Monchique

Por vezes, quando passeamos por uma região saímos frustados. Não por não ter correspondido às nossas expectativas, antes por não a termos aproveitado como deveríamos. O que aconteceu com o passeio de uma tarde em Monchique não foi bem ter superado o que esperávamos visitar – já sabíamos que o “Jardim do Algarve” era lindo (já aqui havíamos estado, embora há mais de uma década). O que acontece é que a região de Monchique necessita de mais tempo. E, já agora, de uma visita fora do Verão para se perceber água nas suas cascatas. Ainda assim, embora muito incompleto, aqui vai o relato do passeio possível por Monchique, com a convicção de que havemos de voltar.

Começámos pela visita à vila termal das Caldas de Monchique. A riqueza das suas águas (naturais e termais) é reconhecida pelas suas propriedades curativas já desde os tempos dos romanos, mas é a sua implantação geográfica que faz as maravilhas de qualquer visitante. Encravada num vale rodeado de vegetação luxuriante, a pequena povoação tem chalets, uma praça acolhedora com edifícios coloridos e um parque de merendas por onde a água escorre tranquilamente em patamares. Região forte em artesanato, vale a pena dar uma olhada às suas lojas.

Esperámos pela vila de Monchique, sede do concelho, para abastecer da famosa aguardente de Medronho. Mas perdemos a Picota, o segundo ponto mais alto da Serra de Monchique e do Algarve, a 774 metros de altitude. A vila de Monchique é também rodeada pela vegetação serrana, o que é bem apreciado desde o Miradouro de São Sebastião.

Desde este ponto alto vê-se a vila desenvolver vale abaixo e vale acima, com o seu centro histórico a ocupar parte da encosta à frente. O casco urbano diante nós, percebemos depois já cá em baixo, é surpreendente, um conjunto homogéneo de casas brancas dispostas numa série de ruas que se cruzam de forma irregular. Pode ser o costumeiro das vilas algarvias, mas não esperávamos que aqui, no interior algarvio esquecido, encontrássemos um núcleo urbano tão grande e tão preservado (embora infelizmente com muito do edificado abandonado). Ou seja, este foi mais um dos motivos que nos fez lamentar não ter perdido mais tempo em Monchique.

A meia encosta numa colina imediatamente acima da vila ergue-se o Convento de Nossa Senhora do Desterro. Mais uma surpresa. Paramos o carro onde der na estrada e seguimos os últimos 300 metros a pé, por um caminho florestal com vistas generosas. Já sabíamos que este Convento estava abandonado e em ruína; o que não sabíamos era o momento kitsch que nos esperava. Mandado construir em 1631 por Pero da Silva, um vice-rei da Índia que patrocinou a obra aos frades franciscanos, é um enorme edifício em estilo manuelino e maneirista cujo brasão da família fundadora ainda persiste na fachada da igreja. O Terramoto de 1755 arruinou-o e a extinção das ordens religiosas em 1834 fez com que fosse parar às mãos de privados. O pior veio depois, vendido em partes a vários proprietários que nunca o restauraram, a Câmara Municipal tem vindo a adquirir o que pode para desenvolver projectos adequados ao espaço, mas a verdade é que este está hoje ocupado com hortas e galinheiros. É isso mesmo: no claustro do antigo Convento passeiam-se galinhas que também podem livremente seguir até ao interior da igreja, completamente esventrada e com um altar pavoroso decorado sabe-se lá por quem. É uma ruína que só a espaços possui ambiente, mas que vale bem a pena visitar – apesar dos avisos de cuidado com o cão (que não vimos), os ocupantes do Convento não se importam de nos permitir a entrada.

Daqui seguimos a caminho da Fóia, tendo passado pela Cascata de Penedo Buraco onde água… nem vê-la. Situada à beira da estrada, por isso fácil de alcançar, nem dá para imaginar por onde a água poderá cair, tal é a seca durante os meses de Verão. Já nem arriscámos desviar para a Cascata do Barbelote, diz que a mais bonita, uma vez que para além do caminho de carro até lá terá de se andar mais um pouco a pé para a ver melhor. E junto a ela valerá a pena conhecer a aldeia de Barbelote, perdida e abandonada na Serra de Monchique. Ou seja, é um lugar que merecerá uma caminhada sem pressas. A outra cascata de Monchique é a Cascata do Chilrão, cuja visita também ficará para outra altura que garanta a possibilidade de a ver jorrar água.

Por sorte, teremos sempre a Fóia. O ponto mais alto de todo o Algarve, a 902 metros de altitude é não apenas simbólico como lugar de uma enorme vista – toda a costa algarvia. O mar, sim, mas também a serra. José Hermano Saraiva descreveu em tempos o cenário que daqui se obtém como sendo um “mar de montanhas”. A ondulação que se estende diante nós até lá longe no Atlântico é belíssima. Vale a pena resistir ao frio e vento e subir ao pequeno penedo de granito ao lado esquerdo do miradouro para a melhor vista.

A estrada que nos transporta à Fóia é bonita e dependendo do clima e hora do dia podemos descobrir para além dela outra silhueta preciosa do tal “mar de montanhas”.

A caminho de Marmelete, a paisagem é ainda mais fantástica e os cabeços verdes quase siameses que se sucedem revelam uma paisagem surpreendente, única no nosso país. A estrada é estreita e com repetidas curvas, difícil de parar o carro para uma fotografia. Antes assim: este cenário puro do “Jardim do Algarve” ficará em exclusivo guardado na memória.

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