Para além da natureza e poder cénico, a Arrábida é ainda lugar de diversos castelos e fortalezas, a atestar a sua enorme diversidade e importância estratégica e cultural.

Cada um dos três concelhos integrados nos limites do Parque Natural da Arrábida – Sesimbra, Palmela e Setúbal – possui o seu castelo / fortaleza, de cujas muralhas, à falta de inimigos para afugentar, se obtém hoje panorâmicas lindíssimas.



O Castelo de Sesimbra, no alto de um monte à entrada da vila, pode ser avistado de muitos pontos e em todos eles impressiona o contorno da muralha por entre a vegetação que cobre o dito monte. Já junto a ele, vemos que possui duas portas – a Porta do Sol e a Porta da Azoia – e para lá delas uma alcáçova, uma torre de menagem e uma torre de vigia com a tal muralha à volta. É possível caminhar pelo adarve para vistas mais altaneiras.



O castelo primitivo terá sido construído pelos mouros no século IX e os portugueses, guiados por D. Afonso Henriques, tomaram-lhes Sesimbra e o castelo em 1165. Após uma incursão moura no final do século XII, o castelo ficou totalmente destruído e só após a sua reconquista por D. Sancho I, com a ajuda dos cruzados francos, e posterior doação das terras à Ordem de Santiago, em 1236, foi o castelo reedificado. Evoluiu de um castelo românico para um castelo gótico e até ao século XVI a povoação estava intramuros. Foi a partir desta data que a população começou a deixar o castelo e a descer até à beira mar, no que hoje conhecemos como vila de Sesimbra, atraída pela indústria da pesca e construção naval. O castelo entrou, então, em ruína pelo abandono e, mais tarde, por ataques de piratas. Foi D. João IV quem, por volta de 1640 mandou reforçar a muralha, com a construção de baluartes. Mas o Terramoto de 1755 trouxe nova destruição e ruína, situação que se manteve durante muito tempo, apesar de continuar a visita à Igreja de Santa Maria do Castelo (a igreja é antiga, a primeira de Sesimbra, mas o que vemos hoje é o resultado de alterações do século XVII / XVIII). A recuperação do Castelo de Sesimbra é, pois, uma obra relativamente recente, já de iniciativa do Estado Novo, em meados do século XX, à semelhança do que aconteceu com outros castelos pelo país afora. Não obstante, é um prazer visitá-lo e qualquer amante de castelos consegue fazer desta visita um passeio pela história medieval.

Em plena baía de Sesimbra, na promenade que se desenvolve paralela ao Atlântico, encontramos a Fortaleza de Santiago. Esta estrutura militar, datada de 1648, veio substituir uma outra, da época manuelina, instalada no mesmo lugar. A sua função era a de defesa da costa. Com uma planta poligonal, estrelada, com 2 baluartes mais altos e 2 mais baixos, mais tarde funcionou como residência do governador e como palácio de veraneio da família real. Foi abandonada para fins militares em meados do século XIX e esteve cedida à Alfândega. Desde 2014 reabriu, após obras de restauro, e é hoje um espaço museológico onde se efectua o enquadramento histórico do lugar e acolhe exposições, espectáculos e recepções.

Perto do Cabo Espichel fica aquela que é considerada a primeira estrutura defensiva da costa da Arrábida, o Forte da Baralha, construído no século XVII. Empoleirado na escarpa e mesmo junto ao mar, apesar do estado de ruína avançado dá para ver a sua incrível localização, isolado na companhia do idílico azul da água.


A implantação do Castelo de Palmela é muito bonita, no alto de uma escarpa natural ao lado da Serra do Louro, sobranceira ao centro histórico da povoação. De traçado rectangular e com um longo pano de muralhas pontuado por baluartes e torres, o castelo tem no seu interior um convento, transformado em unidade hoteleira integrada na rede Pousadas de Portugal, e a Igreja de Santiago e as ruínas da Igreja de Santa Maria.



Vestígios cerâmicos encontrados em escavações arqueológicas no perímetro do Castelo permitem traçar a ocupação romana do lugar, o qual foi igualmente ocupado pelos mouros entre os séculos VIII a XII, altura em que foi conquistado por D. Afonso Henriques, em 1147. À semelhança do que aconteceu com Sesimbra, a região foi doada à Ordem de Santiago – e a Ordem chegou a ter em Palmela a sua sede – e, mais tarde, Palmela foi elevada a vila por D. Dinis, em 1323. A construção da Torre de Menagem começou neste reinado e a construção da Igreja de Santiago e do Convento é posterior, já século XV. Foi no século seguinte que o castelo viu ser-lhe acrescentada a cintura abaluartada de muralhas e a partir de 1834, com a extinção das ordens religiosas, os frades abandonaram o convento e a casa dos priores passou a residência do comandante da praça militar. É um misto de ambiente de castelo e de fortaleza que hoje se sente ao visitar o Castelo de Palmela, o qual, para além da referida pousada, tem no seu interior um restaurante e algumas lojas.

Da mesma forma, o Forte de São Filipe, em Setúbal, tem um quê de castelo mas é na verdade uma fortaleza. Mais uma vez, foi construído num lugar elevado, neste caso fora do centro da cidade, embora não muito longe, por cima de Albarquel. Do século XVI, a sua função era a de servir como reforço da defesa do porto de Setúbal em complemento ao Forte do Outão. A sua planta é irregular, adaptada à morfologia do terreno, e possui fosso e seis baluartes e guaritas. As antigas casamatas e o alojamento do governador foram adaptados a Pousada de Portugal, entretanto encerrada em 2014, e o seu interior possui um restaurante.


Entramos pela porta fortificada e uma rampa transporta-nos até à parte superior da fortaleza. No caminho visitamos a Capela de São Filipe, de interior totalmente revestido a azulejos de cor azul e branco, com iconografia da vida daquele santo.


As vistas desde o Forte são grandiosas, vendo-se em várias miradas desde a cidade de Setúbal, a barra do Sado, Tróia e a Arrábida. Ou seja, uma vista que junta a urbanidade, o mar e a serra, não faltando sequer umas pitadas de ruralidade dadas pelos vários moinhos de vento nas imediações.



O Forte Velho do Outão é um forte com muralha com ameias de ambiente medieval construído sobre plataforma de baluarte. Com dois pisos ligados por lanços de escadas, o seu estado de conservação não é muito bom e a sua fachada e o interior estão graffitados. Junto a ele desenvolve-se a Bateria do Outão, construção militar que segue conceitos modernistas, com destaque para o uso do ferro em combinação com o betão armado, bem como outras estruturas de apoio. Parte do sistema defensivo de Setúbal e posto de observação de excelência, previamente à construção do Forte do Outão, entre 1649-1655, terá aqui existido uma torre de vigia. A Bateria é do início do século XX e foi desactivada apenas em 1992.

Mais abaixo, junto ao Sado, fica o Forte de Santiago do Outão, que inclui também o Farol do Outão e hoje o Hospital Ortopédico do Outão. É uma fortaleza marítima com baluartes – e até uma capela – que fazia parte da defesa da barra. A sua torre de vigilância medieval, construída em 1390, é uma das mais antigas fortificações marítimas portuguesas, tendo a cerca abaluartada que a rodeia sido construída mais tarde, no século XVI. Imediatamente sobre o mar, o farol foi instalado em 1880 sobre um dos baluartes e é uma torre branca com lanterna metálica vermelha na parte superior. Chegou a servir de prisão, antes do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia fazerem do lugar residência de veraneio, e em 1900 o edifício foi adaptado a sanatório, com a construção dos edifícios hospitalares no lugar das antigas casamatas.

Mais adiante, a caminho do centro de Setúbal, surge o Forte de Albarquel, igualmente junto à barra do Sado. Seiscentista, da época da Restauração, é em estilo chão vernacular, uma construção simples e de grande racionalidade integrada na nova estratégia de construção de linhas de defesa nas barras do Tejo e do Sado e, neste caso em particular, para reforço do poder de fogo da Fortaleza de São Filipe, mais acima no terreno. Durante todo o século XX houve pedidos, não concretizados, de transformação do forte em pousada, museu, moradia, farolim ou instalação desportiva. Até que, após cedência à Câmara Municipal de Setúbal em 2015, a que se seguiram obras de recuperação e requalificação, com encargos repartidos entre a autarquia e a filantropa britânica Helen Hamlyn, desde 2021 o Forte tem servido de centro cultural e educativo.


E, por último (embora existam mais fortes na região), o Forte de Santa Maria da Arrábida, no Portinho da Arrábida. Mais uma vez, a sua implantação geográfica é grandiosa, à entrada da baía do Portinho, aberto à serra da Arrábida e virado ao oceano Atlântico. Parte do conjunto de fortalezas seiscentistas de defesa e vigilância da costa portuguesa que se estendiam desde Setúbal ao Forte da Baralha, junto ao cabo Espichel, foi construído em 1670 e terá servido também como óbice ao desembarque de piratas que visavam o assalto ao Convento da Arrábida, mais acima na serra. Findas as funções militares, foi restaurante e estalagem e desde 1991 é Museu Oceanográfico. A entrada é efectuada por um portal encimado por pedra de armas com inscrição onde se conta ter sido D. Pedro quem mandou construir o forte, com data de conclusão de 1676. No lado contrário deste portal, um nicho com imagem da Virgem Maria abre-se para o pátio do forte, uma esplanada para o Atlântico.