Na Serra do Espinhal, concelho de Penela, fica uma das mais bonitas cascatas de Portugal continental. Alimentada pela Ribeira da Azenha e rodeada por vegetação luxuriante, para alcançar a sua base e admirar a torrente de água em queda é necessário caminhar por um belo trilho relativamente curto, mas nem sempre fácil de percorrer.

É possível estacionar o carro junto ao Parque de Merendas da Cascata da Pedra Ferida, embora em épocas mais concorridas o espaço possa ser exíguo. Logo somos completamente envolvidos pela vegetação e ficamos face a face com uma ponte e uma azenha recuperada.

Mas é o verde e as suas diversas tonalidades que tomam conta do lugar, deixando um espaço estreito para a água da ribeira atravessar. O bosque de loureiros, amieiros, salgueiros e ulmeiros dá ares do interior das ilhas da Madeira ou dos Açores. Mas há também várias espécies de carvalhos e fetos, uma festa de diversidade vegetal. O sol quase não entra e, por isso, a humidade é constante, tornando as pedras que pisamos escorregadias – daí a dificuldade e até a eventual perigosidade do trilho.


Mais pontes e azenhas, estas últimas agora em ruína, se seguem no caminho, remetendo para a memória da tradição do ciclo do pão que perdurou até ao século passado. As azenhas, também conhecidas como moinhos de água, aproveitavam a energia criada pelo movimento da água para com a sua roda moer os cereais e irrigar os campos de cultivo. Ao longo da Ribeira da Azenha chegaram a existir 58 destes exemplos.

A cascata faz-se ouvir à sua aproximação. Diante dela o estrondo não é apenas sonoro, mas também visual. São 32 metros de altura de abundante queda de água (a nossa visita aconteceu no mês de Fevereiro, mas diz que a água não pára nunca de cair). Duas piscinas naturais, em dois patamares diferentes, formam-se na base na cascata da Pedra Ferida. O curioso nome vem do oxigénio da água sobre as pedras que, ricas em ferro, alteram a sua cor em resultado da oxidação. Aliás, a cor tem aqui um novo e contrastante elemento, com o branco da espuma a acrescer ao negro da pedra e ao verde da vegetação.
Da cascata, o trilho continua até à praia fluvial da Louçainha (é parte integrante do PR2-PNL) e, apesar de não termos prosseguido, é certamente uma continuação da maravilha que esta floresta provou ser nos 700 metros percorridos na companhia da Ribeira da Azenha.