No concelho de Sever do Vouga, junto à aldeia de Silva Escura, fica uma das cascatas mais bonitas de Portugal.
A Cascata da Cabreia cai de uma altura de 25 metros e jorra água a bem jorrar. E isto surpreendeu-me porque nos últimos anos estou farta de ver quedas de água consideradas como das mais altas de Portugal sem água. Exemplos? Faia da Água Alta, onde não vi sequer resquícios de água, e Frecha da Mizarela, onde tive dificuldade em encontrar o fio de água.
A Cabreia não. A Cabreia lá estava frondosa e acolhedora e ainda com o bónus de vir acompanhada de uma piscina natural de água fria mas transparente aos seus pés.
Com um acesso fácil de carro e bonito como é, não admira que este lugar não seja um segredo. Um lugar para se tirar fotos da cara-metade em poses várias e de deixar quaisquer casados de fresco com inveja por não ter terem tido a ideia ou a oportunidade de uma recordação como esta.
O Rio Mau, que se torna Bom ao fim de um tempo, e as rochas são os responsáveis por esta beleza que a geografia da natureza nos dá. Vai daí, a água vem caindo em patamares até que no último deles se precipita com estrondo. Uma densa vegetação acompanha e completa este cenário. Já mais calma a água vai depois correndo por um bosque, por entre pedras e sob pontes de madeira, tendo por vizinhas umas pequenas casas em xisto. Uma outra ideia: que tal trazer uma flor de lótus de modelo para mais fotos absurdamente fantásticas? Já farta de tanta inspiração não tive forças para fotografar o casalinho budista que se fazia acompanhar de parafernália vária para as melhores imagens de todo o sempre.
O parque e praia fluvial da Cabreia tem até um parque de merendas formal para que nada falte a um dia bem passado na Cabreia. As suas tranquilidade e frescura fazem lembrar o que podemos igualmente experimentar na Fraga da Pena, na Mata da Margaraça, em Arganil.
O percurso da Cabreia até às Minas do Braçal parece poder ser feito a pé, mas optei por seguir de carro até aqui. Chegados ao final da aldeia de Folharido há que seguir em frente pela estrada local sem asfalto. Não é necessário um 4×4 e com o devido cuidado um veículo normal sobrevive sem mazelas. A vegetação por aqui continua poderosa. 2 quilómetros depois vemos um edifício que pertencia às Minas da Malhada e logo adiante temos então os edifícios abandonados das Minas do Braçal.
Não há ninguém por aqui, com excepção de mim. Nem cara-metade, nem vestido de noiva, nem sequer uma flor de lótus. É nestes momentos que faz falta seguir com alguém, para que a coragem não falhe e não faça hesitar em continuar a busca de mais um lugar desconhecido.
Já disse que a vegetação por aqui é intensa e sabendo-me sozinha qualquer barulho do vento a bater nas folhas das árvores assusta. Penso sempre que tipo de animal me vai sair de um lugar como este. Mas depois começo a ouvir o barulho da água a correr e ganho novo alento, o de descobrir onde pára o rio. Com cautela, claro, e sem nunca me aproximar de qualquer piso donde possa resvalar. Os edifícios das antigas Minas completamente em ruína e tomados pela natureza começam a aparecer e aí sim lamento verdadeiramente não estar acompanhada para explorar o seu interior esventrado. Não que fosse encontrar algum tesouro que o que havia por aqui para levar já foi levado há muito. É o ambiente de mistério que me fascina.
Crê-se que já na época dos romanos o Braçal tenha tido actividade mineira, mas a exploração oficial das Minas do Braçal teve o seu início em 1836 – a mais antiga concessão mineira portuguesa – e apesar de interregnos nos seus trabalhos só foi definitivamente desactivada em 1959. Aqui se explorava sobretudo chumbo, mas também pequenas quantidades de volfrâmio, zinco e prata, e no seu apogeu chegou a empregar quase 1000 trabalhadores. Situada ao longo do Rio Mau, nem sempre é fácil descobrir o seu caminho de água, uma vez que este afluente do Vouga corre canalizado sob a forma de túneis artificiais em muitas partes. Lá está, ouvia-o mas não era só a vegetação densa que me impedia de o ver. Até que depois de passar por diversas infra-estruturas de apoio à antiga mineração, seguindo o barulho da água por um caminho estreito se encontra uns pequenos degraus. Ao descer temos finalmente o rio à nossa vista. É uma paisagem bucólica, uma leve queda de água junto a um moinho que segue até o perdermos de vista para lá de uma ponte em túnel. Este cenário juntamente com as ruínas da Mina só adensa o seu clima e aura especiais.
Como dificilmente se vem ter às Minas do Braçal por acaso, os amantes de aventura e mistério que os lugares abandonados proporcionam façam o favor de marcar este sítio no seu mapa pessoal.