Meteora

No centro da Grécia continental, na Tessália ocidental, está Meteora, um cenário de uma grandeza impressionante. O mais importante centro monástico do país depois do Monte Atos, alia natureza, geologia, arquitectura, cultura e religiosidade e é património da humanidade distinguido pela Unesco e um sítio integrado na Rede Natura 2000.

Este lugar de rochas, cheio de pináculos e outras formações rochosas incríveis, é o resultado de uma massa de pedras, areia e sedimentos trazidos por um antigo rio e depositados num antigo lago da Tessália. Há cerca de 60 milhões de anos este rio terá entrado no mar perto da povoação que hoje conhecemos como Kalambaka e, quando a massa de água encontrou uma saída no Mar Egeu, o delta que havia sido formado erodiu em consequência de movimentos tectónicos da terra, terramotos, vento e chuva. Separando-se, formou os ditos pináculos e rochas de diferentes formas. Esta uma explicação simples e tosca para a maravilha geológica que constitui Meteora.

Muito mais tarde, no fim do século 10 ou princípio do 11, chegaram os primeiros monges em busca de refúgio e de uma vida espiritual que levasse à ascensão divina. Para isso, primeiro criaram os seus lugares de oração em covas na rocha que passaram a servir de ermidas. Depois, por volta do século 14 estas covas foram sendo substituídas por mosteiros, mas o isolamento das comunidades religiosas permaneceu intenso, parco de relações com o mundo exterior, até pelo acesso difícil aos lugares. Nos séculos 16 e 17, época maior do monasticismo em Meteora, o número de mosteiros chegou a ultrapassar os 30, a maior parte deles abandonados por volta do século 18. Entre os motivos estiveram devastações e, também, a atracção que as suas riquezas exerceram sobre os ladrões, que os atacaram e pilharam, sobretudo após a queda do império otomano (que, curiosamente, havia permitido que a fé cristã fosse aqui cultivada). Mas também ataques durante a ocupação alemã na Grécia durante a 2ª Grande Guerra Mundial e durante a Guerra Civil Grega.

A partir da década de 1960, foi levado a cabo um programa de preservação e restauro – dos mosteiros e seus frescos e tesouro – que tornou possível a continuação do monasticismo no lugar e, ao mesmo tempo, com a emergência do turismo despertou a curiosidade e o desejo de visitar Meteora em muitos outros, gregos ou não, cristãos ou não, turistas em geral. São hoje 6 os mosteiros em actividade e visitáveis.

Ou seja, Meteora é um lugar sagrado que combina uma beleza natural e arquitectura. Em especial, o desafio que a Natureza impôs ao Homem revela que a devoção a Deus trouxe consigo uma pitada de heroísmo por parte dos primeiros monges, que construíram mosteiros no alto dos rochedos. Estes mosteiros, literalmente empoleirados nas torres rochosas, parecem suspensos no ar e a palavra grega “meteora” tem precisamente esse significado, “suspenso no ar” – meteora e meteorito são fenómenos que acontecem nas alturas. Se esta empreitada ainda hoje parece coisa do além, que dizer no século 14, quando os ditos mosteiros começaram a ser construídos? Com efeito, nos primórdios, os mosteiros eram alcançados por escalada (ascendendo com os seus pés descalços) e/ou redes e cordas – vrizoni (por onde os monges e bens eram içados). Um desafio e perigo vencidos por conta da fé. Hoje o acesso é muito mais fácil e há estradas e lanços de degraus que levam os monges e freiras – e os turistas -, embora ainda sejam usadas caixas e elevadores para o transporte daqueles e dos bens.

A implantação destes mosteiros, já se vê, é fabulosa. Dão a impressão de ser a continuação física das rochas onde foram construídos, numa harmonia absoluta com a paisagem envolvente que, aliás, permanece praticamente intacta. E as centenas de pináculos rochosos, verdadeiras torres esculpidas, chegam a alcançar mais de 400 metros de altura relativamente ao solo. Este é, pois, um grande lugar para caminhar, o que fizemos, deixando-nos envolver por completo nesta autêntica floresta de rochas, intercalando o desfrute da natureza com a visita aos 6 mosteiros e mais uns bónus.

Parte da igreja ortodoxa grega, para além da sua implantação irreal e inesquecível, os mosteiros de Meteora possuem uma arquitectura única – construídos ao redor de um pátio, com o katholikon ao centro (decoradoras e pintadas pelos maiores artistas do seu tempo) e capelas e refeitório ao redor. A visita aos 6 em actividade, com entrada paga de 3 euros em 2023, para além dessa arquitectura e das grandiosas vistas do alto dos rochedos onde estão implantados, permite-nos apreciar a sua arte, nomeadamente em escultura, pintura, manuscritos, caligrafia, bordados e música. São lugares sagrados, mas também guardiões de valores espirituais e culturais.

Mosteiro de Rousanou

O Mosteiro de Rousanou (Agias Varvaras Rousanou) o primeiro que visitámos, é pequeno mas acolhedor. Agora de freiras, foi construído na continuação de um pináculo e chega-se até ele depois de subir uns degraus fáceis e passar pela curta ponte de madeira que dá acesso à entrada do recinto monástico. Vê-se a escada de corda que era usada para subir ao mosteiro antes da construção dos degraus. Da ponte já tínhamos observado bem abaixo um bonito jardim florido e logo após a entrada deparamo-nos como uma varanda também florida com vista para um conjunto de pináculos onde num deles se ergue o Mosteiro de Vaarlam. No hall anterior ao katholikon, está uma pintura de Meteora e umas pequenas janelas com aberturas para a paisagem de pináculos rochosos. E o pequeno katholikon tem frescos e vitrais coloridos.

Mosteiro Agiou Stefanou

O Mosteiro Agiou Stefanou (Santo Estêvão) tem um acesso fácil e sem escadas. Também de freiras, muito atentas e rigorosas a impedirem fotos no interior do katholikon e sua antecâmara. Esta tem frescos de cores muito vivas com a representação da vida de Cristo e outras cenas, como uma dos pináculos de Meteora. A capela principal, com cúpula alta, tem um candelabro brutal sobre o altar – com icons esculpidos a madeira. O pátio, muito florido, tem grandes vistas para Kalambaka e o seu vale.

Mosteiro Agios Triadas

Logo a seguir está o Mosteiro Agios Triadas, o mais perto a pé de Kalambaka e igualmente com grandes panorâmicas sobre esta povoação e as rochas de Meteora. Mas de carro é aquele que tem o acesso mais longo e, depois de o estacionar, há que caminhar mais um bocado. Com muito espaço exterior, o seu katholikon também não desilude.

Mosteiro Megalou Meteoron

O Mosteiro Megalou Meteoron (Grande Meteoro) é o maior e o mais famoso dos mosteiros de Meteora e esperam-se hordas nas filas para a sua visita. Instalado no monte mais alto, numa rocha com 613 metros de altitude – não admira que as vistas desde aqui sejam grandiosas -, foi fundado no século 14 por São Atanásio. Logo se tornou o mais rico e poderoso graças ao apoio de um imperador sérvio tornado monge. As igrejas têm fachada imponente e de clara influência bizantina. E estão decoradas com mais uns grandiosos frescos. À semelhança dos outros mosteiros, também aqui se vê o talanton (simandro), a peça de madeira que se usa para bater numa superfície, fazendo um som e servindo de chamada para a oração.

Mosteiro de Varlaam

O Mosteiro de Varlaam, logo ao lado do Grande Meteoro, trocando ambos vistas directas espectaculares um para o outro, é mais um grande miradouro de quase toda a Meteora. Igualmente muito visitado, há belos detalhes pelo espaço, como um poço donde é retirada água por um balde de madeira. E preserva ainda o vrizoni, a corda e o cesto original que servia para transportar pessoas e bens, puxados por uma roda instalada na torre do mosteiro.

Mosteiro Agios Nicholaos Anapafsas

Por fim, o Mosteiro Agios Nicholaos Anapafsas, o mais próximo de Kastraki, é o de acesso mais cansativo, com caminho longo por escadas ou rampas. É dos mais pequenos e discretos e diz que o menos visitado. Uma pena. As grandes vistas mantém-se e uma singela capela guarda frescos ainda do século 14, belos ainda que gastos. O katholikon tem frescos mais vivos, neste que é um mosteiro que parece mais puro.

Para além destes 6 mosteiros, uma caminhada pelas diversas rotas sugeridas pela rede de trilhos de Meteora leva-nos ainda ao Mosteiro Ypanatis, considerado o sétimo mosteiro de Meteora. Escondido entre a vegetação e a selva de pedras, está mesmo acoplado à rocha e não sobre ela, como os anteriores. Atenção às cobras e às tartarugas de grande carapaça que encontraremos no caminho (têm mais medo de nós do que nós delas), fauna que aliada aos enormes pináculos e a uma rica flora ao seu redor (há por aqui bosques deliciosos) é garantia da tal distinção como sítio da Rede Natura.

Mosteiro de Santo António
Mosteiro São Nicholas Badovas

Igualmente, junto a Kastraki veem-se várias cruzes e umas instalações em diversos buracos nas rochas. E, também escondidos, podemos ainda admirar o Mosteiro de Santo António (alguma vida há de ter, pois vimos um senhor na varanda a limpar), à semelhança do anterior também colado à rocha, e o Mosteiro São Nicholas Badovas, ainda mais incrustado numa das cavidades do maciço rochoso. Ambos são magníficos exemplos do espírito do monasticismo de Meteora, em que a vontade de viver tão plenamente em comunhão com a natureza como forma de chegar a Deus e uma fé tão desmedida levou a que uma arquitectura impossível se tornasse realidade. Para além do mais, estes três mosteiros estão mais isolados e, por isso, não são tão visitados, tornando a experiência de os conhecer mais gratificante.

Kalambaka
Kastraki

Kastraki é, a par de Kalambaka, uma das duas povoações de Meteora. Mais pequena do que esta, é talvez uma opção mais tranquila e de maior relação com a natureza bruta para pernoitarmos. E, para além do caminho de que aqui sai para os agora referidos mosteiros, vale ainda a pena deambular pelas suas poucas ruas. As casas e a igreja têm nas suas costas enormes maciços rochosos e delas distingue-se ao fundo um pináculo mais pequeno e estreito – é o Adhrakhti, o obelisco que constitui o coração geológico de Meteora.

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