Em Pombeiro de Ribavizela, concelho de Felgueiras, está aquele que foi em tempos um dos mais importantes mosteiros beneditinos do Minho. De estrutura românica, terá sido construído no século 11, mas duzentos anos antes havia já registo da presença de uma comunidade monástica em Pombeiro. Muito alterado nos séculos 17 e 18, este Monumento Nacional de longa história e implantação serena não está conservado como mereceria. Não se perca, todavia, a sua visita, um dos pontos altos da Rota do Românico no nosso país.

O descaso na preservação da memória do Mosteiro de Santa Maria do Pombeiro vem de longe. Na sua “Viagem a Portugal”, obra editada em 1981, escrevia José Saramago ser este “um mosteiro arruinado, triste como só os mosteiros em ruínas conseguem ser”. Mais de 40 anos volvidos, o cenário não mudou muito. O caminho de Guimarães a Pombeiro parece transportar-nos para um outro mundo, afastado do bulício das vilas médias, ainda retirado do mundo. E mais o seria quando em 1059 os monges da Ordem de São Bento aqui decidiram construir o seu mosteiro. Num vale fértil, próximo de linhas de água e da velha via romana, este era um lugar ermo, ideal para os monges levarem uma vida de meditação e oração num espaço conventual que incluía igualmente a exploração agrícola. Hoje, permanece a tranquilidade, os campos de cultivo e muita vegetação. E a arcaria do aqueduto que abastecia o Mosteiro teima em permanecer, testemunho importante da sua história.

Sem certezas quanto à data de fundação do mosteiro, terá sido fundado por D. Gomes Aciegas e sua mulher Gontroda, sobrinhos de D. Fernando I de Castela e ascendentes da família dos Sousas, beneficiada mais tarde por D. Afonso Henriques. A ordem dos beneditinos era, então, grande e poderosa. No entanto, vicissitudes várias motivadas por factores como a emergência de uma política de centralização régia, a decadência económica e social provocado pela peste negra e uma redução de doações levaram a que a partir do século 14 muitos dos mosteiros do norte de Portugal tivessem entrado em declínio. Porém, com a criação da Congregação Beneditina em Portugal, em 1567, alguns destes mosteiros recuperaram relevância económica e social. E, assim, nesse mesmo século e, sobretudo, nos séculos 17 e 18 foram levadas a efeito uma série de reformas construtivas na igreja e mosteiro, procurando ir ao encontro das novas ideias nos domínios da economia, artes e cultura. Renovado e ampliado, o resultado foi um novo Mosteiro de Pombeiro, tendo este vivido uma época de grande prosperidade durante o século 18.




No terreiro defronte da igreja do Mosteiro está um cruzeiro, o cruzeiro do Couto de Pombeiro ou Passal, que servia para assinalar os limites da paróquia. Junto a ele está ainda uma fonte, mas é já a fachada da igreja que domina o conjunto. Com duas torres, típico das igrejas beneditinas do Minho, do primeiro conjunto monástico do século 11 pouco chegou até nós. Restam alguns elementos do período românico original, como o portal com cinco arquivoltas e dez capitéis esculpidos e uma singular rosácea, embora já não no seu lugar original, ambos na fachada, para além dos absidíolos e duas arquetas tumulares no interior da igreja.



A Igreja do Mosteiro de Pombeiro, resultado do restauro efectuado no século 18, possui três naves, nela destacando-se a capela-mor com retábulo em estilo rococó e talha dourada. E veem-se, ainda, os tais dois túmulos, em granito, com estátuas jacentes, uma delas com a representação de um cavaleiro descansando agarrado à sua espada.





Depois de visitarmos a Sacristia, com um bonito e longo arcaz e umas telas com a representação da descida da cruz, e a biblioteca, que espera-se possa vir a ser restaurada em breve, chegamos ao Coro-alto. Nele, o cadeiral em jacarandá trabalhado faz como que uma pausa na religiosidade e, por entre diversa decoração, apresenta umas imagens femininas que parecem desnudas, obra do Frei José de Santo António Ferreira Vilaça, à semelhança do retábulo mor e de outros elementos no Mosteiro.


No entanto, é o magnífico órgão que rouba todas as atenções. Obra do século 18, é um exemplar lindíssimo. Nunca havíamos estado tão perto de um órgão destes e, graças à atenção e simpatia do segurança transformado em guia, pudemos perceber os seus detalhes, nomeadamente como funcionam as peças que permitem a emissão do som e, sorte maior, tivemos direito a um mini concerto. O som que emana do órgão é, efectivamente, tocante.




O espaço ao redor dos claustros do Mosteiro de Pombeiro é exemplar do estado a que este Monumento Nacional chegou. Durante as Invasões Francesas, em 1809, o Mosteiro sofreu graves danos, embora a igreja tenha escapado à destruição. Em sequência, os claustros foram restaurados ao estilo neoclássico, mas tal restauro acabou por ser interrompido devido à extinção das ordens religiosas, em 1834. Foi a partir daí que o Mosteiro de Pombeiro foi entrando, progressivamente, em ruína. Deste claustro resta, assim, parte da sua fachada, de dois pisos, com uma sequência de arcos ao nível do piso térreo, bem como parte do corpo principal da residência conventual. Vê-se uma fonte no meio do jardim e ficamos com curiosidade com o que estará para além dele. A um canto, restos de painéis de azulejo, deixados praticamente aos elementos. Como curiosidade final, nos últimos anos tem havido alguns trabalhos arqueológicos no lugar, os quais permitiram identificar a existência de uma fundição artesanal de sinos desde a época medieval até à época moderna. Que estes trabalhos possam continuar, assim como outros que permitam reforçar a memória da presença dos beneditinos em Pombeiro, é o que se deseja.