A Praça da República de São João da Pesqueira

Depois de termos arriscado escolher as praças e largos mais bonitos de Lisboa, arriscamos ainda mais em eleger a praça mais bonita fora da capital. E a eleita é a Praça da República, em São João da Pesqueira.

Situada na margem esquerda do rio Douro, com miradouros de eleição à sua volta, São João da Pesqueira (topónimo buscado na alfubeira vizinha abundante em peixes) tem também elementos históricos suficientes para nos cativar. Desde logo, é a mais antiga vila (e concelho) de Portugal, com foral concedido pelo rei de Leão entre os anos de 1055 e 1065, antes mesmo da nacionalidade portuguesa. Considerada o coração do Douro Vinhateiro, o vinho era já então um dos tributos a pagar ao rei e hoje o concelho é mesmo o maior produtor nacional de Vinho do Porto. E é aquele que possui a maior área do Alto Douro Vinhateiro, classificada como Património Mundial pela Unesco, cerca de 20% do total. Como curiosidade, diz-se que o Marquês de Pombal, o responsável pela criação da Região Demarcada do Douro em 1756, terá aqui vivido em menino.

Mas desta vez não é o vinho nem a sua paisagem fabulosa que nos traz a este texto. É apenas a Praça da República, o coração do pequeno centro histórico de São João da Pesqueira. Há uns bons anos havia passado pela vila numa tarde de chuva intensa que deu, ainda assim, para nunca mais esquecer a sua praça. É dos lugares mais bonitos que tive o prazer de conhecer. Ponto.

À Praça acede-se por diversas ruinhas, mas em qualquer entrada se percebe logo a monumentalidade harmoniosa do lugar. No século XVI seriam o solar da família Távora, condes de São João da Pesqueira, e o antigo hospital da Misericórdia os elementos arquitectónicos que dominariam o centro da urbe medieval. Já haveria o Arco e a Torre. O Pelourinho, esse, já não existe. Mas o que vemos hoje é a reedificação levada a efeito no século XVIII, época de grande desenvolvimento económico da vila, à boleia do crescimento acelerado da produção do Vinho do Porto. Tudo está conservado com uma vivacidade feliz.

Começámos por apreciar a Capela da Misericórdia com a sua fachada barroca revestida quase por inteiro a azulejos. Destacam-se dois painéis, um de cada lado: “Cristo e a Samaritana” e “Cristo curando um enfermo”.

Ao seu lado, o Arco com Torre do Relógio. E logo de seguida a Arcada ou Arcaria, construção do século XVIII que serviu de mercado. Espaço ainda para a torre da igreja que lhe está adossada.

Isto de um dos flancos. À sua frente encontramos ainda o edifício dos antigos Paços do Concelho e Cadeia, hoje Museu Eduardo Tavares. Igualmente com fachada barroca, como a Capela com quem dialoga face a face, foi mandado edificar por D. Maria I, com data de 1794 na frontaria, e tem o portal decorado com brasão real.

Destaque ainda para dois deliciosos edifícios contíguos, cada uma de sua cor, ambos com janelas de guilhotina. Janelas essas que não são, no entanto, um exclusivo destes.

Desta Praça da República, o antigo centro da vila antiga, podemos percebe-la com clareza como centro cívico, religioso, económico e nobre. O poder cívico local representado pelos Paços do Concelho, o religioso pela Capela da Misericórdia, o económico pelo espaço comercial da Arcada e o nobre pelo antigo solar dos Távoras. Uma bela unidade histórica e arquitectónica, testemunho de uma época que chegou intacta até nós.

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