Around the World in 80 pages – Elvis e a sua bola portuguesa

A Navigator, a empresa portuguesa de papel, abriu em 2017 a sua terceira edição do concurso “Around the World in 80 pages”. E o livro de mesmo título com as histórias dos 8 vencedores e dos 72 finalistas foi publicado durante este ano de 2018.

São 80 histórias sobre experiências de viagem relatadas por participantes de todos os lados do globo que lhes mudaram a vida ou, pelo menos, os surpreenderam de forma a recordarem esses momentos ao longo das suas vidas.

Uma dessas finalistas é a Sofia, co-autora deste blogue, a mana mais nova que acreditou que tinha uma boa história para apresentar a este concurso. Essa história havia já sido contada aqui, mas foi agora adaptada e escrita em inglês para caber neste livrinho bonito cheio de histórias, fotos e ilustrações. Aqui fica a tradução:

Elvis e a sua bola portuguesa

3827 metros acima do nível do mar. Esta é a altitude onde Puno está, uma cidade no sul do Peru, a meio caminho entre La Paz, capital da Bolívia, e Cuzco.

Com vista para o mítico Lago Titicaca, o mais alto corpo de água navegável no mundo, é de Puno donde podemos apanhar um barco até às curiosas e excêntricas ilhas flutuantes de Uros.

Foi de uma cabine telefónica nesta cidade peruana que, num tempo sem gadgets electrónicos e conexões wi-fi, eu e a minha irmã fizemos o clássico telefonema para casa para dar notícias, depois de muitos quilómetros de caminhadas pelas montanhas e poeira acumulada. Enquanto contávamos as nossas últimas aventuras, um rapaz de 12 anos aproximou-se e pediu insistentemente à minha irmã para engraxar as suas botas. Este calçado estava sujo demais e carregava camadas e mais camadas de histórias das nossas viagens pelo solo castanho dos Andes e o sal branco de Uyuni. Diversas vezes tínhamos já sido abordadas pelos rapazes engraxadores, o que é muito comum pela Bolívia e Peru, mas sempre recusáramos os seus serviços. Desta vez a minha irmã aceitou, enquanto ouvia a minha conversa com a nossa mãe. A minha irmã perguntou a Elvis – este o nome do rapaz, apesar de ele nada saber do Rei do Rock and Roll – quanto seria o serviço. Ele respondeu que o preço ficaria ao nosso critério. Momentos depois perguntou-nos se gostávamos de futebol (jackpot!) e contou-nos que a sua bola estava furada, pelo que adoraria se nos lhe pudéssemos comprar uma outra numa “tienda” umas “calles” adiante. Aceitámos. Na loja, vimos várias “pelotas”. Perguntámos-lhe qual queria. Humildemente, deixou a escolha connosco. De repente, houve uma bola que captou a minha atenção: uma vermelha, com o símbolo da nossa federação de futebol e com o nome do nosso país, Portugal.

Obviamente, foi esta a bola que o nosso pequeno “peruanito” recebeu, para que pudesse não esquecer estas raparigas portuguesas. Os craques portugueses do futebol, Figo e Cristiano Ronaldo – este último naquele tempo em início de carreira – eram nada para Elvis. Surpreendentemente, o futebol, já naquela época um dos grandes exemplos da globalização, não tinha toda essa dimensão naquela parte da América do Sul. Apenas jogar à bola nas ruas importava para Elvis e seus amigos. Depois destes anos todos, Elvis será um homem. Espero que ele se tenha divertido a valer na sua juventude e que na sua memória a bola oferecida por estas irmãs portuguesas lhe tenha servido para muitos jogos de futebol a rock’n’rollar.

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