A uma sexta-feira decidimos ir passar uma espécie de meio fim-de-semana à Península de Izu, uma escapada algo comum para os habitantes de Tóquio. O local eleito foi o mais a sul nesta Península, Shimoda, a pouco mais de duas horas de comboio não directo de Tóquio. A viagem é extremamente agradável, em especial o troço que segue de Ito até Izukyu Shimoda (é este o nome correcto da estação, só Shimoda induz-nos em erro e leva-nos para outro lado). Quase sempre junto ao Pacífico, vamos vendo a água super azul, num belo contraste com o verde da vegetação.
Shimoda já aparecia em documentos históricos de períodos antigos do Japão, mas o seu papel na história ficou definitivamente cravado quando na década de 1850 teve um contributo decisivo para a abertura do país do sol nascente. Foi na sua baía que os “black ships” do Comodoro Matthew Perry aqui aportaram em primeiro lugar e, assim, a cidade de Shimoda tornou-se o primeiro porto japonês a abrir-se aos estrangeiros, acabando com a política de séculos de seclusão do xogunato Tokugawa. Tratados foram aqui assinados com os americanos e, anos mais tarde, tratados voltariam aqui a ser assinados com os russos.
A costa é bordejada por montes cheios de vegetação. Ao contrário da calmaria das águas da baía, as ondas num mar algo revolto teimavam em bater junto às rochas na costa mais aberta. O suficiente para abrir o apetite da mana para a sessão de surf que esperava vir a ter mais tarde.
Shimoda tem vindo a transformar-se de porto de pesca para centro de turismo. No entanto, não lembro de nos termos cruzado com um só turista, quer junto à costa quer nas suas ruas. Estas possuem um ambiente de cidade perdida, peixe deixado a secar à porta, cafés e comércio que poderíamos encontrar numa aldeia portuguesa. A Rua Perry, pelo contrário, é bem distinta. Com um canal a dividir os dois lados da rua, aqui encontramos um ambiente mais vivo, lojas de artesanato, cafés com estilo, rua lindamente decorada com flores.
Shirahama é ainda descrita como uma surf city. Por sorte, na tarde em que chegámos havia condições suficientes para qualquer surfista se divertir um pouco. E para qualquer banhista ter um dos seus primeiros dias de praia do ano (no dia 11 de Julho? Onde é que isto já se viu? Cortesia de São Pedro para Lisboa 2014).
A praia é bonita. O enquadramento é especial, com muito verde à volta. Os edifícios que a acompanham não são nada de especial, e existe mesmo lá um hotel mamarracho que não faz falta nenhuma (se fosse necessária confirmação, não é só em Portugal que existem atentados à paisagem). Mas no final da praia, sobre uma rocha saída, existe um santuário xintoísta – apenas o tori – que o torna um dos mais bem localizados em todo o mundo, certamente.
Foi, aliás, a lua cheia que nos safou quando terminámos a nossa tarde na praia e nos pusemos a caminhar para tentar descobrir outras praias vizinhas, passando por uns templos. Quando voltámos era já noite e a rua principal não tinha iluminação. Arranjar um restaurante também não foi muito fácil, uma vez que as alternativas não eram muitas. A verdade é que Shirahama não está assim tão desenvolvida. É uma perfeita cidade de praia perdida no mundo e isso é bom, muito bom.
Uns levam a tenda – literalmente – e todos os apetrechos indispensáveis a um bom dia de praia, como carne e champanhe. Todos possuem bóia como amiga inseparável no momento de ir molhar os pezinhos. Outro (foi só um) escolhe usar como indumentária a roupa que o Borat imortalizou, mas desta vez em cor-de-rosa e, depois do almoço, em verde choc. Este senhor estava mesmo deitado ao nosso lado, com um género de capacete a protegê-lo do sol, e nem queríamos acreditar na figurinha.
Praia no Japão? Diversão garantida.