Parque Eduardo VII

Nós, lisboetas, habituamo-nos desde sempre a passar pelo Parque Eduardo VII, seja abaixo, girando pela rotunda do Marquês de Pombal, seja ao alto, rindo do “pirilau”, ou num sobe e desce constante por altura da Feira do Livro. Até não nos cansamos de parar frequentemente no Alto do Parque para assistir, vez após vez, à mais poderosa vista de Lisboa debruçada sobre o Tejo. Mas quantos de nós lá vamos somente para passear, fixando demoradamente o olhar na fachada do Pavilhão Carlos Lopes, de um lado, ou admirando a deliciosa entrada da Estufa Fria, do outro?

Inicialmente nomeado Parque da Liberdade, aquele que viria a ser o parque central de Lisboa começou a ser pensado em 1882, depois do fim do Passeio Público em consequência da abertura do boulevard da Avenida da Liberdade. A ideia era prolongar o espaço público, dando uma monumentalidade ainda maior à estátua do Marquês no cimo da Avenida e projectando urbanísticamente uma nova e grande Lisboa. Mas a apresentação e discussão de ideias e projectos prolongou-se por décadas, em 1903 o Parque adoptou o nome por que hoje é conhecido – Parque Eduardo VII de Inglaterra, em homenagem ao rei que havia visitado a cidade no ano anterior – e apenas nos anos 40 se deu, enfim, sequência ao projecto do arquitecto Francisco Keil do Amaral.

O terreno desnivelado foi aproveitado e daqui surgiu a longa alameda central relvada acompanhada por duas alamedas laterais em calçada portuguesa. Nestas alas há espaços para se estar em bancos de jardim, protegidos pelas árvores, e é nelas que se realiza há quase 40 anos a Feira do Livro de Lisboa. E para lá destas alas temos, a oeste, a Estufa Fria e o Lago Grande, bem como um parque infantil e um club, e, a este, o Pavilhão Carlos Lopes e mais um lago com um restaurante. Em ambos os flancos, muito arvoredo e zonas de estar, fazendo do Parque não apenas um lugar monumental, mas também um verdadeiro espaço verde de recreio.

No topo do Parque temos o miradouro que nos dá a tal vista poderosa que mostra toda a Baixa de Lisboa, o rio Tejo e a margem sul. Apesar da vista ser uma daquelas que tudo distrai, não há forma de não perceber as enormes colunatas imperiais que se estendem rumo ao céu, símbolo característico do Parque. Foi entre estas colunatas do Estado Novo que, em 1997, foi inaugurado o monumento ao 25 de Abril, obra de João Cutileiro que muita polémica criou pela forma fálica da sua escultura, carinhosamente apodada de “pirilau”. A forma desta escultura em mármore é, precisamente, uma homenagem à virilidade da Revolução e à coragem dos capitães de Abril.

Descemos rumo aos jardins da Estufa Fria, sob o cacarejar das galinhas, e a sua recepção é incrível. O Lago Grande é belíssimo, com uma ilha e estatutária vária por onde nadam patos e carpas. A Estufa Fria foi criada na primeira década do século XX, ou seja, antes mesmo da execução do Parque, e aqui se conservam e podem conhecer diversas espécies botânicas, vindas de todo os lados do mundo, incluindo as da estufa quente, para plantas (e aves) tropicais, e as da estufa doce, para plantas carnudas. Aqui se realizam também eventos culturais no pequeno teatro do conjunto. Visitando a Estufa seguimos por trilhos que nos levam por plantas exóticas, riachos, grutas e cascatas, todo um cenário riquíssimo e luxuriante naquele que já foi considerado como um dos lugares mais aprazíveis da cidade. E é o mesmo.

No lado contrário do Parque o elemento que mais se destaca é o do edifício do Pavilhão Carlos Lopes (renomeado após a conquista da primeira medalha de ouro em Jogos Olímpicos por Carlos Lopes, em 1984, na maratona), destinado a eventos desportivos e culturais. Originalmente construído para ser o Pavilhão das Indústrias Portuguesas durante a Exposição Internacional do Rio de Janeiro, em 1922, foi desmontado e transportado de volta para Portugal para ser reconstruído no Parque entre 1929-1931. Toma um gosto revivalista com inspiração no decorativismo barroco joanino e a sua fachada profusamente decorada – estátuas e brasão – é ainda revestida de painéis de azulejos, em azul e branco, da Fábrica de Sacavém, com a representação de canas da história de Portugal.

Subindo o Parque de volta ao miradouro monumental passamos ainda por mais um lago, estátuas e zonas de relva com sombras que são um autêntico convite para um momento de descanso. Quem sabe se não para uma leitura de uma das obras adquiridas numa das muitas Feiras do Livro que se celebram ali mesmo ao pé.

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