Aparentemente, não muitos outros portugueses se lembraram do mesmo. No entanto, a cidade estava cheia de gente – andaluzes, que celebravam a Semana Santa em infinitas e intermináveis procissões das várias confrarias compostas pela população que ocupavam a cidade inteira, e não ibéricos, estes vindos de todas as partes do mundo.
Voltando a Córdoba em si, a visita não pode deixar de se iniciar no bairro La Juderia, com as suas ruelas estreitíssimas de casas branquinhas. Os estores debruçados nas janelas deixam adivinhar que o Verão inclemente já vem próximo. Por aqui fica a Sinagoga, uma das poucas conservadas na Península Ibérica (a propósito de sinagoga em Portugal, ver anterior post em http://andessemparar.blogspot.com/search?q=belmonte), com influências arquitectónicas árabes como o pátio e outros elementos mudéjares.

E quanto a património arquitectónico, não falta escolha – atravessar a Ponte Romana sobre o Rio Guadalquivir, caminhar lado a lado com as muralhas árabes, conhecer a Córdoba tradicional, com os seus conventos, igrejas e praças, a que não falta a “praça maior” cá do burgo, a qual neste caso toma o nome de Plaza Corredera, sempre animada e movimentada como todos as outras do país.
Começando pela Mesquita-Catedral, ela, por si só, vale qualquer visita a Córdoba, esteja ela ou não a dois passos de distância de Portugal. Este monstro arquitectónico é o resultado de uma mistura de influências ao longo dos séculos. Construída originalmente por volta do ano de 600 como uma igreja cristã visigótica, sob o domínio dos muçulmanos passou a ser usada como mesquita, tendo sido aumentada de tal forma (no século X) que chegou a ser considerada a 2.ª maior mesquita em todo o mundo. Após a reconquista cristã, no século XIII, voltou a ser usada como igreja. Até hoje. O seu interior é imediatamente reconhecível pelos seus arcos brancos e encarnados que encimam as quase 1000 colunas.
Ali perto fica o Alcázar de los Reyes Cristianos. Mais uma vez, a história da mesquita-catedral repete-se. Originalmente sítio de uma fortaleza visigótica, os muçulmanos começaram por reconstruir a estrutura e expandi-la, construindo palácios, jardins e banhos. Após a reconquista, sobre as ruínas da estrutura pré-existente, o Rei Afonso XI construiu (em 1386) o que vemos nos dias de hoje. Tudo parece muito fiel à arte muçulmana porque o estilo escolhido foi o mudéjar. No entanto, os lindíssimos jardins datam apenas dos séculos XVIII e XIX. Antes desta maravilha, uma história negra: o Alcázar foi utilizado como tribunal da Inquisição, tendo sido palco de interrogatórios e tortura. Hoje é uma atracção turística e a subida às suas torres dá-nos uma vista diferente e superior do Alcázar, embora daí não se aviste a cidade.
E para terminar em puro relaxe e deleite, nada melhor do que uma ida ao Hammam de Medina Califal, que se propõe recuperar o espírito dos banhos árabes. E consegue-o. Num edifício que passaria despercebido numa das ruas da zona velha da cidade, perto da mesquita-catedral, vive-se uma experiência que faz jus ao slogan oficial do turismo de Córdoba “emociona”. Historicamente, a cidade contava com mais de 600 banhos árabes públicos na época do domínio muçulmano. Hoje é possível visitar-se alguns deles, mais ou menos recuperados ou conservados, mais ou menos humildes ou luxuosos. Mas todos eles, obviamente, desactivados. Resta-nos, então, este Hammam de Medina Califal, que apesar de não ter sido erigido sobre nenhuma estrutura que antes tivesse a mesma função, nos permite banhar nas suas águas temperadas, quentes e frias, à vez, com direito a banho turco e massagem, num ambiente fiel ao que imaginamos ser a arquitectura árabe, com os mosaicos e os arcos coloridos sobre as colunas que já viramos na mesquita-catedral.
Apenas mais uma experiência para tornar o passeio a Córdoba inesquecível.