Normandia

A Normandia é uma região mítica. Ricardo Coração de Leão, Guilherme O Conquistador e Joana d’ Arc são seus personagens históricos e muitos séculos depois ainda preenchem o nosso imaginário. Terra de celtas, vikings – normandos era como os franceses designavam os povos do norte da Europa, tendo a palavra norsemen passado a normands – e piratas, durante a Idade Média foi disputada por franceses e ingleses, separados pelo Canal da Mancha, no mais longo conflito em território europeu, a designada Guerra dos 100 Anos (1337–1453). Já definitivamente francesa, no século XX foi palco de um momento da história contemporânea que continua a impressionar e emocionar, o Dia D com o desembarque das tropas aliadas ao longo de muitos quilómetros da sua tranquila costa.

É dona de falésias brancas e areais imensos, do Rio Sena e do Monte Saint Michel, de cidades de arquitectura medieval e cidades de arquitectura modernista, de jardins e castelos, de queijo (foi aqui que nasceu o Camembert), manteiga e cidra e, sobretudo, de uma luz tão tocante que atraiu – e atrai – escritores e pintores.

Este é o melhor lugar para nos deliciarmos com as pinturas impressionistas e o nosso itinerário teve início, precisamente, em Giverny. Porta de entrada na Normandia para quem vem de Paris, esta aldeia foi escolhida por Claude Monet para viver e nela visitamos a Fundação Monet, sua casa e jardins floridos e coloridos. Banhada pelo Rio Sena, daqui seguimos em direcção à vizinha Vernon e, mais adiante, voltamos a encontrá-lo na curva de Les Andelys, pitoresca povoação com a ruína do Chateau Gaillard instalado no alto da encosta. É aqui que tomamos um primeiro contacto com as falésias brancas, ainda que interiores, da região.

Uma visita sem pressas a Rouen, a capital da Normandia, faz-nos viajar à época medieval e, enquanto passeamos por ruas estreitas preenchidas com edifícios coloridos de arquitectura pans-de-bois (com vigas de madeira horizontais, verticais ou inclinadas), sempre com uma catedral gótica à espreita, recordamos que foi aqui, nesta cidade, que em 1431 uma mulher foi queimada na fogueira acusada de heresia e feitiçaria.

Da cidade para a praia não nos tomou mais do que uma hora para ganharmos um dos visuais costeiros mais incríveis que se pode obter: elegantes falésias brancas com sucessivos arcos a lembrar trombas de elefantes a banharem uma água de um azul límpido e penetrante. Isto é Europa não mediterrânea. A Costa de Alabastro, cerca de 130 kms entre estuários dos rios Sena (Seine) e Soma (Somme), sabe-mo-lo agora que merece ser percorrida de bicicleta ou a caminhar. O tempo, esse grande escultor, ao mesmo tempo que molda paisagens impele-nos a movimentar e a conhecer mais, sempre mais. E Le Havre, uma das cidades mártir francesas durante a II Grande Guerra Mundial, é uma enorme surpresa, principalmente para os amantes de urbanismo e arquitectura.

Cidade portuária, aqui foram traçadas enormes e largas avenidas e arquitectos de renome deixaram a sua marca e transformaram algumas das suas obras em autênticos ícones, como Óscar Niemeyer e o seu Vulcão.

Não muito distante, mas já do outro lado do Sena, o trio Honfleur, Trouville e Deauville traz-nos um dos portos mais pitorescos da região e dois balneários de veraneio onde os parisienses chiques gostam de vir. Imperdível saborear as ostras de Trouville.

Apesar de não termos seguido Normandia interior afora, a presença do campo é uma constante, com muito verde e amarelo durante a Primavera, com a colza em flor. Assim como as vacas, outro tema que não escapou aos impressionistas. A arquitectura das casas também desperta a atenção, sobretudo pelos seus telhados a cair sobre telhados, alguns deles cobertos de colmo. E, claro, a cada momento pode surgir um chateau, pelo que há que estar bem desperto durante toda a viagem.

Caen, outra das cidades mártir, é mais uma boa surpresa, uma cidade vivida lugar de um castelo e duas majestosas abadias, uma para os homens e outra para as mulheres. E é o ponto de partida para uma muito emocional viagem pelas Praias do Dia D que, infelizmente, ganharam novo sentido nos tempos de hoje. Por aqui é ainda obrigatório um desvio a Bayeux para apreciar minuciosamente uma obra-prima na forma de tapeçaria que é uma crónica da conquista da Inglaterra pelos normandos, em 1066, então guiados por Guilherme, o Conquistador.

E, para terminar este roteiro pela Normandia, nada como fechá-la no Monte Saint Michel, já na fronteira com a Bretanha. A ilha rochedo é lugar de uma abadia fortaleza e é destino sonhado por muitos viajantes, e não apenas peregrinos. É o sítio mais visitado de França fora de Paris e basta um entardecer ou amanhecer diante dele para percebermos porquê.

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