aos jardins, bem, aí não há concorrência.

Comecemos, no entanto, esta visita pelo interior do Palácio.

O que primeiro começa por impressionar são os lustres esplendorosos. Eles vão-se sucedendo, sala a sala, e roubam sempre a atenção. Dominam, igualmente, os espelhos. Algumas salas estão forradas a papier maché e com tectos que merecem um olhar demorado.

A primeira sala a deslumbrar é a Sala do Trono. Tem os tais lustres, espelhos e tectos decorados que traduzem a elegância e majestade que esperamos de um palácio real.

A Capela não poderia faltar, com uma estrutura barroca e decoração rococó.

Após algumas salas mais intimistas, onde a nossa imaginação nos transporta para a vida do dia a dia da realeza, atravessamos o Corredor das Mangas, a única sala revestida a azulejos, com a representação das quatro estações e dos quatro continentes e cenas da mitologia clássica e de caça, bem como chinoiseries.

Subindo ao piso de cima, onde fica a Biblioteca de Arte Equestre, podemos apreciar uma bela vista dos jardins e de um dos pátios interiores do Palácio.

É então que, de volta ao piso inferior, chega o momento mais fantástico da visita ao interior do Palácio Nacional de Queluz: a Sala dos Embaixadores. Na verdade mais parece uma sala do trono. Ou de dois tronos, um em cada ponta desta sala com pavimento de mármore com quadrados pretos e brancos. Aqui D. Pedro e D. Maria organizavam concertos e no tecto pode observar-se uma fantástica pintura representando a família real a participar num serenim.

Depois desta bela Sala dos Embaixadores segue-se uma das mais emblemáticas divisões do Palácio, o Quarto de D. Quixote. Decorado com pinturas que remetem para aquela obra literária, não é, no entanto, esse facto que torna esta sala um ponto alto da visita, antes ter sido este o lugar de nascimento e morte de D. Pedro IV.

Saímos, finalmente, para o exterior pelo Pavilhão Robillion – a ala do Palácio onde nos encontrávamos, obra do arquitecto francês de mesmo nome que sucedeu nos trabalhos arquitectónicos ao português Mateus Vicente de Oliveira, entretanto requisitado pelo Marquês de Pombal para a reconstrução de Lisboa após o Terramoto de 1755. A imagem da Escadaria dos Leões deste pavilhão é uma das mais famosas do Palácio, apreciando-se na sua fachada de inspiração romana colunatas que sustém a varanda balaustrada.

Daqui temos uma vista privilegiada para o Canal dos Azulejos, mais um momento portentoso deste conjunto formado pelo Palácio e Jardins que fica aos nossos pés assim que descemos a referida escadaria Robillion. Este canal esta revestido de belos painéis de azulejos com representação de cenas de galanteio, paisagens bucólicas e de caça. No canal, uma espécie de lago artificial, os membros da Família Real passeavam de gôndola enquanto ouviam música tocada no Pavilhão da Música mesmo à sua beira.

Estamos já nos jardins – um dos muitos – que tornam a visita ao Palácio Nacional de Queluz uma delícia. É deambulando por eles que percebemos na perfeição a harmonia entre a arquitectura e a paisagem neste palácio. De influência francesa, com longas alas que vão formando corredores, cortadas aqui e ali por jogos de água como lagos, fontes e cascatas (a água era conduzida para o Palácio e Jardins por dois aquedutos), era neles que a Família Real promovia as suas festas.

Nesta ala que vai desde o Pavilhão Robillion até às antigas Cavalariças da Rainha D. Amélia (hoje Escola Portuguesa de Arte Equestre), vemos uma série de estátuas inspiradas na mitologia clássica, como aquelas de Abel e Caim no Lago dos Dragões e a do Rapto de Prosérpina um pouco mais adiante.

Uma longa avenida com vários caminhos que se interceptam transportam-nos pelo Lago das Medalhas, passando pela Fonte de Neptuno até ao Tanque do Curro. À volta, num terreno quase a perder de vista, temos o pomar e a mata.

Não chegámos até ao Jardim Botânico e atalhámos pelo jardim de buxo mesmo de frente para uma das fachadas do Palácio, o Jardim do Labirinto, passando ainda pela Horta dos Príncipes. No final da longa (mais uma) avenida que segue em direcção ao IC19 encontramos a Cascata. Diz-se que esta foi a primeira cascata artificial construída em Lisboa, e é uma cascata monumental esculpida em pedra mármore e ornamentada no cimo por uma carranca e duas fénix laterais donde jorrava a água.

Mas os jardins mais cénicos são aqueles que adentramos pelo Pórtico da Fama, o Jardim Pênsil e o Jardim de Malta, os dois jardins parceiros das fachadas interiores do Palácio Nacional de Queluz.

A simetria dos canteiros de buxo no Jardim Pênsil, mais elevado em relação ao de Malta, é perfeita, perfeição essa ainda mais alcançada pela estatutária e lagos ornamentais que o preenchem. O Jardim de Malta, por seu lado, tem vindo a ser restaurado no sentido a ganhar a sua forma mais próxima do original, mas mesmo assim é um deleite observá-lo em contraste com os tons macios das fachadas do Palácio.

Não há melhor forma de nos despedirmos de Queluz do que esta de percorrermos estes seus espaços decorativos de excelência.

2 Comments Add yours

  1. pmemoria diz:

    Ola Boa Tarde
    Tenho acompanhado os vosso artigos aos quais tenho gostado. no entanto quero deixar a minha opinião com incidência as fotografias que para proteger os direitos de autor as mesmas devem ter os vosso créditos
    Contudo pardilho a minha reportagem, espero que gostem : https://photographydigital1.blogspot.com/2019/01/palacio-nacional-de-queluz.html
    Todavia continuem a divulgar um pouco de tudo em Portugal
    Cumprimentos
    pmemoria

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    1. Obrigada pela sugestão e por acompanhar o nosso blogue. Que nestes tempos de isolamento possa servir de companhia e dar ideias de passeios para quando voltarmos à nossa vida.

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