O século 19 trouxe alguma pujança económica a Plovdiv e os seus maiores comerciantes, habituados a contactos com o resto da Europa e do mundo, acabaram por ser os responsáveis pela introdução de novos elementos arquitectónicos e artísticos na cidade. Assim surgiu o denominado estilo nacional revivalista na arquitectura búlgara.

É um Plovdiv que se pode observar e admirar os maiores exemplos desta arquitectura, que pode ser vista também em outras povoações búlgaras, como Koprivshtitsa, mas em menor escala. Nestas casas é visível a influência otomana, uma vez que na época da sua construção a região ainda estava sob o seu domínio, mesclada com um gosto francês recentemente adquirido. Olhar para as suas fachadas coloridas é um deleite, mas há que conhecer também os seus interiores, com apontamentos delicados e requintados.

Visitámos algumas delas, desde logo a Casa Kuyumdzhiev, hoje Museu Etnográfico, a mais exuberante e pitoresca e ponto alto da arquitectura barroca búlgara. De 1847, então propriedade do comerciante Argir Kuyumdzhioglu, é um exemplo típico das casas revivalistas simétricas. De grandes dimensões, é conhecida por “residência do rei”, e tem um inúmeras janelas. No segundo andar, que correspondia à sala de refeições, uma longa janela panorâmica de forma oval, acompanhando o formato da sala, tem um bela vista para o pátio / jardim exterior. Esta casa teve várias funções ao longo dos tempos, desde pensão para meninas, fábrica de chapéus, armazém de farinha, fábrica de vinagre e armazém de tabaco. Aberta a visitas desde 1943, mais tarde acabou por acolher a exposição etnográfica que apresenta a cultura tradicional da Trácia, das montanhas Rhodope e da região de Sredna Gora, mostrando diversos objectos do dia a dia, vestuário étnico, instrumentos musicais tradicionais, entre outros. Vale a pena a visita também para perceber o espaço interior, embora não seja o mais bonito em termos de decoração.

Há quem diga que se só pudermos visitar uma das casas, a escolha deve recair na Casa Hindliyan. Foi construída entre 1835 e 1840 pelo mercador e agricultor que veio a ficar conhecido pelo nome “Hindliyan”, por o comércio de sedas e especiarias o ter levado até à Índia. E as influências desse país são evidentes na fantasia e exotismo da decoração da casa. A fachada que se observa da rua tem uma cor diferente daquela virada para interior do pátio, uma vermelha e a outra azul. Na porta de entrada da casa vê-se uma pintura com a representação da casa.




E as divisões possuem uma rica decoração – incluindo os tectos -, ao estilo oriental, já se disse, com pinturas com bonitas vistas de Constantinopla, Alexandria, Veneza e outras cidades e uma alafranga no meio, um recurso para criar ilusão de uma janela. Tem até uma fonte de água num dos salões e, mais impressionante, uma casa de banho (caso raro) de ambiente oriental, com arcos e cúpulas, com água corrente e chão aquecido, para além de um reservatório e fonte de mármore.

A Casa Klianti, também construída em meados do século 19, é um bom exemplo da inicial casa assimétrica na cidade. Leva o nome do seu primeiro dono, comerciante de tecidos de lã, e o seu restauro teve início em 1971, embora só tenha sido completado em 2017 – a tempo de Plovdiv Capital Europeia da Cultura, um excelente pretexto e impulso para iniciativas ligadas à preservação do património.


Destaque para as decorações murais – com paisagens de Constantinopla e Viena de 1817 – e tectos, com muitos motivos florais. E atenção às carpetes e às divisões escondidas.

A Casa de Nikola Nedkovich, comerciante de tecidos, foi construída em 1863 e revela-se-nos depois de um curto túnel que leva ao pátio interior que, esse sim, dá para edifício principal residencial e para um outro onde ficava a cozinha. Lugar quase exclusivo da mulher, este tinha o detalhe muito mourisco da janela que ficou conhecida como “janela bisbilhoteira”, por servir para ver para o exterior sem ser visto. A arquitectura desta casa é harmoniosa, e um medalhão na fachada acima da terceira coluna tem uma pintura representando a casa vista de uma perspectiva central.


Diversos tectos das salas são esculpidos e veem-se frescos e murais nas paredes. Alguns dos objectos e mobiliário são originais da família, transportando-nos para o ambiente da sua época.

Por fim, a Casa Lamartine, antiga propriedade do comerciante local Georgi Mavridi, construída entre 1829-30. Apenas a vimos do exterior, mas tem uma história curiosa. O diplomata e futuro ministro francês Alphonse de Lamartine visitou a cidade em 1833, no seu tour pelos Bálcãs, e ficou nesta casa por 4 dias. 100 anos depois, comemorou-se o facto (e até o presidente François Mitterrand por lá passou) e a casa acabou por ficar conhecida pelo nome do seu visitante ilustre, e não do proprietário.

Num registo diferente, ainda que igualmente instalada num edifício revivalista búlgaro, a Farmácia Hippocrates é outro motivo de espanto. Era uma das farmácias mais modernas da sua época, tendo funcionado entre 1872 e 1947, propriedade do Dr. Sotir Antoniadi, um dos poucos médicos de Plovdiv.

Num espaço pequeno, musealizado, podemos ver uma série de instrumentos médicos de outros tempos, diversos frascos de medicamentos e remédios e uma fileira de bustos e estatuetas de personalidades ligadas à medicina, assim como na fachada se veem medalhões de Hipócrates (“pai da medicina”), Hígia (deusa da saúde) e Esculápio (deus da medicina).
Mais casas merecedoras de visita há em Plovdiv, e algumas delas têm interesse não apenas pela arquitectura ou decoração interior, mas também pelas obras de arte que acolhem, como a Casa Balabanov, a Casa Stambolyan e a Casa Dr. Stoyan Chomakov (galeria Zlatyu Boyadziev).