Tavira

Tavira é uma das mais bonitas cidades algarvias. Cortada ao meio pelo rio Gilão, que em breve desaguará na Ria Formosa para logo depois se espremer entre as ilhas de Tavira e de Cabanas até se perder no mar, é na sua margem direita que podemos passear pelo centro histórico.

Talvez em nenhuma urbe como Tavira as marcas islâmicas sejam tão presentes. Desde logo, no nome. Tabira derivará do verbo árabe “tabara”, de significado esconder. Ou seja, Tavira como “a escondida”, por não ser visível nem do mar (graças às ilhas barreira) nem da terra (graças à serra algarvia).

Não surpreende, pois, que aqui possamos visitar o Museu Islâmico, onde se expõe o espólio arqueológico da época islâmica encontrado na cidade. O “Vaso de Tavira” é a estrela do museu e uma belíssima e inesquecível peça cónica de argila datada da segunda metade do século XI, com bonecos moldados à mão representando guerreiros, cavaleiros, músicos e animais.

O castelo e as muralhas de Tavira são outro exemplo da ocupação islâmica. A cidade que há séculos havia estado sob domínio dos fenícios, que terão construído a sua muralha, viu os muçulmanos chegarem no século XI e aqui fixarem-se, tendo construído o castelo no topo da colina de Santa Maria. O objectivo seria a protecção da entrada no rio Gilão e mesmo com a posterior conquista cristã, no século XIII, o lugar manteve a sua importância, bem atestada pelas novas obras no castelo e pelo facto de o perímetro amuralhado ter chegado aos cinco hectares. Mais, com a conquista dos portugueses Tavira passou a ser uma das sedes da Reconquista. Hoje o castelo não possui já estruturas no seu interior, servindo antes como jardim e miradouro.

É a partir desta vista privilegiada – com destaque para três elementos que ela nos oferece: rio, igrejas e telhados – que desde o castelo partimos a descobrir o centro histórico de Tavira.

A primeira igreja que visitamos é a Igreja de Santa Maria do Castelo. À sua frente temos a Igreja de Santiago e ao lado o Convento da Graça. Não é à toa que Tavira é conhecida pela “cidade das igrejas”. Diz que são 37 as igrejas e 6 os conventos espalhados pela cidade, pelo que não ficamos muito tempo sem ver uma torre com uma cruz e um sino. A Igreja de Santa Maria do Castelo é a mais típica e reconhecível, com a torre do relógio de um lado e portal gótico do outro.

No Castelo caminhamos pelo seu belo jardim e do alto das suas muralhas apreciamos outro dos elementos que fazem de Tavira singular. Os telhados tesoura (ou de tesouro), que já tínhamos visto em Faro, parecem ser aqui a solução primeira e mais abundante no que respeita à cobertura dos edifícios. Em forma de pirâmide, com 4 águas muito inclinadas, foram trazidos para Tavira pelos comerciantes e navegadores que viajavam para paragens distantes na época dos descobrimentos, replicando na sua cidade o que viam lá fora. Mas foram usados sobretudo em edifícios pertencentes à nobreza e ao clero e, ao contrário do que se possa à partida pensar, não servem para melhor escoar a água da chuva, uma vez que no Algarve ela não é abundante, mas mais ao facto de esta estrutura permitir um melhor controlo da temperatura no interior das habitações, tornando-as mais frescas.

Descemos do castelo até ao centro da cidade. Espreitamos a Porta de D. Manuel I, voltamos a subir um pouco para descobrir o portal renascentista da Igreja da Misericórdia e ruinhas que a circundam, e descemos finalmente até à Praça da República, espaço amplo virado para o rio Gilão.

Atravessamos a sua ponte assente em sucessivos arcos, construída no século XVII e que se crê ter substituído uma outra mais antiga de origem romana. Da outra margem a vista sobre Tavira é belíssima, com a presença de todos os elementos que a tornam um lugar encantador: rio, igrejas e telhados tesoura.

Mas é o caminhar sem propósito pelas ruas que nos faz gostar ainda mais de Tavira. Paramos numa pastelaria para comprar uma mão cheia de doces típicos do Algarve, provamo-los no Jardim do Coreto e atravessamos o Mercado da Ribeira – que não é, de todo, o que esperávamos, antes uma espécie de centro comercial virado para os turistas.

E voltamos, uma vez mais, a debruçar-nos sobre o rio Gilão enquanto ele não se transforma em rio Séquia. Esta é uma das muitas curiosidades de Tavira. O Rio Séquia nasce na Serra do Caldeirão e desce até Tavira, mas quando chega à antiga ponte da cidade muda de nome, passando a correr sob a designação de Gilão nos seus últimos cerca de 3 kms até à foz. A que se deverá tão raro facto? Provavelmente só as lendas o explicarão e não é difícil de imaginar que esta lenda mete histórias de amor impossível entre princesas mouras e cavaleiros cristãos. Felizmente que a nossa história de amor com Tavira é bem real e está aí para acontecer.

5 Comments Add yours

  1. Tavira é uma envolvente cidade que merece muitos olhares. E posts também!
    Se tiver interesse em ler, no passado dia 29 de Julho publiquei no meu blog um post sobre Tavira.
    É apenas uma outra visão dessa interessante cidade.

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    1. Tavira, cidade interessante e uma das mais bonitas e com mais rico património em todo o Algarve. E inspiradora. Se bem que, pelo que li do seu bonito blog, não tem precisado dela para se inspirar. Obrigada pela partilha.

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  2. Blasco Alfonso diz:

    (…) Subscrevendo a beleza que Tavira expõe aos olhares.Ao desta blogueira. E a tantos, e diversos,outros. Diria que a “modernidade a têm “beliscado”, por enquanto muito pouco. E, também, por isso, o essencial do seu encanto não se esconde aos olhares. No que me vai nas memórias e no peito eu diria que Tavira, ainda, não deixou os ares do Sul.É cálida de ventos e noites. De lugares cheio de história. E de cheiros que nos interpelam. Continua a namorar com a serra de lugares e vilarejos “algarvios”,tradicionais. E, por tudo isto, deixa saudades. Quando partimos.

    Obrigado pela partilha de este outro olhar sobre esta cidade humanamente viva.

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    1. É verdade, Tavira retém ainda os ares do sul. Um sul para além do próprio Algarve.

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      1. Blasco Alfonso diz:

        (…) é esse mesmo o sentido da expressão “ares do Sul”; influências do Sul histórico, social e cultural, com que simbolizei esta vila de Tavira.

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