Jardim Botânico da Ajuda

O Jardim Botânico da Ajuda está instalado numa encosta ao lado do Palácio Nacional da Ajuda, o palácio nunca concluído que agora, mais de dois séculos depois, parece que vai deixar de o ser. Embora não tão conhecido e visível, o Jardim Botânico da Ajuda é anterior à construção do Palácio. Na verdade, este é o mais antigo jardim de Lisboa, inaugurado em 1768.

O Alto da Ajuda era já nessa época uma zona de presença da realeza, a qual na sequência da destruição do medonho Terramoto de Lisboa de 1755 para aqui fugiu e construiu a sua Real Barraca neste ponto alto da cidade. E foi precisamente aqui, afastado do centro da cidade, então como agora, que o Marquês de Pombal mandou construir este Jardim Botânico numa encosta da Serra de Monsanto, com solos férteis e abundância de água.

Projectado pelo botânico italiano Domingos Vandelli, escolhido pelo Rei D. José para o ensino dos seus filhos, os lisboetas passaram a poder admirar espécies vegetais até então suas desconhecidas. A colecção dessas espécies que aqui eram mantidas para pesquisa e estudo chegou a acolher cerca de 5000, vindas de todo o lado do mundo, formando um conjunto de grande valor documental e científico. Hoje o espaço já não pertence à Casa Real – a administração está atribuída à Faculdade de Agronomia – e as espécies já não serão tantas – cerca de 1500 -, mas a integridade e beleza do lugar mantém-se.

São cerca de 3,5 ha distribuídos de forma rectangular por dois tabuleiros, o superior dedicado à colecção botânica e o inferior ao jardim de recreio e ornamental de buxo.

À entrada, imediatamente antes do chalet transformado em recepção, dois lagos barrocos, um de cada lado, dão-nos as boas-vindas.

A influência barroca há-de continuar e em dois passos torna-se monumental. O jardim de recreio, igualmente com toque renascentista, preenchido com caminhos moldados pelas formas do buxo, plantado sobre o Tejo é de uma enorme beleza, fazendo desta uma vista privilegiada em Lisboa.

A fonte central e a escadaria são elementos decorativos inesquecíveis. A Fonte das 40 Bicas, ou Fonte das Serpentes, não tem apenas serpentes a adorná-la. Estão também lá presentes rãs, patos, cavalos-marinhos, figuras mitológicas e plantas aquáticas, formando uma deliciosa exuberância directamente defronte da escadaria com estátua do infante D. José.

Este jardim possui diversas árvores e também delicioso, mas talvez não tão saboroso, é encontrar uma bananeira com um cacho de bananas verdinhas.

Prosseguimos pelo jardim de buxo em todo o seu comprimento e subimos para o tabuleiro superior. A Estufa Real, restaurante e lugar para eventos, fica num dos cantos. É por aqui que encontramos um enorme dragoeiro que se estima que tenha mais de 400 anos, ou seja, anterior ao Jardim Botânico. Tão velhinho que se mantém erguido, mas sempre belo, com ajuda.

Neste patamar superior mesmo de frente para o rio Tejo as vistas são ainda mais fabulosas.

Vistas essas apenas agradavelmente perturbadas pela descoberta de dois pavões, um azul e outro branco. Sempre exuberantes e majestosos, o seu colorido entre os azuis e verdes é um deleite, mas que dizer da fixação que também estes indivíduos inteiramente brancos produzem em nós? Símbolos de pureza e eternidade, ao contrário do que acreditam alguns, os pavões brancos não são albinos, antes o resultado de uma variação genética. E este duo da foto não será um macho e uma fêmea a contemplar pacatamente o Tejo em cima de um ramo de uma árvore, mas antes dois amigos machos – a ver pelo comprimento de cada cauda, aquela que pela sua dimensão se torna mais vistosa e atractiva no momento de chamar a fêmea para o acasalamento.

Muitos mais pavões se passeiam nesta zona diversa com jacarandás, árvores pé de elefante, canteiros com a colecção botânica de espécies de várias regiões do globo divididos por áreas geográficas, estufas e lagos.

No Jardim Botânico da Ajuda há mais para além de ver. Há que estar tranquilamente no meio da beleza. E há que sentir o Jardim de Aromas, tocando e cheirando as suas plantas aromáticas e medicinais, especialmente criado para os invisuais. Para que a visita ao mais antigo jardim de Lisboa possa ser plena em todos os sentidos.

2 Comments Add yours

  1. Uma das árvores aí existentes, a lindíssima Schotia speciosa, é uma das que estão a votação para eleição da árvore portuguesa do ano que depois irá concorrer a Árvore Europeia 2021. Se tiver interesse em saber mais e também votar pode ir ao ultimo post que publiquei no meu blog.

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    1. Informação muito preciosa. Obrigada pela dica e por nos permitir conhecer mais árvores a concurso. Também já votei 🙂

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