Miranda do Douro está situada no alto da arriba na margem direita do rio Douro, de frente para Espanha, e tem o rio Fresno nas costas. Beleza natural não lhe falta e um rico património material e imaterial juntam-se-lhe para fazer desta uma das cidades mais bonitas e encantadoras de Portugal.

Capital da Terra de Miranda, a cidade fronteiriça tem raízes muito antigas, talvez da Idade do Bronze, e foi mais tarde ocupada por romanos, visigodos e mouros, até D. Afonso Henriques lhe conceder carta de foro em 1136, ainda na época do Condado Portucalense. À semelhança da origem do seu povoamento, também não se sabe com certeza donde vem o seu nome: talvez seja uma derivação do nome dado pelos mouros, Mir-Hândul, ou talvez seja antes uma derivação da palavra latina miror, de significado “olhar de frente”, neste caso para a outra margem do Douro. Elevada a vila em 1286, por D. Dinis, que reforçou o castelo e muralha existentes, mais tarde, em 1545, foi escolhida para sede do bispado de Trás-os-Montes e tornada cidade. Era então a mais importante urbe da região e vivia o seu tempo mais próspero e áureo e, embora tenha sido diversas vezes assolada por ataques castelhanos, em 1760 a Guerra dos Sete Anos trouxe muita destruição, incluindo habitações, o Paço Episcopal e o Castelo, restando hoje deste a Torre de Menagem em ruína. Miranda perdeu importância e a diocese foi para Bragança. Nos anos 1956-60 a construção da Central Hidroeléctrica das barragens de Miranda e Picote parecia vir trazer algum desenvolvimento, mas o crescimento da população acabou por não durar muito, perdido para a emigração por conta da busca de melhores condições de vida e também do isolamento de Miranda. Não obstante, há que salientar o equilíbrio e a harmonia do centro histórico ainda de traça medieval, bem preservado e com ruas e edifícios com 500 anos de história. Não espanta que seja das povoações mais visitadas da região, inundada sobretudo por espanhóis que para aqui vêm em busca das suas riquezas e de compras.


Entramos em Miranda pela porta localizada a sudeste, sobranceira ao Douro, onde no longo pano de muralha logo sobressaem as torres da Concatedral. Nas traseiras da antiga Sé ficam as ruínas do Paço Episcopal, edifício do século XVII e destruído no século seguinte, e seu jardim.


A Concatedral é o maior edifício religioso de Trás-os-Montes e durante dois séculos teve a categoria de sé. Com duas torres sineiras, a fachada é austera mas harmoniosa e a sua construção começou em 1552 mas prolongou-se até 1620. Maneirista e barroca, o seu interior tem uma série de capelas com retábulos super trabalhados e decorados, incluindo o do altar principal e o órgão do coro alto. Uma das maiores atracções é o altar do Menino Jesus da Cartolinha: conta-nos a lenda que durante um ataque castelhano levado a cabo no início do século XVIII apareceu em Miranda um menino vestido de fidalgo a dar força aos locais e incentivando-os a reagir e lutar; a vitória mirandesa acabou por acontecer e logo os locais a atribuíram a um milagre do Menino Jesus.

O Largo de D. João III é o coração de Miranda. Aqui ficam os actuais Paços do Concelho, a antiga Casa da Câmara e o monumento de Homenagem aos Mirandeses, um conjunto que faz desta praça uma autêntica maravilha. A antiga Casa da Câmara é um edifício seiscentista com duas arcadas no piso térreo e um segundo piso com varanda alpendrada. Nos nossos dias acolhe o Museu da Terra de Miranda, de visita obrigatória, com colecções recolhidas nos concelhos de Miranda do Douro, Vimioso e Mogadouro. Aqui ficamos a conhecer parte da diversidade cultural desta região sob um ponto de vista etnográfico, com elementos fortes e muito característicos como a língua mirandesa (língua oficial portuguesa, derivada directamente do latim), a cultura dos berrões (esculturas zoomórficas da idade do ferro), a dança dos pauliteiros (acompanhada de traje típico de saias e com toque de gaita de foles, cuja origem remontará à ocupação celta da região), a Festa do Solstício (ritual pagão ligado aos ciclos agrícolas e à fecundidade com o colorido dos mascarados), entre outras. Ainda, neste museu é recriada uma típica casa mirandesa, com quarto e cozinha e seus utensílios. A manufactura da lã não poderia faltar, economia que já foi forte na região, usada para a confecção de roupa, mantas, tapetes e, claro, do burel das capas de honra mirandesas.

O monumento Homenagem aos Mirandeses, obra do escultor José António Nobre, mostra-nos um par, um homem e uma mulher, vestidos com os trajes tradicionais de origem medieval: ele com a Capa de Honra Mirandesa usada pelos pastores no Inverno, com capuz e delicadas franjas; ela com o traje do campo, com lenço na cabeça e xaile ao ombro.


Deste largo sai a Rua da Costanilha. Rua quinhentista, a mais antiga da cidade, é composta por edifícios de dois andares com elementos decorativos como portas em ogiva ou arco, janelas manuelinas, carrancas e cachorros na fachada e a muita característica “Casa das Quatro Esquinas”.


Esta rua segue até à Porta da Senhora do Amparo, a mais monumental entrada da urbe medieval de Miranda.


Saímos para melhor a apreciar e logo voltamos a entrar no centro histórico ainda em grande parte muralhado e com mais ruas para percorrer e edifícios para conhecer, entre eles a Igreja da Misericórdia.

E a antiga Casa da Alfândega, hoje Casa da Cultura Mirandesa, que tem como curiosidade possuir um arco interior recuado em relação à fachada.

A possante Torre de Menagem, em ruína, é o que resta do Castelo de Miranda do Douro, o qual se imagina que terá sido grandioso.

Abaixo fica um belo vale transformado em Parque Urbano do Rio Fresno, um agradável passeio à volta da sua água, de onde são disparados uns jets.

Um pouco mais afastado do centro da cidade encontramos o Aqueduto Vilarinho com os seus monumentais seis arcos redondos sobre o ribeiro de mesmo nome. Através dele, a partir do final do século XVI – data em que a população de Miranda cresceu muito -, e durante três séculos, a água do rio Fresno foi conduzida até às fontes para dar de beber aos mirandeses.

Bem alimentados visual e culturalmente, não podemos deixar de provar a posta mirandesa, um farto naco de carne da típica raça bovina local. Os restaurantes “O Mirandês” e “São Pedro” são apostas seguras para nos saciarem.

E, claro, se começámos este post a gabar a beleza geográfica de Miranda, não a abandonamos sem navegar a bordo do Cruzeiro Ambiental do Douro Internacional, um passeio épico pelas hoje tranquilas águas do rio fronteiriço espremido por entre estrondosas arribas com duas centenas de metros de altura.