Giverny e um passeio pelo Sena

A uma hora de Paris, entramos na Normandia por Giverny, um autêntico jardim. No vale do rio Sena e do rio Epte, o verde domina a paisagem. No entanto, é pela Fundação Claude Monet, casa e jardins, que viemos até esta pequena aldeia.

O lugar onde Claude Monet escolheu viver e onde acabou por pintar grande parte da sua obra, é o ideal para os amantes do impressionismo e não só. Aqui deliciamo-nos com a natureza e com as obras que nela buscaram inspiração. A Fundação abre as suas portas apenas de Abril a Outubro e lá percebemos que não podia ser de outra forma. É neste período que as flores desabrocham e as composições florais – tulipas, glicínias, narcisos – se mostram em diversas cores, cada uma mais bonita do que a outra, espalhadas pelo jardim que adorna a casa. Nesta visitamos as várias divisões, todas com muitos e variados motivos de interesse, desde o atelier de Monet até à sala de estar e cozinha. São muitas as obras expostas, de Monet e de outros artistas, incluindo uma larga e bela colecção da arte japonesa Ukiyo-e (de que Monet era fã), bem como mobiliário.

Do outro lado da casa e jardim, atravessando um pequeno túnel vamos dar aos jardins de água com o famoso lago com ponte japonesa e nenúfares, tudo criação de Monet. No início da Primavera os nenúfares estão ausentes, mas tudo o mais chega para deliciar. Caminhos protegidos por bambu, muita vegetação e flores e correspondentes reflexos na água é o que nos aguarda. O curioso, e aquilo que o define em grande parte, é que pese embora a explosão de cores testemunhada, no impressionismo a paleta de cores é limitada, mas expressa na perfeição a realidade.

Lugar por excelência dos impressionistas, já se disse, em Giverny encontramos ainda o Museu dos Impressionismos. Por altura da nossa visita estava patente uma exposição que colocava lado a lado, em diálogo, obras de Monet e Rothko. 6 pinturas de cada um dos artistas chegam para fazer desta uma brilhante exposição, convidando-nos a contemplá-las e mostrando-nos como se pode encontrar paralelos nas pinturas de um impressionista e de um pintor abstracto. Por exemplo, e conforme nos sugere o catálogo da exposição, os rectângulos e linhas de Rothko fazem a vez da ponte japonesa entre dois espelhos de água e céu. E ambos os artistas acabam por usar uma paleta limitada.

Este Museu dos Impressionistas vale a visita também quer pela sua arquitectura quer pelos seus jardins, tendo o arquitecto Philippe Robert e o paisagista Mark Rudkin criado um espaço que coabita em perfeita harmonia com a aldeia e o monte que lhe serve de companhia.

Caminhando pela bonita rua da aldeia havemos de ir dar à igreja de Sainte-Radegonde, a qual tem origem no século XI-XII e em cujo cemitério está a sepultura de Claude Monet – o artista viveu em Giverny desde 1883 até 1926, data da sua morte.

Vernon, vila vizinha a menos de 5 kms de distância, é igualmente lugar por onde o Sena passeia pacatamente enquanto a igreja Collegiale Notre Dame procura passar despercebida. Sem o conseguir, todavia. Fundada na época romana, é uma das mais antigas da Normandia. A fachada combina o gótico radiante na base e o gótico flamejante na parte superior. É enorme e custa a crer como se consegue encaixar tão serenamente entre os edifícios que a rodeiam, incluindo umas casas de madeira algo inclinadas. No interior tivemos o primeiro contacto com os incríveis vitrais que caracterizam as igrejas desta região francesa.

Do outro lado do Sena, em Vernonnet, fica o Chateau des Tourelles, uma fortaleza construída para proteger a entrada na ponte medieval da margem direita do rio. Uma das torres do castelo foi destruída pelos ataques aliados durante a II Grande Guerra Mundial e, entretanto, reconstruída. Antes, aí se guardava o trigo. E para atestar da ruralidade da povoação, eis o moinho de maré sobre as colunas da velha ponte medieval, um dos poucos exemplares que chegaram aos nossos dias e que é hoje propriedade da vila de Vernon. Junto a ele, um aprazível parque verde. E, para provar que os artistas não se quedaram por Giverny, eis Pierre Bonard, o pintor que teve casa em Vernonnet e que tanto gostava de pintar o vale do Sena.

A próxima paragem para admirar o segundo maior rio de França antes de chegarmos a Rouen deu-se em Les Andelys. E que belo pedaço de Sena este que nos oferece o miradouro da colina vizinha ao Chateau Gaillard: nos meandros de Andelys o rio forma duas curvas engalanadas não apenas pelo castelo, mas também pelo casario de Le Petite Le Andely e pelas falésias de calcário branco quase por inteiro cobertas de vegetação. É um cenário admirável, soberbamente delicado.

Cenário idêntico obtém-se desde o Chateau Gaillard, instalado no alto de um promontório. Foi mandado construir por Ricardo Coração de Leão, em 1196, e, depois de abandonado, destruir por Henrique IV, em 1603. Frades capuchinhos chegaram a tirar daqui pedra para a construção do seu convento, e embora esteja hoje em ruína preserva muito do seu poder e imponência. Na época, no final do século XII, na parte leste da Normandia eram recorrentes os confrontos entre o rei de França, Philip Augustus, e o rei de Inglaterra e Duque da Normandia, Ricardo Coração de Leão. O rio Sena constituía uma autêntica estrada até Rouen e ambos haviam acordado que a zona de Andelys não seria fortificada, uma vez que servia de fronteira entre o ducado da Normandia e o condado francês de Vexin. Mas, mesmo assim, Ricardo decidiu construir aqui a dita fortificação, não apenas para protecção do limite ocidental inglês e de Rouen, mas também para cobrar portagem no Sena, logo abaixo. Palco de diversos ataques, após a incorporação da Normandia no reino de França o Chateau Gaillard perdeu grande parte da sua importância estratégica e acabou por entrar em declínio. Resta – e não é pouco, repita-se – o seu simbolismo e localização fantástica, dois elementos sempre presentes em quase qualquer canto da Normandia.

One Comment Add yours

  1. rimbaud70 diz:

    Está narrativa sobre os encantos de Governy e arredores inspirou-me para uma visita da próxima vez que estiver em Paris.

    De Douville guardo boas memórias das viagens que fiz entre Paris e está Vila para matar saudades da praia e dos banhos de mar em àgua muito fria. Mas a aventura compensava.

    Gostar

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