Encontrámos tempo na nossa agenda de viagem apertada e ambiciosa para um lugar para os Alpes Japoneses, designação cunhada por um missionário ocidental que visitou a região no século XIX.
Uma boa ideia é fazer-se primeiro uma paragem numa das suas portas, Takayama, por exemplo. Esta é a região de Hida e o seu nome não mais sairá da minha cabeça e do meu paladar, só de lembrar do delicioso bife, este, o de Hida. E, ah, que paisagem confortante esta, a das montanhas. O verde é soberano, vegetação intensa, árvores enormes. A viagem de comboio desde Kyoto é, pois, deslumbrante à medida que entramos na região dos Alpes. O comboio chega a fazer o seu percurso por entre um vale junto a um rio, acompanhado, claro está, da referida vegetação.
Takayama tem um charme tradicional. Era uma cidade castelo na época dos Estados Guerreiros, século XVI. As lutas pelo poder fizeram com que o distrito de Hida ficasse sob o controlo dos Tokugawa e aí quase todos os samurais – fiéis ao seu senhor – abandonaram a cidade. A partir daí Takayama desenvolveu-se como uma cidade de civis.
Propriedade de mercadores que ganharam dinheiro como cambistas, a Kusakabe Mingei-kan foi reconstruída depois de atingida pelo fogo atendendo às características da arquitectura do período Edo. A casa da família Yoshijima, sua vizinha, é outro exemplo da arquitectura que ainda se pode observar em Takayama. Edifícios de dois andares em madeira cipreste, com chão coberto de tatami. Nesta última casa o design da época impera, enquanto que na outra encontramos aqui e ali objectos de cerâmica, mobiliário e outros acessórios antigos da região. O mais encantador quando se percorrem as divisões destas duas casas é vislumbrar aqui e ali, por entre as portas de correr de madeira e papel japonês, o verde do jardim a contrastar com o castanho da madeira.
Mas a melhor forma de o fazer é mesmo caminhar por Takayama, quer pelas suas ruas, quer à sua volta, deixando-nos envolver na floresta. Num percurso exterior encontramos uma série de santuários que parecem estar estrategicamente escondidos na montanha, sempre para nos lembrar a intima relação entre os japoneses e a natureza, intermediada pela religião nativa do shinto.
Nesta cidade tivemos a nossa primeira experiência de pernoitar num ryokan, os alojamentos tradicionais japoneses. Não jantámos, mas pelo pequeno-almoço bom para a vista e para o paladar tivemos um cheirinho do que será a experiência total de ficar numa destas hospedagens típicas. O chão do quarto é em tatami e a mobília é praticamente inexistente. Dormir no chão é, claro, parte obrigatória da experiência.