De Santa Cruz a Lisboa em 6 Actos

“Pelo sonho é que vamos / comovidos e mudos. / Chegamos? não chegamos? / Haja ou não haja frutos / pelo Sonho é que vamos. […] / Chegamos? não chegamos? / – Partimos. Vamos. Somos.” – Sebastião da Gama

De Santa Cruz a Lisboa, sempre a caminhar o mais próximo possível do mar. Este é o início do sonho de percorrer toda a costa portuguesa. Sonho concretizável, sim, mas provavelmente um sonho de uma vida. Para já, o prazer de admirar o Atlântico neste troço feito de lugares incríveis nem sempre facilmente acessíveis ninguém nos tira.

Foram seis etapas em que, apesar de a ideia não ser a de fazer praia, fomos previamente munidos da leitura de “As Praias de Portugal, Guia do Banhista e do Viajante”, de Ramalho Ortigão, uma espécie de “bíblia” da literatura portuguesa, publicada no distante ano de 1876. Para o autor portuense, a beira do mar era onde “vamos reconstruir tanto o organismo como o sistema moral”. Este quase compêndio sobre o mar, apresenta textos sobre os benefícios do mar, a alimentação do banhista, as precauções a ter antes, durante e após o banho, tudo, enfim. Um rol de informações e conselhos que, lidos hoje, provocam um imenso sorriso no rosto. Mas não é isso que buscamos nesta obra, antes o Mar, esse poderoso elemento natural capaz de inspirar o ser humano há gerações: “Para os portugueses, o mar tem atractivos especiais. Para nós, ele é o caminho das conquistas, dos descobrimentos, da poesia, da inspiração artística, da glória nacional.”

Dispensando as caravelas e até o carro, o fato de banho tem de caber na mochila para esta aventura porque vai dar vontade de mergulhar em algum ponto da jornada. Mas há ainda que levar muita água, snacks, fruta e uma sandes ou salada para o piquenique de almoço. Um agasalho é também imprescindível, mesmo que o dia pareça de calor, uma vez que as costas de Santa Cruz e de Sintra são conhecidas por nos pregar partidas. Consideremos, ainda, acompanhar-nos por um corta-vento. E talvez um par de bastões. Depois de tudo isto, um bom calçado de caminhada será o nosso melhor aliado. E os sentidos, claro.

Caminhar junto à costa entre Santa Cruz e Lisboa requer toda a nossa atenção, não apenas ao piso, às arribas e ao declive, mas sobretudo à variedade e detalhe desta linha de costa portuguesa. Parece não haver uma praia igual à outra, todos os pontos são diferentes dos demais. Passamos por vilas, prados, falésias, ora em cima ora em baixo, praias concorridas e praias desertas, foz de rios e enseadas escondidas. Vamos até ao limite da Europa Continental.

Eis os 6 actos:

– Santa Cruz – São Lourenço (19 kms)

– São Lourenço – Magoito (23 kms)

– Magoito – Cabo da Roca (16 kms)

– Cabo da Roca – Cabo Raso (14 kms)

– Cabo Raso – Santo Amaro de Oeiras (22 kms)

– Santo Amaro de Oeiras – Lisboa (24 kms)

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