Algoso, Penas Róias e Mogadouro: decore estes nomes e venha espreitar estes três castelos roqueiros situados no planalto mirandês. Todos eles no nordeste transmontano e na margem esquerda do Rio Sabor, o primeiro no concelho de Vimioso e os outros dois no de Mogadouro, faziam parte da linha defensiva do jovem Reino de Portugal numa época em que este se procurava afirmar quer contra os mouros quer contra o Reino de Leão. Construídos em pontos altos do território e no campo visual uns dos outros, esta era, então, uma zona de fronteira.

O Castelo de Algoso é um dos mais bonitos do nosso país. Pela localização geográfica e pela forma impressionante como reina vigilante sobre o alto do cabeço da Penenciada. É uma estrutura defensiva relativamente pequena, o suficiente para a identificarmos como um daqueles castelos que desde miúdos preenche o nosso imaginário e nos habituámos a desenhar num caderno. Esta colina está a 681 metros de altitude, a maior das redondezas, mas muitas outras elevações se levantam, umas fragas escarpadas que sobressaem nos vales por onde abaixo correm os rios Angueira e Maçãs. Um lugar onde o tempo fechado faz sentido e dá ainda mais poder ao ambiente já por si majestático. Já havia estado aqui há tempos e recordo que vencer o vento forte para chegar à porta do castelo tinha sido um desafio. Desta vez, o céu continuava pouco aberto, mas o vento já não metia medo e o desejo de voltar a estar perante o Castelo de Algoso era superior a qualquer outra força e, até lá chegar, a passagem pela pequena povoação de Campo de Víboras foi efectuada com um sorriso quase trocista nos lábios.

Antes de seguir até ao Castelo, vale a pena uma visita à aldeia de Algoso, conhecendo a sua igreja matriz, com um interior onde a talha dourada brilha, e a praça onde está instalado o pelourinho. Algoso já foi vila e sede de concelho e chegou a ser uma das povoações mais importantes das Terras de Miranda. O seu Castelo foi mandado construir por D. Mendo Rufino, no século XII, tendo sido posteriormente doado à Ordem dos Hospitalários, sendo desde o início da fundação da nossa nacionalidade o principal ponto de referência na paisagem. Há quem defenda ser este o verdadeiro centro de Trás-os-Montes e a vista desde o alto do castelo parece infinita. Nessa época, a defesa da fronteira fazia-se logo aqui, uma guerra pela manutenção do território contra o Reino de Leão. Com a expansão do território e o consequente empurrar da fronteira mais para oriente, o Castelo de Algoso tornou-se uma estrutura defensiva de segunda linha, tendo sido abandonado definitivamente no século XVII. Resta a bela imagem da sua torre de menagem românica, com reconstrução gótica, e alguns troços de muralha. A visita ao interior é efectuada apenas sob marcação.

Para quem gosta de espreitar sempre mais além e não se importa de caminhar para obter ainda melhor vista e compreensão do território, o PR4 de Vimioso, com cerca de 6,5 kms circulares, faz-nos descer pelo monte desfiladeiro afora até nos deixar à beira do rio Angueira, calcando o que resta da primitiva calçada medieval e, depois, admirando e atravessando a sua ponte, igualmente medieval – reconstruída entre 1727 e 1738 após destruição por uma cheia, sendo por isso que não apresenta já o típico tabuleiro em cavalete, antes horizontal.

Nesta descida percebemos na perfeição todas as nuances da incrível implantação do castelo roqueiro, quase se confundindo com as escarpas, como se um ninho de uma águia se tratasse, como o retrata a edição dedicada a Trás-os-Montes do Guia de Portugal.

Pouco mais a sul, a Torre de Menagem do Castelo de Penas Roías permanece no topo de um monte em cujo sopé se espraia a sua pequena povoação e a Ribeira e Barragem de Bastelos. É o que resta do antigo castelo templário, para além de uns poucos vestígios de muralhas e cubelos medievais.

Crê-se que antes da construção deste castelo no século XII, logo após a fundação da nacionalidade, aqui houvesse um castro proto-histórico com uma estrutura defensiva. Mais tarde, os romanos não terão tido qualquer interesse neste território e talvez os muçulmanos tenham utilizado essa pretensa estrutura defensiva. Os registos históricos só aparecem com certeza em 1145, data da doação do lugar pela Coroa Portuguesa à Ordem dos Templários. Há quem defenda que tenha sido o próprio Gualdim Pais a dirigir a construção do castelo e uma inscrição já pouco visível marca a data de 1172. Certo é também que a povoação recebeu foral em 1272, por D. Afonso III.

Isolado na paisagem, à semelhança do de Algoso, a torre do castelo românico templário é uma ruína elegante e incrível na forma como se consegue equilibrar na escarpa granítica onde assenta. Chegamos até ela depois de galgarmos sem dificuldade pelas traseiras da praça onde fica a igreja da aldeia. Nesta torre de forma quadrangular que teria pelo menos três pisos não se chega a perceber a sua entrada. Na verdade, o acesso a ela fazia-se por uma porta elevada, à qual se acedia por uma escada amovível. A torre de menagem, o elemento que chegou aos nossos dias e o único que faz perceber aos leigos que aqui existiu um castelo, ficava no meio do seu antigo pátio, o qual, por sua vez, estava cercado por uma muralha. Ao redor, como se quisessem espreitar a bela paisagem que os rodeia, restam parte dos dois cubelos em ruína, duas torres quase circulares.

O castelo de Penas Róias – o penedo rojo (vermelho) – cedo entrou em declínio, uma vez que logo os Templários o trocaram por territórios mais a sul. A pedra das muralhas acabou por ser usada na construção de edifícios da aldeia e povoações vizinhas. Hoje, tirando a sua expressiva implantação geográfica, até custa a crer que lugar tão isolado pudesse ter feito parte da nossa estratégia histórica. Tal como, aliás, Algoso, mas, neste caso, a povoação é mais “crescida” e sempre possuiu mais importância.

Do alto de Penas Roías avista-se Mogadouro – era essa a intenção original da construção desta linha defensiva, ter todo o largo panorama circundante debaixo de observação e sob domínio – e é para lá que vamos agora. Mogadouro, terra de celtas e de mouros, dos Templários e dos Távoras, o seu povoamento vai muito atrás na pré-história. Já teve castelo e muralhas, mas hoje ambos estão em ruína. O Castelo de Mogadouro foi construído pela Ordem do Templo no século XII, provavelmente na mesma época que o da vizinha Penas Róias. Acredita-se que possa ter sido erguido sobre uma fortificação pré-existente na colina sob a linha visual onde também estão os anteriores castelos de Penas Róias e de Algoso – a ideia era a mesma, a defesa da então fronteira com o Reino de Leão.

E também aqui a torre de menagem que resta é uma equilibrista, num jogo do “tem-te e não caias” sobre um afloramento rochoso bem vigiado pela vizinha torre do relógio. A torre de menagem possui ainda o resto do muro em arco que sustentava a porta do castelo. Pouco mais adiante, também subiste um cubelo ao qual podemos subir e contemplar a paisagem serena ao seu redor.

Com foral conferido em 1272 por D. Afonso III, à semelhança de Penas Róias, Mogadouro mereceu atenção desde a época dos primeiros reis portugueses e acabou por ganhar uma certa importância. Depois de deixada para trás pelos Templários e devolvida à Coroa, passou para o domínio dos Távoras no século XV. Foram eles que mandaram construir a alcáçova dentro das muralhas e as igrejas matriz e da Misericórdia que ainda hoje vemos junto ao que resta do castelo. Toda esta estrutura defensiva entrou irremediavelmente em declínio acentuado após aquele que ficou conhecido como o “processo dos Távoras”, em meados do século XVIII. À semelhança de outras povoações de Trás-os-Montes, também Mogadouro tem sido vítima de uma acentuada perda de população para emigração a partir da segunda metade do século XX, perdendo alguma da preponderância que chegou a ter. De outros tempos mais pujantes resta ainda o seiscentista Convento de São Francisco, hoje sede dos paços do concelho, uma bela despedida desta jornada pelos três castelos do planalto mirandês.