Atenas, monumentos, museus, miradouros e bairros

Um anúncio do turismo grego de 2005 dizia: “viva o seu mito na Grécia”.

Caminhando por Atenas podemos imaginar um dos vários mitos gregos, ou até criar o nosso próprio mito, escolhendo o Deus do Olimpo que nos acompanhará.

Mark Twain pode ter passado por aqui rapidamente e não lhe ter achado graça, mas preferimos seguir e acreditar antes em Lord Byron quando afirmava que se era um poeta, ao ar da Grécia o devia.

Atenas é, na verdade, uma inspiração que moldou toda a civilização ocidental.

Muitas das nossa palavras têm origem grega, como arquitectura, filosofia, autonomia, democracia.

Foi na Ágora Antiga que a democracia começou a tomar forma e é por aí que começaremos este nosso passeio pelos monumentos de Atenas.

A Ágora Antiga era o coração da Atenas da Antiguidade, o espaço público onde os atenienses se reuniam para discutir assuntos administrativos, políticos e sociais e comerciar. Aqui o filósofo Sócrates discutiu política e expôs as suas ideias.

Hoje resiste magnificente a Stoa de Attalos, a passarela coberta que, diz-se, foi a primeira arcada comercial. São 45 elegantes colunas dóricas. Para lá delas fica um pequeno mas abrangente museu. Por todo o lado observamos esculturas belíssimas que apesar de poderem não estar inteiras nos encantam. O Templo de Hephaestus ergue-se ainda íntegro.

A Ágora Antiga fica localizada abaixo da Acrópole. E é a Acrópole a grande atracção de Atenas. Literalmente “lugar alto da cidade”, é um autêntico rochedo, a sentinela de Atenas, com ocupação desde o Neolítico. A civilização Micénica também o utilizou como poiso, mas foi quando a ideia de cidades-estado começou a ganhar forma que a Acrópole ganhou importância como lugar defensivo. Foi construída com muros de tal forma maciços que se designavam por Ciclópicos, ou seja, construídos pelos Ciclopes, as criaturas sobrenaturais da mitologia grega. Com a expulsão dos persas no século V, Péricles transformou a cidade por completo e graças ao maior líder que a Grécia jamais voltou a ter pode hoje designar-se a sua como a Época Dourada de Atenas, a deusa a quem dedicou a cidade e prestou culto. Uma época de prosperidade que no campo do teatro e da literatura nos deu Ésquilo, Sófocles e Eurípides, no domínio da história Tucídides e Herodoto e em matéria de filosofia Sócrates, Platão e Aristóteles. Tudo isto apesar das guerras de Atenas com Esparta. Alexandre, o Grande também por aqui passou e depois dele os romanos, em especial o Imperador Adriano. Com a divisão do Império Romano seguiram-se as invasões por parte de diversos povos. Até que chegaram os turcos e o Partenon chegou a ser mesquita e o Erecteion harém. Estes os dois mais impressionantes edifícios da Acrópole que resiste até hoje como o mais importante monumento da antiguidade do mundo ocidental. A cidade consagrada aos deuses, onde não é difícil acreditar nos mitos que nos dizem que eles, deuses, vinham aqui para dançar, passou a ser uma cidade de templos.

A entrada monumental da Acrópole faz-se pela Porta Beulé e a Propylaia e logo à direita, instalado numa espécie de plataforma, temos o simples mas bonito templo de Atena Nike.

O Partenon é considerado o mais bonito edifício jamais construído. O nome Partenon refere-se à divisão que tradicionalmente nas casas gregas era ocupada pelas virgens, as jovens mulheres que ainda não se haviam casado. Dedicado a uma delas, a deusa Atenas, a arquitectura atingiu aqui a sua perfeição e o Partenon viria a servir de modelo para muitos edifícios que se lhe seguiram. A primeira pedra foi lançada em 447 a.C. e foi construído inteiramente em mármore. As suas colunas dóricas são um esplendor. A quantidade de pessoas que o tenta captar o mais próximo possível é imensa e dificilmente aguentamos permanecer no mesmo sítio sem uns quantos encontrões. Missão impossível é captá-lo em fotografia sem pessoas à frente.

O Erecteion, mesmo ao lado da oliveira produzida por Atena, é o templo onde se diz que Poseidon / Neptuno cravou o seu tridente. Este é o parceiro certeiro do Partenon no que respeita a beleza. As cariátides, as figuras de donzelas que servem de colunas de suporte ao pórtico deste templo, mesmo sendo réplicas são do mais belo que se pode observar. Os seus pormenores escultóricos podem ser observados na sua plenitude no Museu da Acrópole, onde estão os originais de cinco destas figuras (a sexta encontra-se no British Museum).

O bilhete passe da Acrópole dá ainda direto de entrada em outros monumentos da cidade. Alguns deles podemos vê-los desde fora, como a Biblioteca de Adriano e a Ágora Romana e Torre dos Ventos.

O mesmo para o Olimpeu, o Templo Olímpico de Zeus. Mas este é tão impressionante, o maior templo da Grécia, que é uma pena deixar de se entrar no seu recinto para chegar o mais perto possível das 15 colunas que ainda restam das originais 104 colunas coríntias com cerca de 17 metros de altura.

O mesmo vale para Keramikos, paredes meias com as antigas muralhas da cidade, o antigo cemitério onde ainda resistem belas tumbas dos mais importantes vultos atenienses de outrora.

Na parte baixa da Acrópole ficam o Teatro de Dionísio e o Odeon de Herodes Ático, onde se apresentavam as grandes comédias e tragédias da dramaturgia grega. Modelo para vários teatros ao ar livre, construídos na encosta dos montes e com a sua característica forma em semi-círculo, a acústica destes espaços é gabada até aos dias de hoje.

Fora do bilhete passe de visita à Acrópole, muito há ainda para percorrer e conhecer da Atenas da Antiguidade. Mas provavelmente nenhum lugar será tão incrível como o Estádio Panatenaico. Encaixado entre pinheiros, com vista para a Acrópole e para o Monte Lykavittos, este é o lugar de um antigo estádio onde desde a Antiguidade se celebravam eventos desportivos e competitivos. Com o cristianismo veio a proibição de celebrações pagãs e espetáculos que entretanto vieram a ser considerados bárbaros como os duelos de gladiadores. O estádio foi perdendo preponderância e importância. Até que os primeiros Jogos Olímpicos da Era Moderna tiveram aqui lugar em 1896, revivendo a memória dos Jogos Olímpicos da Antiguidade. A sua reconstrução usando mármore pentélico, o mesmo do Partenon, é sublime. São filas e filas de lugares em mármore, cerca de 68 mil, um estádio numa forma oval quase completa onde na pista tem ainda lugar para umas estátuas de deuses absolutamente expressivas. O nome panatenaico é uma alusão a uma medida de distância usada na Antiguidade equivalente a aproximadamente 185 metros e o actual estádio foi o lugar da chegada da prova da maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas em 2004.

Entre os museus de Atenas, muita escolha há para fazer. E a escolha de deixar os vários Benakis de fora do roteiro foi forçada e não sem lamento. Atenas é um verdadeiro museu a céu aberto, mas ainda assim visitámos os incontornáveis Museu Arqueológico e Museu da Acrópole.

O Museu Arqueológico exibe obras desde o Paleolítico, passando pelas três grandes civilizações que ocuparam o território que hoje designamos por Grécia – a Minóica (a primeira civilização avançada na Europa), a Micénica e a Cicládica -, bem como do período clássico. Vemos ao vivo a Máscara de Agamemnon, as elegantes figuras estreitas cicládicas que inspiraram Amadeo Modigliani, os lindíssimos vasos cerâmicos com cenas do dia a dia ou histórias dos heróis e deuses gregos, a poderosa estátua de Zeus ou Poseidon e esculturas tão perfeitas que detalhes como relevos dos caracóis do cabelo ou da roupa parecem impossíveis. O que não é impossível é apaixonarmo-nos pelo busto de Antinous quase tão arrebatadamente como o Imperador Adriano por ele, Antinous, se apaixonou.

O novo Museu da Acrópole é uma construção recente. Inaugurado em 2009, está situado no sopé da Acrópole e propôs-se substituir um outro museu mais antigo e sem dignidade para acolher todas as maravilhas lá encontradas. É uma construção moderna que assenta sobre ruínas da antiga Atenas, deixando-as ver através do chão em vidro que os visitantes pisam.

O restaurante do museu tem vistas privilegiadas para a Acrópole, bem ali quase à distância de um estender de mãos. Mas é no seu interior, que através das suas amplas janelas deixa ver para o exterior funcionando como um prolongamento à cidade, que encontramos diversas obras-primas.

Desde logo, os originais de cinco das seis cariátides, as tais figuras de donzelas que servem de colunas ao templo Erecteion. Aqui podemos apreciar bem de perto toda a magnificência destas esculturas, uma delas praticamente intacta, desde os vincos das suas roupas até ao intrincado das suas tranças. Vemos ainda a escultura de um busto de Alexandre, o Grande, um apaixonado por Atenas. Mas o ponto alto da visita a este Museu da Acrópole é o piso onde é replicado o Partenon. Houve até a preocupação de que este piso fosse colocado ao mesmo nível do sítio do real Partenon. E aqui apreciamos uma vez mais em detalhe as esculturas do friso de 160 metros de comprimento onde os deuses do Olimpo lutam contra os gigantes. Lembrar, porém, que muito do que foi retirado da Acrópole está aqui neste museu, mas muito pode ainda ser visto no British Museum, em Londres. Poder de colonizador e pilhador assim o permite.

Três montes-miradouro de Atenas são de visita obrigatória.

O Filoppapou, também conhecido como Colina das Musas, tem monumentos e mais vestígios da Atenas da Antiguidade e tem mitos que lhe estão associados, como aquele que nos diz que foi aqui que Theseus e as amazonas travaram a sua batalha. Mas são as magníficas vistas para a Acrópole que nos fazem subir ao seu topo.

Também o Monte Areopagus tem vistas superiores para a Acrópole, ali mesmo ao lado dela. No entanto, são aquelas que se debruçam sobre a Ágora Antiga que nos seduzem.

Ao Monte Lykavittos podemos subir a pé, mas temos a alternativa fácil do funicular. O lugar onde os lobos em tempos passeavam é aquele com as melhores vistas para toda a Atenas. Daqui tudo se alcança, a Acrópole, claro, mas também o Pireu e o mar ao fundo e toda a densidade urbana da cidade, apenas interrompida por diversos rochedos.

O bairro dos bairros de Atenas é a Plaka, o antigo quarteirão turco. É o mais pitoresco, em especial o quarteirão Anafiotika, bem debaixo da Acrópole.

Mas a Plaka é sobretudo feita da multidão que enche as suas ruas estreitas com lojas e restaurantes. É absolutamente turístico, mas registe-se a simpatia dos gregos. De todos eles. Não houve um funcionário de restaurante que não nos dedicasse uma atenção bem disposta e divertida. E ninguém precisou de soltar um “Cristiano Ronaldo” em resposta ao nome de Portugal para percebermos o respeito que mostram pelo nosso país.

A Praça Syntagma, o centro da moderna Atenas, conhecemo-la como o palco das manifestações dos gregos contra as medidas da troika. Para o visitante, a piada da Praça está em assistir ao render da guarda à frente do Parlamento. Os soldados possuem uma fatiota espampanante, o que nos deixa sem palavras para aqueles seus sapatos com pompons e estupefactos com os seus jeitos e trejeitos. A não perder.

Monastiraki é o bairro onde não faltam opções de restaurantes e bares, numa movida incessante. Mas uma das experiências a viver em Atenas é almoçar, jantar ou beber um copo num dos muitos terraços que os seus edifícios oferecem. E, claro, a vista que todos procuramos é aquela que nos dá de bandeja a Acrópole. Duas sugestões: o Café Avissinia (a sua moussaka é deliciosa) e o bar do hotel A for Athens.

Para propostas completamente fora da caixa, o bairro Metaxourgio é a escolha certa. Os gasómetros do Technopolis são um ambiente surpreendente para se instalar uma ideia como o Dinner in the Sky (jantar no céu), uma estrutura a fazer de mesa suspensa a 50 metros de altura através de um guindaste, oferecendo certamente vistas fabulosas (digo certamente porque apenas vi esta experiência de baixo). O cenário alternativo estende-se pelo bairro fora e uma outra proposta é uma refeição no Latraac, misto de café com skatepark.

A cultura urbana marca também presença forte em Exarcheia com os seus inúmeros graffitis. Este bairro é uma síntese perfeita da Atenas deste século, uma cidade decadente e caótica mas jovem e vibrante.

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