Até dia 2 de Julho corre solta por Setúbal a 3.ª edição da Festa da Ilustração, sob o mote “É preciso fazer um desenho?” São diversas as mostras dos trabalhos de alguns dos melhores ilustradores portugueses, espalhadas por vários espaços da cidade.
Categoria: Exposições
A Lisboa que Teria Sido
Lisbon Impact
Joana na Ajuda
Joana Vasconcelos no Palácio Nacional da Ajuda, acabadinha de estrear e que vai até Agosto, tem tido uma publicidade nunca vista. Foi anunciada como a maior exposição da artista em Portugal e na sequência de uma outra, diz-se que muito bem sucedida, no Palácio de Versalhes.
Os números da primeira semana da exposição da Joaninha na Ajuda pareciam-me um exagero.
Entrei à vontade, logo a seguir ao almoço, consegui ver o seu Jardim do Éden, às escuras e com plantas florescentes, sem esperas. Alguma gente amontoava-se em alguns cómodos da rainha, do rei ou dos príncipes para ver as suas peças de cerâmica de Bordalo Pinheiro vestidas de croché. Uns cães altivos em cima de umas mesas, uns lagartos a espreguiçarem-se na parede, um gatinho chamado Casanova junto aos brinquedos dos príncipes, mais uns lagostins e uns sapos aqui e ali. Todas as obras a dialogarem correctamente com o mobiliário e a decoração do Palácio.
E depois vieram algumas das obras mais conhecidas, a dupla de sapatos Marilyn feitas de panelas, o candeeiro A Noiva feito de tampões, o helicóptero Lilicoptere feito sei lá do quê.
À saída, sorriso estampado no rosto com tanto kitsch e falta e gosto à mistura por esta arte diferente, uma fila interminável para entrar. Pior, uma fila ainda mais interminável para comprar bilhete, 10 euros preço normal.
Fiquei sem dúvidas de que vai ser não só a maior exposição de Joana, mas a maior exposição de sempre no país. Também, pudera, com este bónus de um dois em um Palácio da Ajuda + Artista da Moda.
Museu do Oriente
E já que ando toda virada para o Ásia, não podia faltar uma saltada ao Museu do Oriente.
Sorte. 4 (quatro!) exposições de uma vez, todas elas de interesse superlativo. Excelente forma de ocupar uma tarde.
“Macau. Memórias a Tinta-da-China” é belíssima, com pinceladas do pintor Charles Chauderlot que lembram os tempos antigos de uma outra Macau e fazem recordar tempos recentes para quem teve oportunidade de passar por alguns dos seus recantos.
Depois, uma exposição sobre o Chá, do Oriente para Ocidente, com os seus utensílios e algumas pinturas. Não menos bela.
Já a dos “Cartazes de Propaganda Chinesa – A Arte ao Serviço da Política” não será bela, mas tem pinceladas fortes e é deveras interessante. Mao rodeado de criancinhas, Mao rodeado de operários, Mao rodeado de agricultores, Mao pop.
Por fim, a nossa bela Lisboa vista de um ângulo raro. “Do Vasto e Belo Porto de Lisboa” são uma série de fotos da colecção da APL – Administração do Porto de Lisboa, com a vida dura dos trabalhadores e obras no porto no princípio do século passado.
Júlio
Outra exposição bem interessante está ainda no CAM da Gulbenkian.
“A Imagem que de ti Compus – Homenagem a Júlio”
E quem é este Júlio? É Júlio dos Reis Pereira, nosso contemporâneo, estando em mostra pinturas suas dos anos 1930 a 1960. Não conhecia nada dele, mas ao ver toda a cor dos seus bonecos não podia deixar de ir conhecê-lo ao vivo. Um banho de surrealismo e expressionismo para lavar os nossos olhos.
Via Crucis
Com esta temporada de chuva que parece interminável, está bom é para visitar museus.
Por exemplo, em Janeiro foi obrigatório ir à Galeria do Rei D. Luís, no Palácio da Ajuda, ver Fernando Botero desta vez em pinturas e não em esculturas. Foi o caso da exposição “Via Crucis – A Paixão de Cristo”, polémica, q.b., mas pelo menos não calhou em altura de Quaresma. Gostei especialmente de duas pinturas: Cristo crucificado com o Central Park de N.Y. atrás e, para algo totalmente diferente, Cristo crucificado com uma favela atrás, talvez de Medellin.
As Idades do Mar
“Quando eu morrer voltarei para buscar os momentos que não vivi junto ao mar.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
As Idades do Mar, exposição no Museu da Fundação Gulbenkian, começa logo poderosa com uma obra de um naufrágio de Turner e um largada de barcos de um dos pedaços de mar mais cénicos de todo o mundo, a Sereníssima Veneza pintada por Francesco Guardi.
Segue com mais uma série de grandes artistas internacionais, sempre com elementos ligados ao mar, sejam eles tormentas, faina, puras paisagens ou deleite apenas. De anónimos, também, como uma enorme tela de uma tal Batalha de Lepanto pintada no século XVII que eu observava lado a lado com o nada anónimo pretendente ao nosso trono, Dom Duarte, sim senhor.
Muito bem representados estão ainda os grandes pintores portugueses, de Pousão a Menez.
Confesso que esta arte naturalista e impressionista não é a que mais me seduz, mas depois dou de caras com a cor da Chalupa de Amadeu e tudo parece que se ilumina, como um sol a irradiar sobre o mar.
Em seguida, mais um movimento do rosto e já não consigo desviar o olhar por um bom bocado. É Vieira da Silva e a sua História Trágico Marítima, com os passageiros do barco calmamente instalados enquanto observam os amigos todos encaracolados nas ondas, como se tentassem acomodar-se na imensidão do mar.
Como o dia fica mais feliz depois de ter estado com Vieira.
Corto Maltese em Évora
O meu aventureiro preferido pode ser visto na Fundação Eugénio de Almeida em Évora.
À distância de um curto olhar, ficamo-nos com 51 desenhos do génio criador Hugo Pratt.
E deixamo-nos viajar, pelas paragens distantes que o marinheiro fez suas e pelas personagens que foi encontrando e que adoptou como companheiros.