Reserva Natural do Paul de Arzila

A Reserva Natural do Paul de Arzila, no vale do Mondego, está repartida por território pertencente aos concelhos de Coimbra, Montemor-o-Velho e Condeixa-a-Nova, distando pouco mais de uma dezena de quilómetros de cada uma das suas sedes. É uma zona húmida de importância ecológica, científica e paisagística cuja preservação deve ser garantida, daí a sua classificação como Reserva Natural e integração na Rede Natura 2000. 

Na margem esquerda do Rio Mondego, a Reserva tem uma área de 586,73 hectares que inclui a zona do paul propriamente dita e zona florestal e agrícola envolvente. Possui um Centro de Interpretação (encerrado aquando da nossa visita), na povoação de Arzila, que enquadrará esta zona alagadiça na Ribeira de Cernache, junto ao Rio Mondego.

No Paul, a abundância de água origina uma flora e fauna muito especial e diversificada. Em especial, é um importante lugar ornitológico, onde algumas aves fazem desta a sua casa em permanência, outras encontram refúgio no Outono e Inverno e outras ainda a usam como zona de passagem nas suas rotas migratórias, onde se alimentam e repousam. O símbolo da Reserva é, aliás, uma garça-vermelha. Mas há muitas mais, entre as 126 espécies de aves referenciadas, com destaque para o pato-real, a cegonha-branca e a águia-pesqueira. Para além de 21 espécies de mamíferos (entre as quais 2 endemismos ibéricos, o musaranho-de-dentes-vermelhos e o rato-das-hortas, para além da lontra e o gato-bravo), 11 espécies de répteis (entre as quais 1 endemismo ibérico, o lagarto-de-água), 8 de anfíbios (entre as quais 3 endemismos ibéricos, o tritão-de-ventre-laranja, a rã-de-focinho-pontiagudo e o sapinho-de-verrugas-verdes) e 15 de peixes (entre as quais 2 endemismos ibéricos, o barbo e a boga, e 1 endemismo lusitano, o ruivaco). Adoro estas designações.

Ao nível da flora, a Reserva não é menos diversificada, acolhendo cerca de 300 exemplos. Assim, por entre a zona florestada-zona de bosque (que ladeia o paul) e a zona paludosa (no fundo do vale) encontramos: na primeira, mais seca e de características atlântico-mediterrâneas, o pinheiro-bravo, o eucalipto-glóbulo, o sobreiro, o carvalho-cerquinho e o carvalho-alvarinho, bem como, no sub-bosque, o medronheiro, o sabugueiro, o loureiro e tojos, urzes e estevas; e na segunda, já paul e adaptadas ao alagamento permanente e às mudanças do caudal trazidas pela estação das chuvas, principalmente caniço, bunho, tabuas, juncos – todas, espécies que adoram água – e outras características das galerias ripícolas, como salgueiro-preto, bosquetes de amieiros e exemplares dispersos de freixo-nacional, ulmeiros, choupo-negro e outros salgueiros. A propósito do bunho, de referir que uma das marcas etnográficas da Arzila está no fabrico de esteiras, sendo o bunho a matéria prima essencial a esta manufactura. Hoje, este artesanato está a léguas da expressão que já teve, sendo apenas subsidiário à economia local, muito por conta dos novos modos de vida e da dureza que o trabalho do corte do bunho implicava, sendo depois as esteiras feitas num tear rudimentar.

Há um curto percurso recomendado, com uns breves passadiços elevados sobre o terreno e uma torre de observação. Há também um antigo moinho com uma nora à beira da água, junto à Vala dos Moinhos. O perímetro da Reserva inclui ainda as valas do Monte e da Costa, abertas na década de 1950 a partir da ribeira de Cernache, afluente do Mondego, no sentido de drenar os terrenos ocupados por arrozais. No entanto, se formos muito mais atrás no tempo, antes da intensa exploração agrícola, todo o vale do Baixo Mondego já foi uma enorme zona húmida e alagadiça, agora representada apenas por este pequeno exemplar do Paul da Arzila.

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