Santorini

Entre as muitas ilhas gregas, e em especial nas Ciclades do Mar Egeu (24 ilhas principais, fora rochedos inabitados), Santorini aparece sempre como a primeira escolha. A escolha de sonho, mesmo.

É provavelmente a ilha mais romântica, a preferida para luas de mel, mas não é preciso viver um romance para se ser feliz na ilha. Um trio de amigas pode divertir-se a valer e deixar-se seduzir pelo branco imaculado das vilas e pelos seus pores-do-sol mágicos.

À partida levava a imagem dos barcos de cruzeiros a descarregarem multidões, acrescentada pelas já esperadas multidões estivais de Agosto, de pouco espaço para circular, dos burros a carregarem turistas velhos e gordos, de preços astronómicos. Nada disso trouxe para casa e nada disso me vem à memória quando penso nos três dias inteiros que passei em Santorini. Sei-o hoje, será uma pena e uma perda se pré-conceitos e pré-juizos nos afastarem de Santorini. Não é a ilha que nos merece. Somos nós que a merecemos.

A beleza de Santorini não está na paisagem natural da sua terra. A principal ilha é conhecida como Thira e esta ilha de origem vulcânica é um autêntico rochedo agreste em toda a sua costa ocidental, chegando os penhascos a tomar 300 metros. Acontece que esse rochedo fica virado para um mar incrivelmente bonito a qualquer hora do dia, terminando com os tais pores-do-sol mágicos, e possui umas vilas absolutamente tocantes.

A história geológica do arquipélago de Santorini é muito curiosa.

Antigamente chamada Strongili, a ilha era uma só e redonda. Uma enorme erupção há cerca de 3600 anos (em 1630 a.C.) fez com que o centro da ilha abatesse e afundasse, desmembrando-a e dando origem a três ilhas: Thira, Thirasia e Aspronisi. Esse centro afundado é hoje a caldeira, para onde os referidos penhascos da parte ocidental de Thira caiem dramaticamente, e aí foram entretanto formadas as ilhas Palea Kameni e Nea Kameni na sequência de novas erupções vulcânicas nos séculos XVI e XVII. Nea Kameni é a ilha-vulcão, a mais recente formação do Mediterrâneo Oriental.

Ultrapassada a era da civilização cicládica, na época daquela grande erupção vulcânica a ilha era habitada por uma civilização próspera similar àquela que ocupava Creta, a Minóica, que com ela possuía relações comerciais. Akrotiri, que não visitámos, é uma antiga cidade Minóica testemunha desse tempo situada a sul de Thira. Pensa-se que esta erupção foi tão grande, provavelmente uma das maiores de sempre, e produziu tais alterações climáticas que terá sido essa a causa que levou ao declínio da civilização Minóica.

Posteriormente e sucessivamente, as ilhas foram tomadas pelo Império de Atenas, pelo romano, pelos venezianos, pelos turcos, até que a Grécia ganhou a sua independência no século XIX. Nos anos 70 do século passado deu-se o boom do turismo e hoje de todos os cantos do globo chegam “invasores”.

Ao contrário do que se possa pensar, a Thira-Santorini de hoje não trata de nos mostrar o luxo. É sobretudo um imenso bom gosto que ela nos oferece. O estilo cicládico de branco e azul está lá, vilas feitas de casinhas empoleiradas desde o topo das encostas vindo por aí abaixo, telhados planos transformados em terraços miradouros com vistas soberbas, ruas estreitas e labirínticas – uma garantia de defesa contra os piratas e elementos como o vento – que se perdem num dos exclusivos apartamentos-cave, muitos deles donos de piscinas infinitas que caem para o mar.

As várias igrejas que nos aparecem no caminho são apenas mais um adereço para tamanho encantamento. Elas lá estão, com as suas cúpulas azuis tradicionais numa linda parceria com as casas brancas que as rodeiam. Ou podem ser elas próprias alvíssimas. Ou até tomar cores em tom pastel. Tanto faz, são sempre belíssimas nesta paisagem idílica.

Não faltam sequer umas buganvílias para compor a paleta.

Em Santorini tudo é simples, elegante e gracioso.

E não há melhor para o comprovar do que caminhar entre Fira, Firostani e Imerovigli, o ponto mais alto da caldeira. As vistas sucedem-se e mesmo que se diga que este percurso demora cerca de 30 minutos de uma vila à outra é bem provável que na verdade gastemos mais de 3 horas para o percorrer, tal é o deslumbre que força a repetidas paragens para a devida contemplação.

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