O Parque Ribeirinho Oriente, na Doca do Poço Bispo, é o mais recente espaço verde de Lisboa, inaugurado em Fevereiro de 2020. Amante de jardins e de rios, este seria sempre um lugar a visitar, mas dá-se o caso de ser sua vizinha e de ter testemunhado a evolução da sua gestação, nascimento e crescimento em pleno confinamento pandémico. Resultado? Entrou imediatamente para a lista dos meus preferidos. Merecidamente, diga-se.

A Matinha (Matinha, Poço Bispo, Braço de Prata: tudo nomes para designar praticamente um mesmo lugar em Marvila em que apenas os locais parecem saber a diferença) é uma antiga zona industrial, decadente nas últimas décadas mas que hoje vem emergindo com a revitalização dos seus armazéns e espaço público. Nos últimos anos tem vindo a ser finalmente construída a nova urbanização de Braço de Prata, parece que agora definitivamente denominada Prata Riverside Village, um projecto do arquitecto Renzo Piano. E é diante si, apenas separada por uma ciclovia de mão dupla, que se espraia este novo Parque, por enquanto apenas 600 metros desde a Doca do Poço Bispo até à direcção dos gasómetros da Matinha, mas espera-se que dentro de poucos anos seja estendido até à Marina do Parque das Nações, num total de 1,5 quilómetros de frente de rio devolvida aos lisboetas.



O enquadramento paisagístico do lugar, totalmente aberto ao Tejo, é fantástico, sobretudo num daqueles dias luminosos em que a água do rio faz de espelho. E, depois, o projecto executado tem uma qualidade à altura, precioso nos seus detalhes que o integram na perfeição com a zona.

Por enquanto, permanecem armazéns em ruína e o pontão abandonado e ferrugento (e perigoso), e até vestígios de embarcações a boiar, para nos lembrarmos do passado recente. Escasseia já a imagem dos pescadores no pontão, mas a pesca desportiva é permitida ao longo de toda a restante frente ribeirinha. E, entretanto, para além da ciclovia que atravessa o Parque juntamente com caminhos para se correr ou passear por entre as recém plantadas árvores como pinheiros mansos, freixos, oliveiras e sobreiros, foi construído um parque infantil, diversos apoios e mobiliário urbano.

Projecto das arquitectas paisagistas Filipa Cardoso de Menezes e Catarina Assis Pacheco, do atelier F | C, os seus detalhes são perfeitos, já se disse. O parque para os miúdos está instalado na areia e é uma estrutura para trepar feita de troncos e redes de cabos de aço que se levantam e entrecruzam, aludindo à imagem dos mastros dos barcos e das redes de pesca que eram presença no rio.

Os apoios do parque, como wc, cafetarias, aluguer de bicicletas e biblioteca, estão todos instalados em contentores marítimos reconvertidos para o efeito, mais uma alusão à memória do lugar.

A escolha do mobiliário urbano não poderia seguir caminho diferente, e olhando para os candeeiros em aço do Parque facilmente somos transportados para o seu passado industrial.

Já os bancos de madeira à beira rio, em especial as espreguiçadeiras, foram desenhados para que pudéssemos ter um momento em que não pensássemos em nada, nem passado, presente ou futuro, só o agora, debaixo do sol com a companhia da brisa do rio.

Caminhando pela nova frente ribeirinha, vemos ao fundo o paquete Funchal, há anos ali ancorado, e uma pequena língua de areia junto ao pontão. Uma praia, portanto. A zona convida a um mergulho e posso garantir que é bem salgado.

O rio é um personagem magnético, custa tirar os olhos dele, mas por uma vez há que fazer um esforço e olhar para o chão. O pavimento do Parque tem aqui e ali umas gravuras de aves como a garça-real, a cegonha e o pato-real, remetendo para a ideia (deliciosa) da sombra destas espécies da avifauna local. Natureza, história, cultura e arte, que mais poderíamos pedir a um jardim?
Olá: Espantado com o que a “menina” digo bem , por ser ainda radiante jovem, consegue ver e associar num espaço que para a maioria são os jardins, para os passantes, que servem e potenciam a qualidade de vida de quem, é agora morador nesta “reconvertida”, e bem, freguesia de Marvila.
Reconheço e saúdo o seu trabalho e a capacidade de nos avisar para um pouco da História do local e, ainda mais importante, o de nos predispor, pela exaltação positiva do espaço, para usufruí-lo.
Continuação deste bom trabalho que pelo visto nem a pandemia a impede.
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Se alguma coisa boa nos trouxe a pandemia e o dever de nos mantermos por casa (ou próximo dela) foi precisamente esta, a de nos levar a descobrir, conhecer e querer saber mais sobre os sítios perto de nós. Com tempo e vagar. E este novo parque é óptimo para nos deixarmos estar juntinho ao rio. Sem pressas.
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