A Serra Devassa, na ilha de São Miguel, é uma zona montanhosa no lado sudeste do maciço vulcânico das Sete Cidades e para além das lagoas de mesmo nome acolhe cerca de 15 pequenas lagoas. O percurso pedestre oficial PR5-SMI, designado Serra Devassa, sai do parque de estacionamento da Mata do Canário e ao longo de 4,9 kms permite-nos conhecer sem grande esforço alguma da diversidade paisagística, morfológica e vegetal do lugar. No entanto, por forma a abarcar mais elementos estendemos o passeio até ao miradouro do Pico do Paul e ao miradouro da Boca do Inferno.

O percurso pela Serra Devassa segue sempre por altitudes entre os 700 e os 900 metros de altitude e o seu início faz-se por prados típicos destas altitudes, com vegetação rasteira como urze e outras. Os montes verdejantes e ondulantes fazem-se desde logo sentir na paisagem.



E, de repente, entramos por uma vegetação cerrada. As criptomérias tornam quase impenetrável a luz natural e a grande humidade existente ao longo de todo o ano nesta zona permite a existência de musgos (sphagnum sp) de diversas tonalidades, fazendo deste um ambiente mágico.




Um desvio até ao miradouro do Pico do Paul, num belo caminho ladeado por hortênsias e com o Pico das Éguas sob mira, ao qual em breve também subiremos, dá-nos uma das mais incríveis vistas de todo o percurso. Apesar de não ser tão aberta para a costa sul como aquela que vemos desde o miradouro do Pico do Carvão (na estrada de acesso às Sete Cidades), precisamente porque temos este monte a tapá-la em parte, traz-nos muitos novos elementos: mais cristas vulcânicas, o Aqueduto do Carvão, o próprio Pico do Carvão e sua lagoa e o cone vulcânico com a lagoa do Pau Pique, todos nas imediações próximas. E a tal vista para a costa norte e maciço montanhoso central da ilha, incluindo Pico da Vara e Vulcão do Fogo.


De volta, entramos em novo mundo encantado de criptomérias que nos deixa diante as duas Lagoas das Empadadas. Ambas lindas, uma é maior do que outra e estão separadas por um estreito caminho. Fizemos questão de as percorrer a toda a volta, fruindo de cada detalhe ao som dos pássaros. Impressiona a mancha densa de criptomérias que as rodeia.


Para além do seu evidente poderio estético, estas lagoas foram em tempos muito importantes no abastecimento de água às fontes públicas de Ponta Delgada, a qual era daqui conduzida ao longo do Aqueduto do Carvão, o tal que havíamos visto do cimo do miradouro do Pico do Paul. Os seus troços mais emblemáticos são o espectacular Muro das Nove Janelas e Muro do Carvão.


A maioria das lagoas da Serra Devassa encontram-se em crateras de explosão de cones vulcânicos de escórias basálticas. A Lagoa Rasa, pouco distante das Empadadas, está numa depressão entre cones vulcânicos.

Ao lado dela estão as duas lagoas do Caldeirão Pequeno, mas com tanto arvoredo nem demos por elas. Só na subida ao miradouro acima da Lagoa Rasa é que as percebemos, juntamente com outras e numa paisagem verdadeiramente de cortar a respiração.

A Lagoa das Éguas Sul é de um redondo perfeito e parece um olho bem aberto. Já a Lagoa das Éguas Norte, melhor apreciada desde o miradouro do Pico das Éguas, está aninhada numa depressão onde se levanta abrupta uma crista.


O Pico das Éguas é o ponto a maior altitude da Serra Devassa, com 873 metros acima do nível do mar. Que, nem de propósito, está logo ali, proporcionando a subida a este pico belas vistas para a zona das Feteiras e Candelária, na costa mais ocidental e a sul da ilha. O contraste do azul do mar e do verde dos montes é puro Açores.

O percurso oficial continua até ao seu final, mas prosseguimos até à Lagoa e Mata do Canário. Mais uma lagoa inspiradora e cheia de ambiente, está também numa cratera vulcânica pejada de vegetação, incluindo na água.

A alameda que nos transporta da Lagoa do Canário até ao Miradouro da Boca do Inferno tem a mesma exuberância arbórea das criptomérias e é a custo que não invadimos a mata e nos deixamos perder pela sua escuridão.


Todo um outro mundo se revela à chegada ao Miradouro da Boca do Inferno, também conhecido por Grota do Inferno. Poucas vezes um nome é capaz de enganar tanto sobre um lugar: não há aqui qualquer inferno, muito menos num dia de céu relativamente limpo e luminoso. O que há é, ao invés, uma grandiosidade tão imensa que nos faz acreditar que chegámos ao paraíso. Assim é a paisagem que nos é oferecida desde o alto deste miradouro, o mais fabuloso de todos aqueles que se debruçam sobre a Lagoa das Sete Cidades.


A Caldeira das Sete Cidades foi formada por colapsos sucessivos e é uma das maiores caldeiras de abatimento dos Açores. Com uma forma quase circular, tem 5,3 kms de diâmetro e o seu interior acomoda a Lagoa Azul e a Lagoa Verde (a Lagoa das Sete Cidades) e ainda a Lagoa de Santiago e a Lagoa Rasa. Para além da expressividade e magnificência de cada uma destas lagoas e seu conjunto, esta é uma paisagem cheia de cones vulcânicos e ondulações verdes que tem o azul do mar logo como vizinho. Um cenário absurdamente épico.
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