Puebla de Sanabria

Puebla de Sanabria, na província de Zamora e perto da raia, é um dos Pueblos más bonitos de España e lugar de visita frequente para os domingueiros de Bragança e localidades vizinhas. Tão perto de nós e tão diferente das nossas vilas, aqui o tempo parece não ter passado.

Instalada a 940 metros de altitude no alto de uma colina sobre os vales dos rios Tera e Castro, a sua localização sempre foi estratégica, um dos raros passos na região entre Castela e a Galiza e o norte de Portugal. A sua origem vai bem atrás, ao tempo dos celtas, havendo quem defenda que o topónimo deriva da palavra “Senabriga”, de significado “castro no monte”. E no tempo dos romanos, perto de Sanabria passava uma estrada secundária que ligava Salamanca à Galiza e Bracara Augusta a Astorga. Está, por isso, habituada desde há muito a ver passar pessoas e bens, desde simples peregrinos a comerciantes e soldados. No século 12 transformou-se numa vila fortificada e, pouco mais tarde, num importante centro de actividade comercial, tendo sido conferido ao lugar não apenas a possibilidade de realizar feiras como cobrar portagens.

Distinguida como conjunto histórico artístico, Sanabria tem ruas e edifícios de pedra com fachadas com balcões de madeira e telhados de ardósia. Subimos levemente pelas suas ruas até chegar ao castelo, símbolo maior da povoação, sempre com o rio Tera no lado direito. Imediatamente antes está o Baluarte de los Portugueses e nele as vistas já se anunciam grandes. Superadas, claro está, pelas do alto da torre de menagem do Castelo dos Condes de Benavente, construído no século 15.

Os Condes de Benavente eram também conhecidos como os Pimentel, uma família nobre de origem portuguesa que chegou às mais altas esferas da coroa de Castela. Um caminho de ronda pelo adarve do castelo permite-nos apreciar a vila e sua envolvente de um ponto de vista altaneiro, quer os edifícios mais importantes – olha, lá está a Igreja de Nossa Senhora del Azogue – como a curva onde os dois rios se juntam. No espaço do castelo estão hoje instaladas a biblioteca municipal e a casa da cultura e há igualmente um pequeno centro de interpretação onde são mostradas a fauna e flora da região, bem como aspectos etnográficos como a indumentária tradicional e instrumentos musicais como a gaita sanabresa.

Terminada a visita ao Castelo, impõe-se uma passagem pela referida Igreja de Nossa Senhora del Azogue, situada na Praça Maior e com a Ermida de São Caetano colada. A igreja de Santa María del Azogue foi construída no século 12 e é um exemplo de arte românica, bem expresso no seu portal, com umas belas figuras talhadas. No interior estava a ser tocada música de câmara, pelo que pudemos comprovar a maravilhosa acústica produzida pelo seu órgão do século 18.

Na Praça Maior está também o edifício do Ayuntamiento e um conjunto de casas onde habitaram os ricos da vila. Dela saem três pequenas ruas – Calle Rúa, Plaza Mayor e Calle San Bernardo – que, em conjunto com uma outra – Calle Florida – constituem o centro urbano desta bonita povoação. Fizemos questão de as descer e subir, pelo prazer de conhecer todos os pormenores e nos deixar encantar pelos seus balcões decorados com flores e com o manto de Nossa Senhora, embelezados para a festa local do dia 8 de Setembro. São vários os edifícios brasonados, demonstrativos do poderio que tiveram algumas das suas famílias.

E é por aqui que fica o Museu de Gigantes e Cabeçudos, o qual mostra alguns dos bonecos – 10 gigantes e 33 cabeçudos – que, cumprindo uma tradição que vem desde 1848, costumam desfilar pelas ruas de Sanabria.

Do outro lado do rio Tera, passada a ponte sobre ele, fica o Convento de São Francisco e, junto ao rio, uma área de lazer verde onde se pode relaxantemente usufruiu da sua água e até observar as diferentes espécies de aves que por aqui habitam.

A envolvente de Puebla de Sanabria inclui atractivos naturais como a Serra de la Culebra – onde vive a maior povoação de lobo ibérico da Europa, sendo esta espécie parte da identidade de Sanabria, que se autodenomina “Terra de Lobos” – e o Lago de Sanabria – o maior lago de origem glaciar da Península Ibérica. Visitámos o Lago de Sanabria, a 12 quilómetros do centro da povoação, mas não tivemos grande sorte com o tempo. O céu escuro não permitiu nem caminhadas nem mergulhos numa das suas várias praias fluviais de areia e preparadas para uma série de actividades de lazer e desportivas. Ainda assim, valeu a pena, uma vez que se as vistas não foram totalmente desafogadas e luminosas deu para perceber a potencialidade deste lugar natural.

O lago maior (porque há ainda a Lagoa dos Peixes, mais acima, que não visitámos) tem uma extensão de água de 368 hectares e 55 metros de profundidade. Alimentador do rio Tera, alberga peixes como trutas, barbos, sardas e bogas e tem alguns bosques e prados à sua beira, bem como o abandonado antigo Balneário de Bouzas. Uma lenda conta que no fundo do lago está uma povoação submersa, Valverde de Lucerna, tomada pelas águas – há quem diga que na noite de São João costuma ouvir os sinos da antiga igreja e os galos a cantar vindos do lago. O que, infelizmente, não é lenda foi a tragédia que se viveu na noite de 9 de Janeiro de 1959, quando um acidente na barragem Vega de Tera fez com que fossem libertados 8 milhões de m3 de água que destruíram por completo Ribadelago e em 15 minutos tiraram a vida a 144 dos seus habitantes. Uma nova aldeia foi construída perto da antiga, mas a pouco e pouco a aldeia destruída foi recuperando e, assim, hoje Ribadelago Nuevo está lado a lado com Ribadelago Vieja, não distando uma da outra mais de 1 quilómetro.

O Lago de Sanabria tem ainda como exemplo de património construído o mosteiro de San Martin de Castañeda, em estilo românico zamorano. Não é certa a sua origem, mas os monges já estariam na beira do lago desde o século 10, tendo a igreja sido construída no século 13. Terão sido, aliás, os monges cistercienses que divulgaram a tal lenda da povoação submersa. Pouco adiante do Mosteiro, numa curva na estrada, o Miradouro da Neveira abre-se por inteiro à paisagem, e é esta imagem do Lago de Sanabria que guardaremos na memória.

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