Miradouros do Douro Internacional

Este é sobretudo um roteiro visual e fotográfico por cenários do Parque Natural do Douro Internacional. São paisagens do outro mundo, o resultado da acção de um rio belo e selvagem que ao longo de milhões de anos vem correndo por entre montes de granito, escavando-os até ter formado um vale profundo e encaixado que serve hoje de fronteira entre Portugal e Espanha. Maioritariamente por Terras de Miranda, andaremos pela extremidade oriental dos concelhos de Miranda do Douro, Mogadouro, Freixo de Espada a Cinta e Castelo Rodrigo e perceberemos rectas, curvas e cotovelos no rio e uma flora e fauna que o tornam ainda mais encantado, para além de um rico património arqueológico e uma série de barragens.

No volume do Guia de Portugal dedicado a Trás-os-Montes, Sant’ Anna Dionísio escreveu sobre o canhão do Douro não ter este tido até então a fortuna de encontrar um verdadeiro escritor ou pintor que eternizasse a sua “estranha e tácita beleza”, que tenha aberto “os olhos para a pujança, a austeridade, a força telúrica deste estranho desfiladeiro aberto por esta serpente milenária vinda dos Montes Ibéricos”. De qualquer forma, serve a descrição por ele escrita: “A paisagem duriense é inteiramente diferente de toda a paisagem do país. Como desenho, é forte e doce; pela cor, azul e verde; pela expressão, violenta e carinhosa”.

Iniciando a norte, logo temos o prazer de pisar o ponto mais oriental do território português, o lugar onde o sol nasce primeiro. Pertencente à freguesia de Paradela, o miradouro de Penha das Torres abre o apetite para a luminosidade deste pedaço de água azul profundamente encaixado entre fragas selvagens que nos acompanhará por toda a jornada. Empoleirados – em segurança – nuns blocos de granito a 675 metros de altitude, bem por cima da espanhola Embalse de Castro Collado, é aqui que assistimos ao Douro a entrar em Portugal.

Acompanhamo-lo neste seu percurso inicial em terras lusas numa descida muito estreita, voltando a mirá-lo junto ao miradouro do Castro de São João das Arribas, povoado fortificado da Idade do Ferro, também ocupado pelos romanos.

Por Aldeia Nova, é quase impossível não dar com um típico burro mirandês.

No miradouro de Castrilhouço, no Castro de Vale de Águia, igualmente da Idade do Ferro, o Douro faz o seu primeiro ziguezague. É um contorno elegante das arribas em forma de cotovelo.

E logo entramos em Miranda do Douro, a capital da forte cultura mirandesa e uma das cidades mais bonitas de Trás-os-Montes. Terra de fronteira, com o Douro a separar os dois países ibéricos, é a partir do seu cais fluvial que se pode experimentar um dos mais fantásticos passeios de Portugal. O Cruzeiro Ambiental Douro Internacional, um projecto que é uma parceria entre Portugal e Espanha, leva-nos rio acima pelo estreito vale escarpado, com falésias com quase 200 metros de altura, numa autêntica aula, científica até, pela geologia e flora e faunas locais. As paisagens do canhão do Douro são de uma tranquilidade (por conta das muitas barragens) e, ao mesmo tempo, desassossego sem igual.

Já cá em cima, o miradouro da Sé Catedral oferece-nos a mesma paisagem sob um ponto de vista altaneiro.

Uma dezena de quilómetros mais a sul, eis o miradouro da Freixiosa.

No miradouro da Fraga Amarela assistimos, lado a lado a imensos blocos graníticos, a nova curva do Douro.

Quase a entrar em Picote, uma placa faz-nos desviar para novo miradouro de que desconhecemos o nome, mas celebrámos a vista.

Em Picote ou Picuote, em mirandês, uma aldeia com arquitectura popular bem conservada onde foi descoberto uma escultura zoomórfica de um suíno – o típico berrão – e deslocada para diante da igreja, fica o mais reconhecido e acessível miradouro do Douro Internacional. Na Fraga do Puio ou Peinha de l Puio, o rio faz nova curva, mas desta vez ainda mais pronunciada, e uma varanda em vidro transparente permite-nos contemplar comodamente mais um cenário grandioso.

Após Picote escapou-nos uma ida até ao cais fluvial de Sendim e a caminhada com partida em Urrós designada por Trilho de São Fagundo, já concelho de Mogadouro, que nos deixa sobre as arribas do Douro. Sem parar desta vez na Faia d’ Água Alta, em Lamoso, um grande salto no planalto mirandês transporta-nos até ao Miradouro de Picões, em Peredo de Bemposta. E aqui nos deixámos estar a aplaudir os voos dos grifos.

O Trilho do Castro e do Contrabando, o PR6 de Mogadouro, com partida em Vilarinho de Galegos, faz-nos descobrir outros dois pontos de vista sem igual: o miradouro do Castro, onde uma pedra de granito empinada no cimo da arriba nos deixa na dúvida se rolou até ali ou foi lá colocada de propósito, e o miradouro do Contrabando, sobre um pedaço de Douro onde em outros tempos os portugueses se acostumaram a tentar passar a salto para terras espanholas em busca de melhor vida.

Já concelho de Freixo de Espada a Cinta, em Lagoaça fica o miradouro da Cruzinha, com uma cruz e um baloiço da moda a assinalarem o sítio e uma vista do Douro em U rodeada de montes. Todavia, esta imagem inesquecível fica complemente frontal e liberta de vegetação na descida para o cais fluvial de Lagoaça.

Há que sofrer, porém, uma vez que a estrada super estreita onde só cabe um carro e com uma inclinação apreciável faz-nos suar e rezar para que não nos cruzemos com nenhum outro veículo. Lá em baixo, no cais fluvial de Lagoaça bem junto à água do Douro, realizamos que todo o esforço e susto compensam a viagem: é um dos lugares mais bonitos e esmagadores que já tivemos oportunidade de pisar e contemplar.

No miradouro do Carrascalinho, com baloiços em dose dupla, um repetitivo e outro mais mimoso atado a uma árvore, a vista do Douro apresenta-se sob a forma de uma elegante linha longílinea logo após mais uma doce curva.

O Miradouro do Colado oferece-nos uma serena composição da aldeia de Mazouco e das curvas do Douro por entre montes espanhóis.

Mais abaixo, junto ao rio, nas rochas aguçadas de xisto podemos conhecer e apreciar o Cavalo de Mazouco, uma gravura rupestre perfeita que ali sobrevive há mais de 10 000 anos. Custa a crer como está tão bem preservado num lugar hoje de fácil acesso.

E, depois, a provar que nunca vimos tudo e nada é definitivo, eis que surge a Congida para concorrer com Lagoaça ao posto de lugar mais bonito do mundo. Os reflexos irreais na água do rio e o mergulho solitário naquela imensidão jamais serão esquecidos.

O último miradouro na margem direita do Douro deste roteiro é o de Penedo Durão. Enorme em espaço e em vista, tem uma estátua de Jesus Cristo a abençoar o lugar, um baloiço instagramável, umas fragas formosas e uma vista delicada para o Douro banhado por vinhas que deixam linhas perfeitas e árvores que pintalgam a paisagem. Aplausos para esta varanda natural.

Barca de Alva, já concelho de Figueira de Castelo Rodrigo, é onde o Douro deixa de correr para sudoeste e flecte para ocidente, entrando definitivamente e exclusivamente em Portugal. O recanto ideal para nos despedimos do Parque Natural do Douro Internacional.

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