Alhambra

A Alhambra é dada a todos os superlativos. 
Descrições enormes, inspiradas e inspiradoras foram-lhe dedicadas. 
Paraíso não é palavra vã em Alhambra. Se o paraíso existe, não deve ser muito diferente do que se sente por lá.

Palácio, fortaleza, jardim – Alhambra é todos eles e muito mais.
Muitas estórias e histórias podem ser contadas e vividas, mas esta última começa antes mesmo da chegada da dinastia Nasrida a Granada. 
No sítio da Alhambra havia já uma fortaleza construída pelos antigos sultões. A fortaleza evoluiu para cidadela com a queda de Córdoba em 1236, mas foi com os nasridas que nesse século e no seguinte a Alhambra se tornou num complexo de fortaleza e palácios e começou a entrar na consciência e tocar fundo as emoções de todos nós que tivemos a oportunidade de lá cair. 
O nome deste que é o maior palácio medieval islâmico que perdurou até aos nossos dias – Qalat al-Hamra – significa castelo vermelho. Construída numa colina por entre as planícies férteis que ficam no sopé da Serra Nevada, de quase qualquer ponto da cidade de Granada se avista a Alhambra e a sua característica forma de navio, dominando na paisagem a Alcazaba, a sua parte mais antiga. A dura forma de fortaleza (era primeiramente uma estrutura militar que procurava garantir a segurança do conjunto, donde se alcançava uma visão estratégica de Granada e de toda a região envolvente), não deixa antever o esplendor e a beleza interiores da cidade palácio. Entre muros encontramos a alcáçova, vários palácios, casas, banhos, jardins, piscinas, fontes, árvores (mais uma igreja, dois hotéis e lojas). Os seus jardins, sobretudo, são uma recriação certeira do paraíso na terra.
Em resumo, delicadeza, harmonia e elegância é do que se trata, tendo a arquitectura Nasrida elevado estes adjectivos a padrões inimagináveis. E serenidade também, apesar da obrigatoriedade de dividirmos o espaço com os magotes de turistas como nós. Parece que tivemos sorte e naquele último dia de 2015 não era assim tão grande a enchente e o tempo de inverno estava primaveril (isto para compensar a chuvada que caia na primeira vez que a visitámos).
Nos dias de hoje a Alhambra é o resultado dos contributos dos vários povos que a ocuparam e a foram alterando durante os tempos (a este propósito, numa visita à Alhambra há sempre qualquer espaço em restauro). Começou a ganhar proeminência a partir de 1238 com emirado Nasrid, que se instalou em Granada na sequência e em agradecimento pela ajuda prestada aos cristãos na tomada de Sevilha aos mouros (sim, os nasridas também eram mouros, mas rivais dos outros mouros). Depois de 1492 os castelhanos, após a reconquista de Granada aos mouros que restavam na Península Ibérica, procederam a uma série de alterações e acrescentos, de que é exemplo o palácio renascentista de Carlos V. 
Mas uma inversão no desenvolvimento da região acabou por votar a Alhambra ao abandono, tendo sido até utilizada como caserna pelas tropas de Napoleão durante as Invasões Francesas, e só no século XIX voltaria a ser “descoberta”, cortesia dos escritores românticos, de que Washington Irving (com o seu Tales of Alhambra) é o nome mais pronunciado.
“Desmoronam-se salões e pátios, deterioram-se quadros e pinturas, mas, apesar do espectáculo desolador, a Alhambra não perdeu a magnificência e o esplendor, fazendo soar as cordas ocultas do visitante”, escreveu Irving acerca da Alhambra, que para ele é sinónimo de poesia e romance.
Graças também a ele, hoje podemos visitar a Alhambra monumental e deliciar-nos com o génio, talento e gosto superior dos nossos antepassados mouros. 
Lugar do poder político, mas também lugar de prazer para os sultões, a Alhambra é um misto de força e graciosidade. 

Uma pergunta, porém, seguindo Lorca: ao ter-se perdido uma civilização dedicada à arquitectura e poética delicadas, será esta uma gloriosa vitória dos espanhóis, como ensina a história?

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