Mosteiro de Rila

O Mosteiro de Rila é um ponto alto da visita à Bulgária. É um lugar de extrema tranquilidade e beleza e parte da identidade búlgara.

Corria o ano de 865 quando o cristianismo foi tornado religião de estado, vivia-se então o Primeiro Império Búlgaro (681-1018). Em sequência, foram fundados os primeiros mosteiros, como modelos da virtude cristã. E as montanhas de Rila foram um dos lugares escolhidos pelos ascetas para buscar essa virtude e a auto-perfeição. Ioan Rilski (João de Rila) foi um dos que a escolheu, tornando-se o maior asceta da região. Quando chegou, as montanhas não eram habitadas e dedicou-se a um completo isolamento do mundo, no sentido de viver exclusivamente e plenamente um caminho espiritual – a terra foi a sua cama, o céu a sua manta e as ervas a sua comida, tendo vivido numa gruta por 12 anos e outros 7 numa rocha a céu aberto. Ao longo dos anos, alguns homens seguiram-lhe o caminho e juntaram-se a ele. Morreu em 946 e deixou em testamento aos seus discípulos uma mensagem espiritual e moral para a próxima geração de monges. Foi tornado santo (e padroeiro da Bulgária) e as suas relíquias são fonte de cura e milagres até hoje.

A 70 kms de Sofia, cerca de uma hora e meia / duas de estrada, este mosteiro fundado em 927 por influência do dito santo foi o favorito dos tsars búlgaros durante os primeiros impérios, mas pilhado no século 15 durante o domínio otomano, embora logo restaurado quando as relíquias de Rilski voltaram de Veliko Tărnovo. O Mosteiro de Rila tornou-se a Jerusalém búlgara e foi fundamental para a preservação da cultura e religião da nação durante os 5 séculos de jugo turco, entre os séculos 14 a 19, servindo de exemplo para os mosteiros seguintes, para além de fonte espiritual para monges, estudantes, professores, cantores, pintores de ícones, escultores de madeira e pintores murais. Destruído pelo fogo em 1833, logo voltou a ser reabilitado e hoje está classificado como património da humanidade pela Unesco.

Este centro espiritual milenar instalado a 1147 metros de altitude é uma espécie de fortaleza, com muros de pedra a toda a volta. Para lá desses muros, no entanto, todo um mundo novo é-nos revelado. Depois de atravessarmos as entradas em arcos de volta perfeita, aguarda-nos um complexo composto por uma igreja, uma torre, um museu e uma galeria de ícones rodeados por um edifício quadrangular de três andares correspondente aos espaços administrativos e dormitórios do mosteiro. A arquitectura do complexo é colorida, cheia de colunas e arcos que resultam em varandas de cores preto, vermelho e branco, sobressaindo o dourado das cúpulas da igreja ao centro e as cores vivas dos frescos do seu exterior. Tudo isto envolvido por uma exuberante natureza composta pelo verde da montanha e da floresta, por onde o rio Rila corre apressado.

A Torre Hreliova, com 24 metros altura e em pedra, é a estrutura mais antiga do complexo, construída em 1335. Ao seu lado, também no meio do pátio, está a Igreja da Natividade, construída entre 1834-37. Nela o destaque vai em absoluto para os super coloridos frescos exteriores representando cenas da Bíblia, as glórias do céu e os horrores do inferno que esperam os pecadores. Já havia tido a oportunidade de ver cenário semelhante nas igrejas pintadas de Bucovina, na vizinha Roménia, mas o espanto e felicidade perante tamanha explosão de cor e arte em Rila não foram menores. O interior é muito escuro e estava em restauro, mas deu para perceber seu enorme candelabro.

Este Mosteiro de Rila é uma maravilha tocante, de uma tranquilidade absoluta, e tivemos a oportunidade de visitá-lo ao final do dia, já sem a companhia dos magotes que o costumam encher. Não tivemos, porém, a experiência de pernoitar num dos seus quartos despojados, o que deve ser um momento de elevação mesmo para quem, como nós, não é de todo espiritual.

Nas imediações do Mosteiro, uma estrada que adentra pela floresta cerrada leva-nos até ao prado de Kiril, um pedaço de natureza vibrante de onde se erguem picos altíssimos. Há mesas de piquenique, muitos pinheiros e avisos da possibilidade de haver ursos, mas tal não desmobiliza os caminhantes para daqui iniciarem os seus trilhos. Antes de chegarmos a este prado – e ao final da estrada de asfalto – trilhos breves levam-nos até eremitérios escondidos na floresta.

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