Outro lugar onde vamos querer voltar rapidamente em tempos de desconfinamento é a Sintra. Sintra é infinita. Não nos cansamos nunca de a correr porque ela é imensa no que há para descobrir (e já a registámos diversas vezes aqui no blog). Desta vez vamos pelos trilhos da Serra de Sintra desde a Barragem da Mula em direcção aos Capuchos, ainda a aguardar que o “novo” Convento reabra depois dos tempos de restauro, com volta larga até ao ponto inicial.

A Barragem da Mula, ponto de partida para muitos caminhos, retém por momentos a água do Rio da Mula, rio que nasce na Serra de Sintra e que após uns breves 10 kms de curso desagua no Atlântico. Esta barragem envolta pela natureza não está disponível para actividades aquáticas, mas as caminhadas junto a ela servem bem qualquer propósito de evasão.


Seguimos por uma curta subida por entre pinheiros e eucaliptos com a água desta espécie de lago ao nosso lado. E haveremos de a contornar até meio, de forma a melhor observarmos a barragem de outro ângulo.

O fio de água do Rio da Mula é bem estreito, a maior parte das vezes até nem damos por ele, mas as pequenas pontes de madeira sucedem-se. Algumas delas num estado tal que é um convite descarado a meter o pé na poça.


Só que muitas destas pontes até estarão aqui colocadas não para se atravessar algo, mas para tornar o trilho mais atraente e desafiante para o pessoal do BTT. Estes trilhos não são propriamente o lugar ideal para se caminhar confortavelmente apartado do mundo. Porque são difíceis de vencer a pé sem recurso à ajuda de bastões, por exemplo, e porque pode vir de lá lançada uma bicicleta a voar e aterrar mesmo em cima de nós. Mas enfim… fui lá parar não sei como, talvez por falta de sinalização ou por falta de atenção à sinalização, e por aí segui com sorte de não me cruzar assim com tantos radicais da bicla.

A melhor alternativa, embora não tão bonita como o intenso mergulho na floresta de trilhos, é seguir pelo estradão de terra aberto propositadamente para os caminhantes e para os ciclistas menos afoitos.

Mas depois de uns quantos metros pelo estradão com arvoredo de ambos os lados, logo voltamos à imersão na floresta. Uma relativamente extenuante subida num ambiente incrível leva-nos na direcção do Monge. Aqui ficam os Tholos do Monge, um monumento megalítico a 490 metros de altitude. Não há vistas, porém, uma vez que estamos mais uma vez rodeados de vegetação.

As vistas aparecerão mais adiante. Depois de percorremos mais um estradão com os troncos das árvores cobertas de hera, uma nesga deixa-nos vislumbrar a Costa de Sintra, com a forte ondulação a tornar branco o azul da água.



Após uma boa estirada por tapadas, num percurso circular que nos levará de volta ao ponto inicial, subimos até à Pedra Amarela. Aqui sim, as vistas são desimpedidas e soberbas. Para o Atlântico, para a Peninha, para a Pena, para tudo. O ambiente é incrível e as próprias rochas deste alto a 408 metros ajudam ao cenário.
Do Monte da Pedra Amarela até à Barragem da Mula é sempre a descer. Aqui a floresta está neste momento tristonha. Muito terá ardido em incêndios recentes e muitas espécies invasoras ajudaram à desolação. Um exemplo: após o grande incêndio de 1966 na Serra, foram aqui introduzidas espécies exóticas que se expandiram de forma agressiva, sobretudo a acácia, rivalizando e destruindo a vegetação prévia. Nos últimos anos tem estado em andamento um projecto de reflorestação desta parte da Serra de Sintra, para que possamos usufruir da exuberância e equilíbrio pela qual é conhecida. Outro aspecto menos agradável é o barulho intenso e constante produzido pelos carros no autódromo. Não tem piada nenhuma este outro tipo de espécie invasora do ambiente, impossibilitando melodias mais condizentes.

O Parque da Pedra Amarela e seu Campo Base é um parque aventura com muitas actividades, como slide, pista de arborismo, escalada, rappel e orientação, entre outras. Não nos aventurámos em nenhuma delas e subimos antes até à elevação directamente acima da barragem. São as vistas, sempre elas, que nos movem. E aqui nós deixámos ficar a apreciar o esplendor natural da Serra de Sintra, até que, saciados de beleza, iniciámos então a descida dos últimos metros dos cerca de 11 kms deste passeio com início e fim na Barragem da Mula.