Barroca, Janeiro de Cima e Janeiro de Baixo são três aldeias à beira do rio Zêzere, parte da rede de Aldeias do Xisto. Instaladas num território de serras, a paisagem moldou geograficamente e culturalmente estas povoações e as suas gentes, bem visível na adaptação a um território onde o rio sinuoso é pleno de meandros e no material usado para a construção das casas. A harmonia é comum a todas estas aldeias.

Barroca, no concelho do Fundão, distrito de Castelo Branco, é o lugar da sede das aldeias do xisto, instalada na Casa Grande, um solar construído em 1783, hoje propriedade da câmara municipal. Pertencia à família Fabião, que teve destaque na “Guerrilha do Fabião” ou “Exército do Rio” durante a Guerra da Patuleia, a guerra civil entre Cartistas e Setembristas na sequência da Revolução da Maria da Fonte. À semelhança da maior parte do edificado, esta casa senhorial constituída por zona residencial e capela não é em xisto (ou melhor, será / serão, mas estão rebocadas e pintadas a branco), o que, no entanto, não deixa que a aldeia perca a sua piada. Pelo contrário, Barroca tem uma implantação graciosa, sobranceira ao Zêzere e rodeada por pinhal, e é um prazer caminhar pelas suas ruas e quelhas.


Saindo da referida Casa Grande, na parte mais antiga da aldeia, logo damos com a Igreja de São Sebastião, sua vizinha. Passamos por alguns edifícios de arquitectura vernacular, com escadaria exterior de acesso ao segundo piso, e descemos até ao rio, vendo não muito ao longe um conjunto de casas em xisto por entre terrenos agrícolas.


É junto ao Zêzere que se sente uma tranquilidade absoluta, muito por força da paisagem incrível, adornada por uns reflexos da vegetação na água. Em homenagem a uma das espécies mais bonitas presentes ao longo das margens do Zêzere (mas também em outros pontos do nosso país), um guarda-rios em tamanho gigante feito de lixo recolhido das margens do próprio rio dá um novo colorido ao lugar. É mais uma peça de arte urbana parte do projeto “Este Zêzere que nos Une”, criada por Pedro Leitão, artista plástico e presidente de uma junta de freguesia da região (as outras peças podemos vê-las em Belmonte, Covilhã e Manteigas).


Junto ao rio e ao seu açude, restos de um moinho testemunham uma vida que já lá vai. Não atravessámos uma das pontes pedonais até à outra margem e, por isso, não foi desta vez que nos prestámos a descobrir as gravuras rupestres gravadas na rocha pelos nossos antepassados há milhares de anos no sítio do Poço do Caldeirão. Na Casa Grande, no centro da aldeia, funciona também o Centro de Interpretação de Arte Rupestre, mas estava fechado à nossa visita.

À saída da Barroca, o outeiro com Santuário e Capela de Nossa Senhora da Rocha proporciona uma boa vista da aldeia por entre as serras carregadas de verde, que só não deixa ver o rio por, lá está, excesso de arvoredo no caminho da nossa vista.

Em compensação, o miradouro da Sarnadela, no caminho entre a Barroca e Janeiro de Cima, deixa ver com precisão os famosos meandros do Zêzere, as curvas que o segundo maior rio exclusivamente português toma na sinuosa parte intermédia do seu curso a caminho do Tejo. E seguem-se outros pontos de vista na estrada igualmente deliciosos.

Janeiro de Cima, também concelho do Fundão, é uma das mais bonitas aldeias do xisto. Na margem esquerda do Zêzere, numa zona plana no final da vertente noroeste da Serra da Gardunha, está rodeada por terrenos agrícolas. Tem uma Igreja Nova de arquitectura moderna, mas é à volta da Igreja Velha que se desenvolve o intrincado de ruelas sem sentido aparente, em que muitas delas vão dar a becos. E aqui as casas, algumas construídas nos séculos 17 e 18, são quase todas de fachadas em xisto, incluindo seixos brancos, rolados, vindos do leito do rio Zêzere.




A Casa das Tecedeiras é uma delas, transformada em centro interpretativo que se propõe preservar a tecelagem em linho. Um tear gigante ao lado da casa remete-nos para esta forte tradição local, um saber-fazer que não se quer perder.


O rio é outro elemento incontornável à aldeia. Foi ele que assegurou a subsistência das suas gentes, proporcionando água para a rega dos campos e para os moinhos. Um moinho junto ao rio, onde se anuncia a Roda de Janeiro, é disso testemunho, mas não encontrámos o lugar bem preservado. Pelo contrário, a praia fluvial da Lavandeira, ao seu lado, está impecável, um parque de merendas e zona de lazer de excelência, devidamente acompanhada por mais um momento paisagístico do Zêzere de grande nível. E, novamente, não falta um elemento que remete para um costume tradição local, desta vez a barca. “Ó da barca!”, era assim que se gritava quando havia que fazer a travessia do rio entre as duas margens. Hoje ainda lá estão umas barcas, mas agora usadas para passeios no rio.

Diz a lenda que a origem do topónimo Janeiro deve-se a um senhor de grandes propriedades que aqui viveu por volta do século 16 ou 17 e que tinha dois filhos, ambos de nome Januário. Dividido o seu património, um ficou com os domínios da margem direita e o outro com os domínios da margem esquerda, assim se explicando a existência de Janeiro de Cima e de Janeiro de Baixo.

E é para Janeiro de Baixo que vamos agora, aldeia vizinha, mas já concelho da Pampilhosa da Serra e distrito de Coimbra. Mais uma vez, a sua implantação geográfica é maravilhosa, rodeada de serras e vales por onde o rio Zêzere vai buscando o seu caminho. Vista ao longe não parece, mas a aldeia de Janeiro de Baixo fica no alto de uma das várias colinas, chamada serra do Muradal.




Com igreja e capelas, tem várias casas e elementos de xisto e era visível a recuperação de muito do edificado por altura da nossa visita. Quando voltarmos muito estará certamente diferente.

É conhecida como a aldeia dos cinco parques: parque infantil, parque desportivo, parque de lazer, parque fluvial e parque de campismo. A praia fluvial tem areia e uns chapéus de sol para nos ajudar a vencer o calor entre mergulhos no rio nos meses de canícula da Beira Interior. Xisto e Zêzere, uma conjugação perfeita.