A primeira paragem da viagem coincidiu com aquele que é um dos esperados momentos altos de qualquer viagem ao sueste asiático: Luang Prabang. E foi-o. A partir daqui qualquer experiência corre o risco de ser batível. No entanto, haveríamos ainda de nos surpreender.
Luang Prabang é uma pequena cidade que quase não cabe na aura mágica e carismática que todos lhe reconhecem. É património da humanidade e o seu nome vem de inícios do século XVI quando à então Lan Xang foi oferecida uma imagem de Buda conhecida como Pha Bang, tomando então o nome de Luang (Grande / Real) Prabang (Pha Bang). Por essa data era apenas um dos vários reinos que hoje, no seu conjunto, formam o Laos e não era um reino assim tão forte. Basta lembrar que tinha por vizinhos o Sião e os reinos do hoje Vietname, a quem prestava tributo. Depois do ataque de milícias da China, em consequência de rebeliões neste país, o reino de Luang Prabang acabou por aceitar protecção dos franceses no século XIX. Já nessa altura a cidade era considerada pelos colonialistas franceses como um refúgio calmo. Hoje não se nota assim tanto a sua presença na arquitectura da cidade, com excepção de um ou outro edifício à beira do Mekong.
Visitámos o Wat Xieng Thong, o mais famoso. A sua arquitectura é característica do estilo do Laos (com afinidades com o Thai), telhados triplos debruçados quase até tombarem no chão. Destaque para a tumba a seu lado, o Haw Tai, em tons cor-de-rosa e cravado de mosaicos que ilustram a vida comum. Tivemos sorte no dia e hora que visitámos este wat. Ainda assistimos a parte da “missa” e no fim tivemos direito a partilhar uma bebida com os locais, que comemoravam o início das festividades que marcam a entrada dos noviços no mosteiro. O calor que fazia pedia mesmo uma qualquer bebida, mas esta foi especial. Era qualquer mistela, misto de leite de coco, com gomas e género de passas no formato, mas saborosa. Ao segundo dia, mesmo que ainda não tivéssemos perdido os pruridos com as águas das bebidas, a tentação seria forte demais.
O outro monumento a destacar é o Palácio Real e o vizinho Wat Ho Pha Bang. Este deve ser dos palácios reais mais modestos do mundo, quer no seu exterior, quer no seu interior, mas não deixa de merecer uma vista de olhos, sobretudo para nos divertirmos com as peças oferecidas ao então rei pelos outros países. O Wat que lhe faz companhia, todavia, vale bem mais do que uma singela olhada por fora ou por dentro. A sua arquitectura é das mais belas que encontramos na cidade (e no país) e o seu interior é dominado pelo ouro.
Quanto ao mais, o forte de Luang Prabang é caminhar pelas suas ruas, compostas de lojinhas de artesanato, cafetarias de bom gosto e hotéis de charme. Um passeio de bicicleta é muito recomendado. Torna o deambular pelas margens do Mekong muito agradável e permite-nos fugir do centro da cidade e entrar num mundo mais confuso e real, feito de locais e sem turistas. Ao fim da tarde, a entrar pela noite curta, é incontornável deambular pela feira que todos os dias assenta arraiais nas ruas de Luang Prabang. Tem algum artesanato interessante, mas a sensação com que se fica é que é quase tudo a mesma coisa e a coisa virá na sua maioria da China.