As Montanhas de Rila e Pirin

A Bulgária é um país maioritariamente montanhoso, proporcionando grandes cenários naturais. Com tantas montanhas, o difícil é escolher quais visitar, na certeza de que seja qual for a escolha não sairemos desapontados. E foi precisamente pelas montanhas que tomámos a Bulgária como destino, mais precisamente por Rila, as maiores montanhas entre os Alpes e o Cáucaso, e os seus sete lagos. Para além do mais, é aqui que fica o Mosteiro de Rila, um dos lugares que mais visitantes recebe e ainda hoje destino de peregrinação nos Bálcãs. Para compor a jornada, adicionámos as montanhas de Pirin ao itinerário, e não nos arrependemos.

No último post havíamos passeado pelo Mosteiro de Rila e agora rumaremos aos 7 Lagos de Rila. Ambos ficam nas montanhas de Rila, mas para chegarmos até ao início do famoso trilho pelos 7 Lagos de Rila vindos do mosteiro há que pegar no carro e fazer-nos à estrada por mais de uma hora, assim vencendo os muitos picos desta montanha. Os trácios chamavam-lhe “montanhas de água”, pelos cerca de 200 lagos glaciares e diversos ribeiros que se aninham entre os picos, juntamente com a fauna feita de veados, cabras e falcões, para além de ursos. O Monte Musala, com 2925 metros de altitude, é o mais alto da Bulgária – e dos Bálcãs -, companheiro de mais de uma centena de outros picos acima dos 2000 metros.

Borovets é o principal centro de apoio à temporada de ski, mas o início do trilho dos 7 Lagos de Rila acontece depois de um “voo” de cerca de 20 minutos nas cadeirinhas que saem do abrigo (hut) Pionerska, 4 kms após a povoação de Panichishte. Nos meses de Julho e Agosto esperam-se filas intermináveis para a subida e no trilho, uma vez que este é o mais famoso e concorrido de toda a Bulgária. O facto de ser muito procurado traz riscos para a natureza, como o perigo de erosão e a poluição de orgânicos para os lagos, para além de alterar a vegetação pisada. A solução passa, pois, por andar apenas nos trilhos marcados e não tomar banho nos lagos. Como percorremos o trilho em Julho, claro que, infelizmente, não evitámos a enchente de caminheiros, mas a verdade é que o cenário proporcionado pelas montanhas e lagos de Rila valem muitíssimo a pena. As paisagens são incríveis. Dada a altitude, o clima muda muito, pelo que há que levar agasalho, mesmo que o calor em baixo seja muito, e há que ser paciente face ao céu fechado – não parecia possível, mas as nuvens moviam-se numa velocidade acelerada e de um momento para o outro o que era escuro tornou-se azul.

O trilho, com cerca de 9 kms (mas com derivações mais curtas), tem algumas subidas para vencer e pedras para calcar, mas é percorrido por todo o tipo de gente, novos e velhos; todavia, vai certamente custar a quem não está habituado a caminhar. A subida ao ponto mais alto permite apreciar numa só imagem a maior parte dos lagos, mas quando lá chegámos o céu estava totalmente coberto por nuvens e não acreditámos que o céu limpasse em tempo útil, o que aconteceu (daí o aviso anterior). De qualquer forma, as paisagens que nos tocou admirar encheram por completo as medidas.

Ao longo do sistema montanhoso de Rila passa a principal bacia hidrográfica da Bulgária, como que dividindo o parque nacional em dois, a norte com as águas do rio Iskar a correrem para a parte norte do rio Danúbio e daí para o Mar Negro, e a sul com as águas a correrem para o Mar Egeu. E a bacia hidrográfica do rio Struma ocupa uma parte significativa da área do parque, que depois segue para o Mar Egeu. Ou seja, estes lagos de Rila são a fonte dos maiores rios da Bulgária, como o Maritsa, Iskar e Mesta, mas também os seus mais pequenos afluentes têm aqui origem. As suas águas são muito macias e de grande qualidade.

O lago de maior altitude de Rila é o Ledenoto, a 2709 metros, mas neste trilho andamos “apenas” entre os 2095 metros do lago Dolnoto e os 2535 metros do lago Salzata.

Assim, os 7 Lagos de Rila são o Dolnoto – a 2095 metros, é o de mais baixa altitude, recebendo água de todos os outros lagos do grupo, e tem 11 metros de profundidade;

Lago Salzata

O Salzata – a 2535 metros de altitude é o mais alto, sendo por isso também conhecido como “o lago de cima” (conseguimos apanhá-lo “aberto”, mas é o tal de onde o céu fechou num instante, não nos permitindo ver o cenário desde o ponto mais alto do trilho), e o segundo mais pequeno e raso; o seu nome, de significado “lágrima”, vem da sua forma e das águas cristalinas, que deixam ver até à máxima profundidade; está congelado por quase 9 meses do ano;

Lago Ribnoto
Lago Ribnoto

O Ribnoto – a 2184 metros e com apenas 2,5 de profundidade, o mais raso, aqui visto primeiro de cima e depois junto à sua água;

O Trilistnika – a 2216 metros e de forma irregular, parecendo um trevo de três folhas, daí o seu nome, aqui igualmente visto primeiro de cima e depois junto à sua água;

Lago Bliznaka
Lago Bliznaka

O Bliznaka – a 2243 metros, é o maior em área, sendo que nos anos mais secos a sua parte mais estreita no meio quase seca e divide o lago em dois; acima dele ergue-se o formoso Monte Haiduta;

Lago Babreka

O Babreka – a 2282 metros, o segundo maior e com uma posição estratégica, daqui saindo diversos trilhos para diferentes lugares;

Lago Okoto
Lago Okoto

E o Okoto – a 2440 metros de altitude e 37,5 metros de profundidade, fazendo dele o lago mais profundo da península balcânica; é um dos mais magnéticos e a sua intensa cor azul e forma oval característica está na origem do seu nome: visto de cima este lago parece uma íris.

Lagos Okoto, Babreka, Bliznaka, Trilistnika e Ribnoto

E a foto com diversos lagos juntos.

E este trilho é ainda especial por aqui viver a flor prímula de Rila, uma espécie de violeta escura, também conhecida por divina prímula por sobreviver a uma temperatura de -40°. É uma relíquia glaciar que se espalhou durante a idade do gelo e hoje sobrevive apenas nas partes mais altas de Rila. Floresce entre junho e meados de agosto e, por isso, tivemos a sorte de apreciá-la.

O Parque Nacional de Pirin fica a sul do Parque Nacional de Rila, não tão distante em linha recta quando olhado pelo mapa, embora as distâncias de carro sejam mais demoradas do que à partida possa parecer. Desta vez é Bansko o seu principal centro urbano, uma boa base de alojamento para quem vai esquiar ou fazer caminhadas.

O nome Pirin vem do deus eslavo dos trovões, Perun, e também nesta montanha, à semelhança do que acontece com Rila, o tempo pode tornar-se adverso, cortesia, novamente, dos seus mais de 100 picos de granito acima dos 2000 metros de altitude. Mas desta vez tivemos sorte e o céu estava claro e com boa visibilidade, deixando-nos arrebatadas com a beleza da região. Há uma série de possibilidades de caminhadas, e após alguma indecisão sobre qual escolher optámos por seguir até ao abrigo Vihren. O pico Vihren é, precisamente, o mais alto deste parque, com 2914 metros de altitude, o segundo mais alto da Bulgária. Claro que nos faltam pernas para subir até ele, mas desde o abrigo, mais abaixo, saem trilhos que nos levam a passear pela natureza, protegidos por montes e vales à descoberta de mais uns lagos. É uma paisagem muito, muito bonita, mais delicada e verde do que os 7 Lagos de Rila.

Lago Okoto
Lago Ribno

E acabámos por percorrer um trilho mais curto que nos levou aos maravilhosos lagos Okoto e Ribno, apenas dois dos cerca de 118 lagos glaciares das montanhas de Pirin. Os picos à sua volta são muito cénicos e um pequeno ribeiro corre sereno pelo breve vale que os recorta.

Sentimos que o lugar era tão bonito, repetimos, que preferimos caminhar menos e deixarmo-nos estar mais tempo a contemplar tão bela e tranquila paisagem, não resistindo a um piquenique com os pés na água fresca, não tão gelada como chegámos a pensar. E não resistimos, igualmente, a fazer uma vídeo chamada para a mãe, tal era a ânsia de compartilhar o momento com quem mais gostamos. Viva a tecnologia, no meio da mais singela e comovente natureza.

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