Astúrias não é apenas uma região de paisagens naturais, sejam costeiras ou de montanha. As suas cidades, nomeadamente o tridente Gijón, Avilés e Oviedo são, igualmente, lugares a visitar. Gijón tem um dos maiores portos espanhóis e é a mais povoada da província, embora Oviedo seja a capital que mantém até aos nossos dias um centro histórico medieval. Avilés, por sua vez, é a mais industrializada e já neste milénio tem sido objecto de um processo de reconversão urbanística. Desta vez não visitámos a primeira, optando por explorar os centro históricos das outras duas, equidistantes em relação a Gijón.

Avilés tem um passado antigo. No século 10 ganhou foral e o privilégio de celebrar feiras e mercado semanal e, séculos mais tarde, da cidade saíram diversos navegadores na época da colonização das Américas, sendo Pedro Menéndez o mais famoso deles, conquistador da Flórida e governador de Cuba. A pujança da nobreza ligada à expansão ultramarina deixou marcas na arquitectura da cidade, visível nas igrejas, nos brasões dos palácios e nas arcadas dos edifícios (soportales, em espanhol).

Após uma época de decandência, com o final do século 19 veio a intensa industrialização da cidade e, assim, a antiga vila medieval marítima tornou-se um centro siderúrgico. É, ainda hoje, uma das mais industriais de Espanha e um dos seus maiores portos pesqueiros e essa faceta marca indelevelmente a sua paisagem, vendo-se muitas chaminés e guindastes no horizonte. Mas, ao mesmo tempo, esta seria uma cidade naturalmente bonita, possuindo para além do mar também uma ria e o seu estuário.



Acompanhando as novas tendências e preocupações urbanísticas do final do século passado e início deste, a última década trouxe a reconversão da zona industrial e da ria. E o seu grande símbolo é o Centro Niemeyer, um centro cultural inaugurado em 2011 aos pés da ria e com vista para o centro histórico. Oscar Niemeyer tem neste o seu único projecto em Espanha e, segundo o próprio, o mais importante na Europa. A união à cidade vem do facto de ter recebido o prémio Príncipe das Astúrias das Artes em 1989 e, como que em forma de agradecimento, doou o projecto a Avilés. As inconfundíveis linhas do arquitecto brasileiro, materializadas nas curvas ondulantes do edifício principal, da cúpula, da torre e da praça são um magnífico parceiro e, ao mesmo tempo, contraste para o centro histórico da cidade.


Depois de apreciados todos os pormenores deste Centro Niemeyer, que acolhe exposições e actividades artísticas, atravessamos a colorida ponte sobre a ria. Poderíamos ter atravessado uma outra ponte e percorrido parte do seu passeio fluvial até ao porto recreativo, onde estão os seus barquinhos e veleiros. Mas optámos pela ponte colorida e, depois, por atravessar nova ponte, desta vez a passarela conhecida por “La Grapona”, precisamente em forma de gancho e sobre a linha comboio e a movimentada estrada. Uma bela ideia de ligar o novo ao antigo e, assim, chegamos ao centro histórico de Avilés.







Passamos pela Igreja dos Padres Franciscanos, Parque Verde del Muelle, Palácio Camposagrado e Plaza España. Nas costas, a Igreja San Nicolas e, depois de percorrermos a calle Galiana, embrenhamo-nos no Parque de Ferrera, largo e com vários caminhos. Uma mescla de arquitetura civil e religiosa.

As arcadas foram o que mais nos cativou na cidade e estão por todo o lado, embora em maior expressão na calle Galiana. Veem-se também edifícios com balcões, e esta arquitectura é bem diferente da que estamos habituados no nosso país. Por outro lado, foi em Avilés que vimos um centro histórico ainda com alguns edifícios em mau estado e abandonados, o que, isso sim, a torna parecida com muitas das cidades médias Portugal fora. De qualquer forma, o que está inteiro, e é muito, é suficiente para deixar qualquer visitante não só surpreendido como feliz. Uma agradável surpresa, esta Avilés e seu bonito conjunto edificado.



Iniciámos a visita a Oviedo pelas suas igrejas pré-românicas, Santa Maria del Naranco e San Miguel de Lillo. São dois monumentos do século 9 situados ambos no Monte Naranco, sobranceiro ao centro da cidade e com umas belas vistas sobre ela. Santa Maria del Naranco foi construída no tempo do Reino das Astúrias para servir de palácio ao rei Ramiro I e só depois consagrada como igreja. Já San Miguel de Lillo, igualmente mandada construir por este rei, teve desde o início função religiosa. Ambas parte do conjunto de edifícios pré-românicos classificado pela Unesco como património da humanidade, a sua arquitectura, semelhante, é de uma elegância sem par e deu origem a monumentos românicos que se lhe seguiram.

Oviedo, Uviéu em asturiano, foi fundada em 761, época do Reino das Astúrias. E é ela a origem do Caminho de Santiago, daqui tendo partido o seu primeiro peregrino, o rei Afonso II. É, pois, parte do caminho primitivo.

A Praça da Catedral é a mais monumental e dá entrada no centro histórico, quase todo ele pedestre, que mantém a sua unidade e diversos testemunhos das várias épocas da cidade, incluindo a medieval. A torre da Catedral de Oviedo domina a praça e muito do centro histórico, destacando-se pela sua altura e formosura.

A construção da Catedral iniciou-se ainda no século 13 e toma o estilo gótico, embora com o tempo lhe tenham sido introduzidos também elementos renascentistas e barrocos. Infelizmente, a nossa visita à catedral foi curta, não tendo conhecido nem a Câmara Santa nem os claustros, nem subido à torre. A igreja, sim, pudemos visitá-la e confirmar que é uma beleza, rica com os seus luminosos vitrais e super decorados retábulos.



A Praça da Catedral – Praça Afonso II – possui ainda uma série de edifícios dignos de referência, como a pré-românica Igreja de San Tirso (século 9), os palácios de Valdecarzana-Heredia (século 17 e 18) e de Camposagrado (século 18) e a Casa dos Lannes e sua capela (século 18) – atente-se aos brasões de todos eles. Tem ainda o Palácio Episcopal nas traseiras, o qual pode ser considerado como parte do conjunto de igrejas, mosteiros e torres que faz deste centro medieval também um centro religioso.

E o excelente Museu de Belas Artes das Astúrias também fica na Praça, instalado num renovado Palácio Velarde (século 18), com obras dos grandes de Espanha, desde El Greco aos contemporâneos.




Mas há muitas mais praças no centro histórico de Oviedo, como a Plaza Fontán com o seu mercado fora e dentro de portas, a Plaza de la Constitución com igreja de San Isidoro e edifício do ayuntamiento, a Plaza Trascorrales com a escultura “La Lechera” ou a Plaza del Paraguas e ruas de bares da cena nocturna que a rodeiam.


Há uma parte mais recente da cidade para lá da Calle Uria, por excelência a das lojas. Veem-se uma série de edifícios de arte nova e esta cidade universitária é também uma que acolhe todo o espectro de artes. O Teatro Campoamor, por exemplo, é o lugar onde são apresentados os Prémios Príncipe / Princesa das Astúrias, que todos os anos homenageiam personalidades de prestígio mundial em diferentes áreas, como as ciências, humanidades, artes ou outros domínios.



E Oviedo é seguramente uma das cidades que mais esculturas de arte pública possui. Na Plaza la Escandalera vemos a escultura “Maternidade” de Fernando Botero, recentemente falecido. Não muito longe vemos Woody Allen a caminhar. E no Parque Campo de San Francisco há várias para descobrir, entre as quais a muito amada Mafalda, personagem criada por Quino.

Este Campo de San Francisco é o autêntico pulmão de Oviedo, um lugar para se estar tranquilamente no meio das árvores, lagos e pérgolas.

Muito mais há a descobrir na capital das Astúrias, e este foi um breve passeio limitado ao seu centro histórico. Uma cidade de encantos que consegue juntar lado a lado o passado representado pela medieval Fuente de Foncalada, mais um exemplo de arquitectura pré-românica, ao badalado culto da sidra que é mantido na Calle Gascona, com sidreria porta sim porta sim.