Freixo de Espada à Cinta

Freixo de Espada à Cinta é um concelho português transmontano onde o Douro deixa uma impressiva marca na paisagem. A ondulante Congida e o escarpado Penedo Durão são dois lugares que facilmente entram numa qualquer lista dos mais fantásticos do nosso país. Mas é pela vila de Freixo que andaremos nas linhas seguintes, considerada a vila mais manuelina de Portugal.

O povoamento na região é muito antigo, pré-histórico mesmo, como testemunhamos pela gravura rupestre na vizinha Mazouco, e a própria Freixo será anterior à fundação do Reino. O seu nome desperta curiosidade e, claro, não falta uma lenda que o procura explicar: D. Dinis andou por lá, renovou-lhe o foral e descansou junto a um freixo onde amarrou a sua espada. A recriação deste pretenso acto vê-se no largo entre a Torre do Galo e a Igreja, os dois elementos arquitectónicos mais monumentais de Freixo.

A Torre do Galo é o que resta do antigo castelo, provavelmente do tempo dos mouros ou, há até quem o defenda, dos romanos. Talvez tenha sido torre de menagem e continua uma elegante torre heptagonal com sino e relógio. Muitas mais torres e uma longa e alta muralha lhe hão-de ter feito companhia, mas à semelhança do que aconteceu com outras povoações onde a defesa militar deixou de ser estratégica, o avançar dos anos de relativa paz fez com que a pedra neles usada passasse a servir para a construção de novas habitações.

De qualquer forma, o centro histórico de Freixo preserva ainda diversos elementos que mantém viva a memória dos seus tempos áureos, sobretudo no século XVI. O castelo, representante do poder militar, sim, mas também a igreja matriz, a casa da câmara, a alfândega e outras igrejas como a da Misericórdia, representando cada uma delas os demais poderes, religioso, civil, financeiro e das confrarias.

A construção da Igreja Matriz, também conhecida como Igreja de São Miguel, foi iniciada no século XIII mas só concluída no século XVII. Não admira, pois, a sobreposição de estilos como o românico, o gótico, o renascentista e o manuelino. Esta igreja é um dos raros exemplos da arte manuelina no norte do país, com destaque para os seus belos portais frontal e laterais, o primeiro ornamentado com flores de amendoeira.

Este largo central possui ainda uma estátua de Jorge Álvares, o capitão do Extremo Oriente detentor da proeza histórica de ter sido o primeiro europeu no Japão.

E Freixo de Espada à Cinta é ainda a terra natal de Guerra Junqueiro, o escritor que quando perguntado onde gostaria de nascer respondeu que no céu ou então no Freixo.

Saindo do coração do centro histórico da vila passamos a caminhar mais abaixo e por ruas muito estreitas, mas não dizemos adeus ao manuelino. Amiúde vamos vendo desfilar uma série de edifícios com portais e janelas quinhentistas com pormenores decorativos que nos remetem para aquele estilo, como troncos entrelaçados, esferas armilares e elementos naturalistas. São cerca de uma centena os exemplos inventariados. A explicação para este gosto deve-se ao facto de os construtores das casas de então terem escolhido adoptar elementos da arte usada pelo poder régio e religioso para as habitações do cidadão comum.

Outro dos exemplos de uma época pujante que já lá vai é a da presença da sericultura na vila. O desenvolvimento que alcançou nos séculos XV e XVI esteve em parte ligado à chegada de muitos espanhóis judeus que, face ao crescimento da população, acabaram por trazer para Freixo a arte da seda. No século XVIII havia aqui 16 fábricas de seda e Freixo é ainda hoje considerada o último reduto da seda artesanal na Europa. O Museu da Seda e do Território, instalado na antiga casa da cadeia, dá-nos a conhecer a história desta tradição artesanal ancestral, ainda mantida por duas tecedeiras no local.

Fora do centro, na saída sul da N221, surge assim como que de repente a Igreja do Convento de São Filipe Nery. Esta é uma harmoniosa igreja oratoriana de arquitectura chã e barroca instalada no alto de uma pequena escadaria, construída sobre uma outra igreja no século XVII. Uma despedida em beleza de Freixo de Espada à Cinta.

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