Por piada, aqui vão alguns epítetos para as solteiras de Macau, retirados do conto “O casamento de Pak-Lin” do livro “A Chinesinha” de Maria Pacheco Borges.
– Donzela velha;
– Resto de canas doces vendidas;
– Laranja rejeitada no fundão da canastra.
Categoria: Macau
Macau e o Jogo
E já que estamos numa onde de Macau vista na poesia, aqui vai esta um bocado mais crua de Yi Lin, presente numa antologia reunida por Li Guanding em 2007.
“O jogo é a maior indústria de Macau
O governo é o maior accionista dela (nem é preciso fazer registo comercial)
A sociedade é o maior banqueiro (em nome do patriotismo)
As seitas são donas dos salões do casino (têm numerosos negócios filiados)
Nós é que somos a maior ficha emprestada para ser apostada”
Macau por Auden
Sobre Macau o escritor inglês W.H.Auden diz no seu poema “Macao”:
“Uma excentricidade de Portugal e da China”.
Meio Dia em Macau
O passeio de almoço começou com uma ida imediata para a ilha de Taipa, com uma mão cheia de casas coloniais verdinhas aos pés da Igreja do Carmo, as residências de verão dos ricaços macaenses do inicio do século passado. Muito pitoresco, com uns arranjos florais lindíssimos.
A envolvente é paradigmática dos contrastes desta Ásia que se desenvolve ao ritmo de um foguetão. Prédios altíssimos, cúmplices de uma rápida urbanização, e do outro lado de uma espécie de lagoa o The Venetian, o casino mais estapafúrdio de Macau. Ou seja, a vista da janela de uma casa colonial portuguesa, ali pertinho onde o Rio das Pérolas desagua no Mar do Sul da China, dá para o Campanário da Praça de São Marco e o seu vizinho Palácio dos Doges. Um bocado kitsch, não? Diz quem conhece que lá dentro é anda pior e há até passeios de gôndola pelos canais “venezianos”, com sole mios adequadamente a acompanhar. Deve ser para descontrair entre uma jogatina e outra, afinal estes não são mais do que elementos do The Venetian Macao, o maior casino do mundo.
E para além da língua, aqui no centro é difícil não nos sentirmos numa vila de Portugal quando vemos o edifício caiado do hoje “Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais”, originalmente no século XVIII o Leal Senado, que hoje dá nome a esta zona. Há mais uns quantos exemplos de edifícios de arquitectura portuguesa, com as suas janelas com portadas de madeira, sem esquecer umas quantas igrejas. A mais conhecida é apenas uma fachada: as Ruínas de São Paulo, no alto de uma escadaria.
Tudo isto lado a lado com templos budistas ou taoistas e edifícios em estilo cantonês, como a Mansão Lou Kau, todos eles, diria, esmagados pelos imensos prédios. Imensos porque são muitos em quantidade e de muita altura. Para mim isto foi verdadeiramente surpreendente, pois pelos vistos tinha a ideia de Macau (mais uma, afinal) mais como uma vila do que como uma cidade asiática. Nada mais errado. Aqui são realizadas obras de avançada engenharia, como pontes extensas para ligar a Península de Macau às ilhas de Taipa e Coloane, ou para as juntar, aterrando e ganhando o tão necessário território (vidé a ideia do Cotai Strip que junta Taipa e Coloane). Os resorts turísticos moldam a paisagem com os seus edifícios espampanantes.
O Grand Lisboa, por exemplo, na sua forma de lótus destaca-se e aparece onde quer que estejamos, seja escondido atrás do edifício dos correios na Praça do Leal Senado, seja atrás de um canhão no Forte do Monte. Aqui de cima conseguimos ter uma percepção exacta do que se tornou Macau, um cenário confuso e desordenado de edifícios altos e não muito bonitos, que nos tira finalmente as dúvidas: isto é Ásia e estamos bem afastados de Portugal. Mesmo que se consiga facilmente um pastel de nata ou um pastel de bacalhau para se dar uma trinca.
O irmão mais velho do Grand Lisboa, o simplesmente Lisboa, é o mais conhecido casino da Ásia e em tempos idos foi glamorouso. Hoje o seu interior parece-me um pouco datado, mas uma vez lá dentro senti-me como se estivesse num filme de James Bond. Para quem gosta de algo esplendoroso (dentro do género, claro) é experimentar o mano mais novo, no outro lado da rua.