Estamos há poucas horas em São Tomé.
Apanhamos um táxi para ir jantar. Dério é o nosso motorista.
Dobramos a esquina e vemos um rapaz com a camisola do Sporting. Enquanto, distraída, assinalava isso, Dério, veementemente, a propósito do discurso que soava no rádio do carro, inicia um discurso todo ele político: que em São Tomé e Príncipe só passa fome quem é preguiçoso, porque a natureza ali é generosa em produtos alimentares E assim vamos, até ao restaurante, a discutir a situação do país e de África. Concordamos que, em termos gerais, no mundo, o problema é a distribuição. Ou, melhor, a falta dela.
Combinamos o regresso após o jantar.
Concluído o repasto e já passada a hora combinada, nada do Dério.
Pedimos um outro táxi ao restaurante e enquanto esperávamos aparece o Dério. Pede desculpa pelo atraso e à nossa pergunta, circunstancial, se está tudo bem, responde “agora sim!”. Ao que perguntamos “e antes?”. “Antes também”. Pelo meio é que não, informa-nos. Explica-nos que o serviço anterior tinha sido com a ex-namorada. Não a via há um ano. Conta que não lhe queria cobrar a corrida de táxi. Contudo, a rapariga, que enquanto namorava com ele virou modelo e Miss Simpatia, insiste em pagar, pois vai ter com o atual namorado e é ele que se vai encarregar da conta. Sossegamos o Dério, que todos temos as nossas ex-histórias e que o importante é ficar bem e tranquilo. Ele diz-se tranquilo.
Estamos prestes a acabar a nossa corrida. Reparo que não ligou o taxímetro. Ele, de seguida, repara no mesmo. Claramente a cabeça dele está noutro lugar. Desejamos-lhe sorte. Com um grande sorriso agradece.
Esta foi a nossa introdução ao lado simples e genuíno do povo são-tomense, que tem como lema o leve-leve, que é como quem diz a vida é para correr com muita calma, sem pressa.