Costa das Astúrias

As Astúrias são uma província de Espanha situado a noroeste do país. Tem 400 quilómetros de costa banhada pelo Mar Cantábrico, uma costa surpreendentemente bonita, cheia de recantos, falésias, vales verdejantes e aldeias costeiras. E onde a montanha não anda longe.

O Principado das Astúrias é região histórica, conhecida pela sua resistência aos invasores. Há um dito que diz muito sobre esta sua faceta: “Asturias es España; lo demás es tierra conquistada”. Vendeu caro o domínio romano sobre si e os mouros não chegaram a entrar, tendo os cristão aqui iniciado as campanhas da Reconquista. E é ainda destino para os gastrónomos, terra de queijos, sidra, da favada e do cachopo, para além do muito peixe e marisco. Em qualquer das paragens é certo que a refeição vai estender o prazer garantido pelas paisagens.

A costa de Llanes tem um punhado de praias grandiosas. Ballota e Antilles, antes da sede de concelho, e Poo e Torimbia são apenas alguns exemplos, a que acrescentamos a vista de Niembru e da Playa de Gulpiyuri.

Do miradouro do Monte la Tuerba / de la Boriza conseguimos alcançar uma maravilhosa vista para as Praias da Ballota e de Andrin, parecendo gémeas divididas por um rocha / ilhote no meio.

Já a Praia de Antilles tem uma série de ilhotas a boiar no meio da sua enseada.

Poo é uma estranha, mas maravilhosa praia, a lembrar as calas de Maiorca. O mar entra por ela dentro, juntando-se ao rio, tomando uma forma improvável de piscina natural ou um grande lago em que o areal vai mudando conforme a maré.

Torimbia é das mais amadas. Paraíso dos nudistas, o miradouro na falésia acima deixa-nos ver o maravilhoso recorte da costa para ambas as vertentes. Não lhe faltam pormenores como um arco.

De Niembru guardaremos a belíssima vista para a Igreja de Nossa Senhora das Dores desde o estuário que antecede a enseada.

A praia de Gulpiyuri, por sua vez, é diferente de todas as anteriores e algo que nunca havíamos conhecido. A pouca água junto ao igualmente pouco areal estava castanha, nada idílico, portanto. Ainda assim, a sua forma geológica é incrivelmente surpreendente, uma pequena dolina que é o resultado de uma gruta cujo tecto há de ter colapsado – daí que seja uma praia interior, escondida nas rochas da falésia junto ao mar, onde a água se junta na maré alta.

Comum a todas estas praias, o muito verde que as envolve e a cor esmeralda do mar à sua beira.

Entramos em Llanes pela sua Avenida de la Concepción, com várias casonas de indianos, já a indicar que esta é uma “villa marinera” desejada. Alia na perfeição o seu passado medieval a um mais moderno e até contemporâneo. Tem um longo passeio marítimo e no molhe do porto está a obra de arte urbana “Los Cubos de la Memoria”, de Agustín Ibarrola. Uns cubos grandes pintados de várias cores e unidos de formas diversas que dão um belo efeito visual ao mesmo tempo que reconstituem a memória de uma povoação que sempre teve o passado virado para o mar. Já foi um porto baleeiro e hoje a zona do porto continua cheia de vida, seja pela sua vertente pesqueira seja de lazer. A marina é cheia de curvas e muito pitoresca.

Há várias praias, sendo a urbana Playa del Sablón a mais acolhedora e onde pouco acima começa a desenvolver-se o Paseo de San Pedro, lugar de inúmeros miradouros naturais.

O centro medieval é feito de várias praças, algumas delas quase um contínuo, como a Plaza Santa Ana (com capela), a Plaza Magdalena (também com capela), a Plaza Parres Sobrino e Plaza San Roque (adivinhe-se? com capela). O Palácio Duque de Estrada está em ruínas, assim como a Casa del Cercáu, mas o Torreão de Llanes, com casino de arquitectura de arte nova ao lado, lá permanece em destaque. Mais imponente é a Basílica de Llanes na bonita Plaza Cristo Rey (afinal ainda havia mais uma praça). De resto, é um prazer caminhar pelas suas duas ruas principais, a Calle Mayor e a Calle Posada Arguelles, aqui descobrindo ora edifícios de arquitectura popular ora outros reveladores da importância dos seus proprietários.

Ribadesella, sede do concelho vizinho, a cerca de 30 quilómetros, é outra “villa marinera” e tem uma implantação geográfica fabulosa. Montanhas dos Picos da Europa nas costas, Mar Cantábrico por diante e a ria como rainha, a tomar o protagonismo para ela.

A escultura “Podium Vencedores do Sella”, à beira do rio, presta homenagem aqueles remadores que usavam – e usam – o Sella por inteiro. E ao atravessar a ponte sobre o estuário percebemos na perfeição a sua geografia e, também nós, o vemos de forma mais inteira. O estuário do rio Sella é um monumento natural de uma beleza sem par.

Do porto, com muitas embarcações pesqueiras e de lazer, tem início o passeio que nos transporta até à Playa de Santa Marina, em forma concha e com a Ermida da Guia no alto de um dos montes. Enquanto na areia um grupo de surfistas em formação se prepara para esperar as ondas, na promenade desfilam casas bonitas e tranquilas donde se assiste de camarote a tamanha serenidade. Do conjunto destaca-se de imediato a Villa Rosário, casona indiana construída em 1914, hoje hotel, símbolo maior do poderio e exotismo trazido pelos regressados da América que aí criaram riqueza.

Voltamos ao centro da vila pelo Paseo del Malecón, onde apesar da urbanização se mantém um sistema dunar e zona alagada rica em espécies e habitats e com diversos postos de observação de aves pelo caminho. Não visitámos a Gruta de Tito Bustillo, mais um precioso centro de arte rupestre na região, e seguimos directamente para a “escalera de colores”, subindo pelos seus alegres e coloridos degraus preenchidos por frases deixadas por quem queira, projecto pensado pelo fotógrafo Jonathan Hevia. Do alto do miradouro de la Cuesta tem-se mais uma excelente panorâmica da bela Ribadesella e, então aí sim, descemos novamente para caminhar pelas suas ruas e praças.

Lastres, já no concelho de Colunga, é mais uma das aldeias costeiras de visita obrigatória. A vista clássica é-nos dada desde o Miradouro San Roque, onde vemos o casario emaranhado disposto em terraços e quase a cair no mar, uma “villa escalonada”, como dizem os espanhóis, e também considerado um dos “pueblos más bonitos de España”.

Claro que, se as casinhas estão dependuradas na encosta sobre o mar, as ruas da povoação também são um sobe e desce constante. Se descemos até à parte baixa onde está a pequena praia desta vila piscatória que outrora se dedicava à caça da baleia, logo teremos de subir à parte alta. Tem um traçado medieval, feito de ruas estreitas e irregulares, bom para nos deixarmos perder, bem sabendo que o casco antigo é pequeno e tem sempre o mar como farol.

A Torre do Relógio remonta ao século 15 e servia de campanário e de torre de vigia sobre o porto de Lastres. Ao seu redor, bem coladas, várias capelas, casonas e palácios, testemunho da riqueza do tempo que já lá vai. A casona de Don Pedro Suerpérez, do século 18, um exemplo do barroco popular, é muito curiosa: tem 3 pisos na parte da frente e apenas 1 na traseira, adaptando-se à inclinação do terreno.

Não muito distante, mas já no concelho de Villaviciosa, está Tazones, outro porto piscatório e outro dos “pueblos más bonitos de España”. Talvez o que mais gostámos de conhecer. Pequeno, com casinhas coloridas de madeira com balcões e com redes de pesca a enfeitar as fachadas, quem não gosta? O caminho até Tazones tem muita vegetação ao longo de rios que correm paralelos à estrada mas mal se veem. Não terá sido certamente a estrada por onde em 1517 seguiu o príncipe Carlos de Habsburgo e sua corte após desembarcarem na enseada de Tazones, primeira vez em terras espanholas vindo da Flandres para tomar posse do reino dos seus avós, os Reis Católicos. Em breve tornar-se-ia Carlos V, o homem mais poderoso do mundo durante primeira metade do século 16. Por isso, a este pequeno porto instalado na bela e aconchegante enseada chamam-lhe “porto imperial”. De tradição pesqueira e baleeira, sempre esteve ligado ao mar, e o lugar do hoje Miradouro das Mulheres era o ponto onde estas se juntavam para esperar os seus homens vindos da faina, bem como os marinheiros para ver se viam algum vestígio de baleias no mar, para saírem em sua captura.

As poucas ruas de pedra, as tais com as casinhas decoradas encaixadas entre montes e sempre perto da enseada, estão igualmente preenchidas com dezenas de restaurantes.

Um pulo grande no mapa rumo a ocidente, passando por mais uma série de grandiosas paisagens onde as rias se juntam ao mar, e chegamos a Cudillero, a mais famosa de todas as aldeias piscatórias das Astúrias e também um dos “pueblos más bonitos de España”. É certamente um dos que mais turistas recebe.

Depois do carro estacionado junto ao generoso porto de pesca, rumamos ao centro da aldeia. A imagem do casario empoleirado nas encostas da estreita frente de mar entre falésias faz lembrar as Cinque Terre italianas. É extremamente pitoresco. Há vários miradouros cimeiros, como de la Estrecha (sobre o porto), o de la Garita-Atalaya (o mais alto, sobre tudo – porto, farol e casario), o de Cimadevilla e o del Pico, sempre com as gaivotas presentes. Já cá em baixo, junto à igreja está o miradouro del Palacion.

As casas coloridas dispostas em anfiteatro são simples, típicas de uma povoação de pescadores que, à semelhança de outras vizinhas, também se dedicava à pesca da baleia e tubarão. A praça central, cheia de esplanadas, é pequena e é aqui que fica a lonja. E Cudillero é ainda característica por os seus habitantes terem a sua própria língua, o pixueto, nome por que eram também conhecidos os seus pescadores.

Não terminamos a jornada sem uma espreitadela à Playa del Silencio, presença constante na lista das praias mais bonitas de Espanha. Selvagem e ao mesmo tempo serena no conjunto das suas falésias e mar, é uma bela imagem para nos despedirmos da costa das Astúrias.

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