No que respeita à arte contemporânea, duas sugestões em dois espaços improváveis.
O primeiro, o Hamburger Bahnhof, Museum für Gegenwart. Arte contemporânea internacional apresentada numa antiga estação de comboios.
Esta estação foi construída em meados do século XIX e ligava Berlim a Hamburgo. Tornou-se obsoleta para as suas funções originais logo em 1884, foi transformada em museu do transporte, mas a separação de Berlim no pós-guerra acabou por deixá-la em terra de ninguém e foi sendo abandonada. Na tentativa de manter um uso a este edifício de fachada neoclássica que serviu de modelo para as estações alemãs que se lhe seguiram, em 1996 abriu com a sua nova face, um dos maiores e mais importantes centros de arte contemporânea do mundo. O seu hall histórico de entrada foi preservado e adaptado para receber instalações temporárias de grande porte. Os armazéns nas traseiras do edifício principal da estação foram renovados pelo arquitecto Josef Paul Kleihues e ligados a este por uma passagem moderna por fora, mas que remete para um design retro no seu interior.
A colecção permanente deste museu inclui obras de artistas como Joseph Beuys, Robert Rauschenberg e Andy Warhol. A obra Mao de Warhol faz parte da colecção deste museu, mas infelizmente para mim não estava em apresentação por altura da minha visita. Estavam outras, daquele género de arte moderna e contemporânea que me faz abrir um largo sorriso.
O segundo, o Sammlung Boros, arte ultra-contemporânea instalada num bunker da II Grande Guerra Mundial. As visitas a esta colecção privada são obrigatoriamente guiadas e em grupos de apenas 15 pessoas, pelo que se impõe uma marcação prévia e com antecedência. Este edifício é também conhecido como M2000 (M de menschen, que significa pessoas), pois foi construído para permitir o acolhimento de 2000 pessoas. No final da Guerra a sua localização caiu no sector soviético e o Exército Vermelho chegou a utilizar o bunker como prisão. No entanto, logo se transformou num armazém de frutas e vegetais e as bananas da América Latina eram muito procuradas. O espaço tornou-se conhecido como o “Banana Bunker” e na fachada podemos ver hoje um graffiti a atestar essa sua antiga faceta.
A versatilidade do bunker continuou após a reunificação alemã e os anos 90 trouxeram também para aqui a desbunda total. Mais de uma vintena de festas chegaram a decorrer ao mesmo tempo nas inúmeras salas do bunker, maioritariamente festas de techno e de sexo, o que levou este espaço a ser conhecido como o “clube mais pesado do mundo”. A loucura terminou com a decisão das autoridades de encerrar o edifício pela sua manifesta falta de condições de salubridade. Até que o novo milénio chegou e a enésima vida do bunker aí está. Em 2003 Christian Boros comprou o edifício e renovou-o, abrindo as portas para a primeira exposição em 2008. Cada exposição fica patente por apenas 3 ou 4 anos e a actual é a terceira em exibição no novo Sammlung Boros.
O bunker é um verdadeiro labirinto e, por isso, à entrada é nos oferecido um cartão de visita com um género de mapa do edifício para o caso de nos perdermos. O que não acontecerá, uma vez que andamos sempre no grupo. Pelas várias divisões do bunker vamos vendo desfilar a arte de artistas contemporâneos consagrados e novos. A arte “estranha”, como caixas de ovos douradas ou asfalto espalhado em montinhos a fazer lembrar outra coisa que também é negra e também costuma ser deixada imprevistamente pelo chão, é o que nos espera. Depois de conhecer o Sammlung Boros dificilmente terei a experiência de apreciar este género de arte num local tão certeiro. As salas do bunker não eram extremamente pequenas e algumas foram abertas quer na horizontal quer na vertical, criando-se mezanines que permitem ver as obras de um ponto de vista elevado. Mas também interessante é perceber as fendas e as marcas intemporais de pastilha elástica no chão, testemunho das vibrantes festas dos anos 90. As paredes do bunker são espessas e de betão puro e duro, certamente inexpugnáveis.