Na Estrada da Várzea, entre o Lourel e Cabriz, está a Quinta da Ribafria. Entre tantos monumentos de Sintra, talvez este possa passar despercebido, até porque esteve votado ao abandono durante muito tempo. Eminentemente rural, a Quinta instalada na base de uma discreta colina revela para lá dos muros diversos caminhos por entre jardins e bosques e uma boa harmonia entre estes e o palácio, sendo o conjunto um dos bons exemplos de arquitectura renascentista.

As origens da Quinta da Ribafria vêm do século 16, tendo sido seu primeiro proprietário Gaspar Gonçalves, Cavaleiro da Ordem de Cristo, a quem D. Manuel I doou a Quinta das Laranjeiras por serviços prestados ao reino e, mais tarde nomeou Alcaide-Mor de Sintra. Posteriormente, em 1541, seu filho, D. João III, conferiu-lhe o título de Morgado de Ribafria e carta de brasão, mas a construção do solar na Quinta terá tido início uns anos antes, por iniciativa de Gaspar Gonçalves. Um salto grande na história conta-nos que a Quinta foi algo danificada pelo Terramoto de 1755 e que no início do século 20 foi comprada pelo 2º Conde de Cartaxo. Em meados desse século, não apenas o palácio, mas também a quinta foram objecto de obras de restauro, tendo os arquitectos paisagistas Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles lá desenvolvido projectos, quer para a zona de pomar quer para a mina e jardim rochoso com riacho, respectivamente. Vendida em 1987 à Fundação Friedrich Naumann, acabou propriedade de um instituto ligado ao Partido Social Democrata e, por fim, em 2002 a Câmara Municipal de Sintra exerceu o direito de preferência na sua aquisição. Aberta a visitas desde 2015, nos jardins da Quinta da Ribafria têm vindo a ser promovidas uma série de iniciativas culturais.



À entrada na quinta percebe-se logo um estreito curso de água. É a ribeira de Colares, que atravessa a quinta. Ao centro encontra-se o palácio e seu jardim de buxo. Já se disse, o estilo arquitectónico predominante e primitivo é o renascentista, mas o palácio da Quinta da Ribafria tem a curiosidade de o conjugar com uma ideia buscada na época medieval, a da casa-torre. Assim, o edifício residencial tem adossado num dos flancos uma torre, com pedra de armas da família Ribafria (conta-se que, da torre, o nobre de Ribafria se deleitava a avistar a Penha Verde, também sua propriedade como descendente do fundador D. João de Castro), e o corpo principal do palácio desenvolve-se horizontalmente, com telhados de tesoura, merlões e ameias e as janelas a darem directamente para o tanque de rega / espelho de água, com a dupla função de irrigar os terrenos e proporcionar um pleno contacto com a natureza através dos reflexos da água. Uma breve escadaria antecede não apenas este tanque e o jardim de buxo com pequeno lago, como também a fileira onde estão dispostas 4 estátuas de deuses (Flora, Deméter, Dionísio e Vulcano) que representam as 4 estações, mais um exemplo do estilo renascentista.




Para lá da fachada principal, descobrem-se mais elementos dignos de atenção. Um pequeno tanque com bica em carranca e azulejos geométricos, um São Jorge com o Dragão numa parede e, já no Pátio do Lagedo, para além de um brasão de armas e a capela, destaque para a fonte quadrangular com gárgula forrada a azulejos e coberta com abóbada com coruchéus.

A cisterna não anda longe. Elemento essencial na Quinta, é também revelador da importância e da abundância da água por aqui, relembrando que a propriedade é atravessada por um curso fluvial. Não espanta, pois, que ao longo dela nos deparemos com fontes, lagos, uma nora e que exista até um sistema intra-muros de levada. Embora não tenhamos visitado a cisterna, sabe-se que originalmente ela era fechada e abobadada.


À esquerda do palácio está a sua zona agrícola, correspondente à horta e pomar e onde se veem laranjeiras, espécie que remete para a designação original da quinta, Quinta das Laranjeiras. E ao fundo está a Fonte Manuelina, junto ao tanque grande, um dos elementos mais antigos do conjunto.




O vasto bosque está para lá do palácio, à direita. Zona de lazer da quinta por excelência, apresenta extensos relvados com uma série de árvores de grande porte, incluindo uma sequoia centenária, e uma álea ladeada por inúmeras obras escultóricas contemporâneas.




E dispomos de diversos caminhos para nos embrenharmos na mata até darmos com a outra capela da quinta. Este edifício possuía uma tripla função: a de capela propriamente dita, a de mãe de água e a de casa de fresco. Em estilo barroco, espreitamos o seu interior e constatamos os seus painéis de azulejo em tons azul e branco, com motivos religiosos mas também do quotidiano. Muito envolvida pela vegetação rebelde neste ponto, mais haverá para descobrir e restaurar nesta zona; enquanto tal não acontece, aproveitemos a natureza que Sintra tão bem nos sabe oferecer.