Edimburgo

Edimburgo é a mais carismática das cidades escocesas. Instalada à beira de um vulcão extinto e dominada pela colina do castelo, nela edifícios góticos desfilam lado a lado com a melhor arquitectura georgiana, assim como ruas de calçada de pedra são vizinhas de outras traçadas a régua e esquadro. A medieval Old Town, rasgada pela mítica Royal Mile, e a neoclássica New Town são elementos urbanos distintos numa mesma cidade, e razão maior para a distinção de Edimburgo como património da humanidade da Unesco. Ainda, esta foi a primeira no mundo a ser designada como Cidade da Literatura, não sendo, pois, de estranhar as muitas referências literárias com que nos deparamos quando a visitamos

Calton Hill é um soberbo miradouro, ideal para perceber na perfeição a implantação de Edimburgo. Para um lado, o mar; para o outro, o vulcão Arthur’Seat; entre eles, o centro da cidade. É visível a intenção, desde o início, de planear e construir a cidade de forma a integrá-la nos elementos naturais e geográficos que a compõem. Na Idade do Ferro, o rochedo do hoje castelo foi ocupado por assentamentos e fortificações e o Holyrood Park por uma tribo celta.

Arthur’s Seat
Torre a Nelson e Monumento Nacional da Escócia
Observatório

O trilho até ao cimo do Calton Hill foi aberto em 1775. Aqui encontramos o edifício onde está o observatório da cidade, o Monumento Nacional da Escócia (memorial erigido em honra dos escoceses que perderam a vida durante as Invasões Napoleónicas, também conhecido pela “Desgraça de Edimburgo”, por não ter sido concluído, por falta de fundos, ali ficando uma espécie de Partenon em ponto pequeno), uma torre-monumento a Nelson e mais uns quantos apontamentos, incluindo um canhão português de Filipe II.

Vista mar
Vista cidade

Mas são as grandes panorâmicas o motivo de subirmos o monte. Veem-se vários ícones de Edimburgo, como o rochedo do castelo, o The Mound com os Prince Street Gardens (o declive artificial e os jardins que separam as cidade velha e nova) e o emaranhado de edifícios monumentais que haveremos de conhecer de perto.

Water of Leith – St Bernard’s Well
Water of Leith Walkway
Water of Leith – Well Court

A subida ao Arthur’s Seat é mais demorada e exigente, e com chuva e sem garantia de boa visibilidade, acabámos por não a empreender. Diz que as vistas desde este vulcão formado há 350 milhões de anos são igualmente fantásticas, o que não duvidamos. Ao invés, percorremos parte do mais acessível e sereno Water of Leith, um passeio ribeirinho com um total de 13 milhas reconvertido nos últimos anos. Com início em Balerno e final em Leith, onde o rio encontra o mar, este é um espaço de uma surpreendente biodiversidade e o caminho ao longo do rio mostra uma Edimburgo muito diferente, longe do intenso movimento turístico da Old Town. E, já agora, muito diferente da alucinação contada e mostrada no livro e filme Trainspotting, de Erving Welsh e Danny Boyle, respectivamente, com muitas cenas gravadas no bairro Leith, também cantado pelos The Proclaimers.

Water of Leith – Dean Village

Um dos pontos mais pitorescos do Water of Leith está no troço que passa pela Dean Village e nele como que entramos numa viagem pela história. Desde o século 12 que esta era uma comunidade com moinhos à beira rio, mas no século 19 tornou-se o centro da indústria de Edimburgo, graças, precisamente, à proximidade da água, que fez deste o lugar ideal para a produção de energia para as fábricas de papel, tecidos e farinha. Hoje, está aqui uma das fotografias mais buscadas da cidade.

Antony Gormley – Six Times Ground
Antony Gormley – Six Times Horizon
Antony Gormley – Six Times Horizon

Na envolvente da Dean Village, há troços com intensa vegetação, natureza pura e, de um momento para o outro, damos por nós junto à Scottish National Gallery, arte moderna de excelência. Imediatamente antes, surge a escultura Six Times Ground, de Antony Gormley, parecendo perdida no meio do rio. É parte da série de 6 esculturas – Six Times – instaladas ao longo do passeio ribeirinho do Water of Leiht, de que pudemos também conhecer ambas as Six Times Horizon, a primeira entre a Modern Art One e a Modern Art Two, e a última num pier abandonado das Docas de Leith, junto ao iate real HMY Britannia.

Modern Art One
Modern Art Two

Para quem gosta de apreciar arte moderna e contemporânea, as Modern Art One (exposição permanente) e Modern Art Two (exposição temporária), parte da Scottish National Gallery são imperdíveis.

Scottish National Portrait Gallery
Salão da Scottish National Portrait Gallery
Médica legista
Tilda Swinton
Rainha Vitória
Walter Scott

Também a visita à Scottish National Portrait Gallery é obrigatória. A primeira impressão, quando entramos no seu salão neo-gótico principal, é de deslumbre. Com dois andares, é lindo, cheio de arcos, pinturas e bustos de grandes nomes das artes escocesa, como Robert Louis Stevenson (autor da Ilha do Tesouro e do O Estranho Caso do Dr Jekyll e Mr Hyde) e Walter Scott (autor de Ivanhoe). Ao longo das salas, vemos retratos de personalidades e de anónimos, quase todos obras de arte diversificadas e de enorme criatividade (impressiona a pintura da médica legista) e, até, divertidas (como a pintura de Tilda Swinton). Há, ainda, pinturas da realeza deste e de outros tempos, incluindo um tocante retrato de uma rainha Vitória jovem, e um Sir Walter Scott com a grandiosa paisagem natural escocesa como enquadramento.

National Museum of Scotland
National Museum of Scotland – terraço

O maior de todos os museus de Edimburgo é o National Museum of Scotland. Enorme, mostra um sem fim de temáticas, desde um F1 de David Coulthard à Ovelha Dolly, parte das invenções científicas e tecnológicas que mudaram as nossas vidas, passando pelo mundo natural, pelas culturas do mundo, arte, design e moda e, claro, a história da Escócia. É uma grande confusão, de fugir. Valha-nos que possui um terraço mais tranquilo, talvez porque não seja fácil dar com o elevador ou as escadas que levam até lá. Mas, ao contrário do que se possa pensar, a este terraço não se vem apenas pelas vistas; é, na verdade, um terraço-jardim onde se conta a história da paisagem escocesa, mostrando-se aqui diversas plantas escolhidas para criar vegetação realística – e entre um ou outro habitat representado vai-se espreitando a cidade.

Scottish National Gallery
Scottish National Gallery – The monarch of the Glen
Scottish National Gallery

Por seu lado, a Scottish National Gallery acolhe a maior colecção de arte nacional, mas também pinturas de grandes nomes internacionais. É aqui que vemos a pintura do alce (“The monarch of the Glen”, de Sir Edwin Landseer), cuja imagem amplamente reproduzida, desde pacotes de bolachas a garrafas de whisky, fez dela uma marca do imaginário das Highlands escocesas. Mas há mais telas que expressam uma visão romântica das paisagens escocesas, incluindo algumas de Edimburgo, a maioria com a representação do seu castelo no topo do rochedo, com o casario ao redor. Instalado num edifício neoclássico construído na década de 1850, as janelas rasgadas da Scottish National Gallery deixam ver os Princes Street Gardens.

Princes Street Gardens
Princes Street Gardens
Princes Street Gardens

Os Princes Street Gardens (West e East) são o resultado da dragagem de um lago sobre o qual, no século 18, foi implantada a linha do comboio e, no século 19, um jardim no lençol desse mesmo lago. Estes jardins, entretanto tornados públicos, têm vindo a desenvolver-se e hoje ocupam uma expressiva área que divide a parte velha da parte nova da cidade. Parceria da natureza e desenho do homem, para além de um largo relvado este é um espaço privilegiado para se passear, encontrando-se uma série de esculturas no caminho e a recentemente renovada Fonte Ross.

Scott Monument

Junto aos East Prince Gardens está o Scott Monument, construído em 1846, em estilo gótico, comemorativo de Walter Scott, conhecido como “o mago do norte”, o mais influente escritor escocês do século 19, creditado como o inventor do romance histórico.

Numa cidade pejada de turistas, a super popular capital da Escócia pode tornar-se impossível de caminhar e não há lugar onde tal é mais verdade do que no Castelo de Edimburgo, o monumento mais visitado da cidade – a marcação prévia da visita é essencial. Como fã de castelos, não poderia perder a oportunidade, mas dizer que queria fugir do sítio e o visitei de forma apressada não é nenhum exagero; é impossível usufruir de espaços sobrelotados e onde todos se atropelam.

O Rochedo do Castelo é o que resta de um vulcão cuja erupção aconteceu há 340 milhões de anos. Então, toda esta zona era uma ampla planície fluvial, perto de um mar tropical. Quando a actividade vulcânica cessou, o vulcão ficou enterrado na areia e lama, depois descoberto durante a Idade do Gelo e, mais tarde ainda, um vale pantanoso acabou por formar-se, tudo isto numa incrível evolução da paisagem ao longo do tempo. Não estranha, pois, que o penhasco do castelo tenha sido aproveitado como posição defensiva, dadas as suas características naturais, desde o início do século 12.

Castelo de Edimburgo
Castelo de Edimburgo
Castelo de Edimburgo
Castelo de Edimburgo

De quase todo o lado da cidade se vê o rochedo do Castelo, tão dominante é. Uma vez ultrapassada a porta principal, vamos vendo elementos como o One O’Clock Gun, a praça do Hospital com estátua equestre de Earl Haig e Museu Nacional da Guerra, a Casa do Governador, o Museu dos Prisioneiros de Guerra (com representação do que era uma prisão no século 18), a Capela de Santa Margarida, o Memorial Nacional Escocês da Guerra, o Palácio Real (onde o grande momento é a apresentação da coroa real, por entre diversas das mais antigas jóias da coroa – as Honours of Scotland -, espadas e retratos da realeza, destacando-se ainda o grande salão). Todavia, para além dos magotes de turistas, a desilusão na visita esteve no facto de não haver salas reais para visitar, daquelas decoradas com mobiliário que nos faz transportar para a época dos reis. Isso encontramos na visita ao Palácio de Holyroodhouse, outro dos pontos altos de Edimburgo.

Abadia de Holyrood
Abadia de Holyrood
Abadia de Holyrood

O Palácio de Holyroodhouse é a casa oficial do rei quando está em Edimburgo. A sua origem está na Abadia de Holyrood, fundada em 1128 por David I como abadia Agostinha, dois anos antes da fundação do burgo real de Edimburgo. Por volta de 1500 era um dos maiores e mais impressionantes mosteiros da Escócia e hoje é uma ruína. Porém, sentimos o ambiente grandioso que terá tido, este que foi um centro religioso e de poder real e político na Escócia, tendo acolhido coroações e parlamentos, casamentos reais e funerais, e servido de inspiração para artistas, escritores e compositores durante nove séculos. Mantém-se as paredes da abadia gótica, bem como os arcos das janelas e, na fachada, resistem as gárgulas de onde a água jorrava da boca de criaturas grotescas, desenhadas para afugentar os maus espíritos.

Parque de Holyrood
Palácio de Holyroodhouse

À medida que a abadia foi prosperando e Edimburgo desenvolvendo, os reis passaram a preferir estar aqui do que no Castelo de Edimburgo. Assim, em Holyrood, em 1503-1513, James IV construiu um alojamento real para si e sua mulher, Margaret Tudor, que mais tarde tornar-se-ia no Palácio de Holyroodhouse. A mais famosa das suas ocupantes terá sido Mary, a Rainha dos Escoceses.

Palácio de Holyroodhouse

Após o bonito átrio exterior, o quadrângulo, uma escadaria monumental transporta-nos até à fantástica sala do trono. Na verdade, tudo no Palácio é fantástico, com belos elementos decorativos na sala do trono (o salão de recepções, mas também onde esteve o caixão da rainha Elizabeth antes de ir para igreja St Giles, depois de ter falecido em Balmoral, aqui na Escócia), sala de jantar real, câmaras privadas (o quarto do rei é de uma imponência sem igual, com uma cama espectacular e o único tecto com pintura com a representação de Hércules a ser recebido no céu, como que uma mensagem para ser entendida por todos os que rodeavam o rei), grande galeria (cheia de telas) e, depois, na ala mais antiga, com os quartos da rainha Mary e com a história de Bonnie Pince Charlie e Mary, a rainha dos escoceses. Os tectos estão esculpidos e trabalhados a gesso, vê-se tapeçaria e retratos magníficos e mobiliário em carvalho, tudo feito para impressionar.

The Royal Mile

O Palácio de Holyroodhouse e o Parque Holyrood estão no final da Royal Mile, uma sucessão de ruas empedradas que os ligam ao Castelo de Edimburgo, a cidade velha por excelência. O nome vem, precisamente, da exacta uma milha que dista de um monumento ao outro. Pelo caminho, vamos vendo desfilar edifícios históricos centenários e, até, outros que ainda agora chegaram à paisagem urbana de Edimburgo, como é o caso do novo parlamento escocês, mesmo ao lado de Holyrood.

Novo Parlamento Escocês
Novo Parlamento Escocês
Novo Parlamento Escocês

Inaugurado em 2004, a visita ao Novo Parlamento é não apenas possível, como incentivada. Seja numa visita guiada ou livre, visitamos a galeria pública da câmara dos debates, onde os membros do parlamento escocês debatem as questões que irão resultar em leis, espreitamos as salas dos comités e passeamos pelo hall principal, com loja e café.

Dunbar’s Close Garden
Museu de Edimburgo

Continuando Royal Mile afora, visitamos o Dunbar’s Close Garden, um recanto tranquilo, e o Museu de Edimburgo, que nos conta a história da cidade velha e da cidade nova, apresentando ainda uma colecção de prata, vidros e cerâmica, bem como mais um acolhedor pátio com flores e plantas e peças de arqueologia como pedras tumulares.

Royal Mile
Royal Mile
John Knox House

Sucedem-se uma série de edifícios com apontamentos que chamam a nossa atenção, entre os quais a John Knox House, original de 1470, fazendo dela a mais antiga da medieval Royal Mile.

Catedral de St Giles
Catedral de St Giles

A Catedral St Giles, que tem a companhia da antiga Casa do Parlamento e outros edifícios medievais, é anterior a muito da Old Town. Restaurada no século 19, possui grandes vitrais, inundado o espaço interior de cor, incluindo uma série deles criada em 1982 que serve de memorial à vida e trabalho de Robert Burns, poeta maior da Escócia, simbolizando a irmandade do homem, um tema muito presente na sua poesia, mas também representando o amor pela natureza e o amor pela humanidade. E, claro, outros vitrais com a representação de vários santos, incluindo St Giles.

Pátio interior da Old Town
Gladstone’s Land, outro dos edifícios mais antigos
Victoria Street

E cor é também o que não falta à Victoria Street, uma rua em curva cheia de edifícios coloridos ocupados na base por um sem fim de lojas. É um bom contraste com os demais edifícios da cidade, mais escuros.

Edimburgo
Edimburgo

Passado o Mercado Grassmarket, uma larga praça onde aos fins de semana acontece um concorrido mercado de rua, já estamos novamente diante da colina do Castelo.

New Town
New Town
New Town

A separar a cidade velha da cidade nova, já o dissemos, está o Mound e os Princes Street Gardens. Para lá da muito movimentada Princes Street, o coração do comércio da cidade, fica a New Town, a cidade nova. Considerada uma obra de arte do planeamento, a sua construção teve início em 1766 e é composta, basicamente, por duas praças e três ruas paralelas – praças e ruas largas, com edifícios elegantes e jardins privados. A Georgian House, em estilo neoclássico revivalista, é um bom exemplo não apenas do salto urbanístico, mas também das ideias iluministas que lhe estavam subjacentes. A construção da New Town foi uma resposta, necessária, ao sobrepovoamento da Old Town e às suas más condições sanitárias, onde, anteriormente, pobres e ricos viviam lado a lado. Com a passagem destes últimos para o novo bairro e seus boulevards, o carácter social de Edimburgo mudou para sempre. E a New Town é, ainda hoje, um lugar bem mais tranquilo do que a Old Town, de onde os turistas parecem não sair.

Gilbert, a cabine telefónica mais famosa
Gilbert, a cabine telefónica mais famosa
Greyfriars Kirkyard
Greyfriars Kirkyard

Por fim, não deixamos Edimburgo sem visitar o Greyfriars Kirkyard, igreja e cemitério de ambiente misterioso. Não sendo fãs de Harry Potter nem da sua autora, não foi isso que nos atraiu, mas diz que foi aqui que JK Rowling buscou inspiração para os nomes das suas personagens, encontrando-os nos túmulos de residentes de Edimburgo aqui enterrados.

2 Comments Add yours

  1. ocaminhodelarissa's avatar ocaminhodelarissa diz:

    Nossa, você montou um verdadeiro álbum! Não apreciei as estátuas de Antony Gormley, mas gostaria muito de conhecer a Escócia, pois toda a Grã-Bretanha me interessa muito, tanto pelos mistérios (como os de Stonehenge), quanto porque as grandes feministas britânicas, sufragistas e suffragettes, foram de imensa bravura e exemplo para a humanidade. Fiquei muito curiosa por J. K. Rowling, que como pessoa admiro, mas da qual infelizmente ainda não conheço a série Harry Potter. Achei também muito curioso o retrato de Tilda Swinton, atriz de primeira qualidade. Sobretudo, as paisagens naturais que você postou são fora de série.
    Gosto de uma cantora escocesa chamada Amy Belle. Você conhece?

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    1. Apesar de muitos dias de céu fechado, as paisagens naturais da Escócia são fotogénicas e por isso ajudam os fotógrafos 🙂 Também a cultura ajuda a gostar ainda mais da região, seja pela história das suas gentes, seja pela sua literatura. Confesso que a música me escapou, mas vou ouvir a cantora que sugeriu. Obrigada.

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