O dia fez-se no Ilhéu das Rolas. Partimos de manhã da praia do Inhame, com o Carlitos a manobrar o barco. Connosco seguiram três casais mais velhos, dois portugueses e um americano. Jay, o elemento masculino do casal americano, é um apaixonado por pássaros e estava em busca de quatro espécies que ainda não conhece. Ela, a Blair, estava a apostar em fazer mergulho. Ambos, ao que parece, estavam em romance e vieram de longe, seguindo o conselho de um amigo, que lhes indicou São Tomé como um dos lugares mais românticos.
Chegados ao Ilhéu, iniciámos a trilha a caminho do marco do equador. É por aqui que passa a linha imaginária que divide o Norte e o Sul da Terra. Ali encontramo-nos a zero graus de latitude, com a possibilidade de ter um pé no hemisfério norte e outro no sul.
Depois de estarmos com um pé em cada hemisfério, descemos para o hemisfério norte, rumo à praia Café. Pelo meio cruzamo-nos com mangueiras, goiabeiras fêmeas e machas, jaqueiras, a árvore da fruta pão e com muita outra diversidade de árvores.
À chegada à praia extasia-nos o azul turquesa da água.
Momento de snorkeling. Momento de pura alegria. Fascina-me o mundo subaquático e a sua diversidade. É uma imersão total. Com uma visibilidade impecável, tudo se torna mais mágico e diáfano.
Não nos deixamos ficar apenas por esta praia, e com um miúdo-guia, chamado Valter, vamos pelo trilho envolvido em coqueiros até à praia da Bateria. A acompanhar-nos vem também um rapaz, o Mestre, de Ribeira Peixe, que está ali a lazer de visita aos amigos. Seguimos ao som do kuduro de Angola que sai do seu telemóvel.
Ao chegarmos, o azul turquesa vivo da água, de forma adorável, invade-nos. Arrebata-nos. Que cor. A qual se acentua mais com o contraste com o preto da pedra vulcânica, o branco da areia e o verde dos coqueiros.
Os rapazes mergulham e os seus corpos pretos e perfeitamente delineados sobressaem ainda mais.
Voltamos para a praia Café. Pelo meio uns rapazes apanham e carregam bambu, que servirão para fazer os ninhos das tartarugas. Ou tárrrtarrrugas, à moda São Tomense, em que se carrega bem nos R.
Não resisti a novo mergulho e snorkeling. Empresto uma das máscaras ao Mestre, que pouco antes confessou que gosta de fazer mergulho, mas que só faz quando os amigos lhe emprestam uma máscara. Quer também o tubo. Mergulhamos juntos. Mais tarde ofereço-lhe o conjunto.
O céu torna-se cinza e pesado, como só nos trópicos consegue ser. Hesita-se se o almoço é na praia, conforme programado, ou noutro local mais abrigado.
Confiamos e deixamo-nos ficar pela praia. Enquanto almoçamos, numa mesa no areal debaixo dos coqueiros, um fabuloso peixe grelhado com fruta pão e banana pão frita e arroz, acompanhado de água de coco, observamos o Mestre a mergulhar e, seguramente, a divertir-se tanto como me divirto na água. Assim seja.
A conversa rola solta tanto com os portugueses como com os americanos. Com os americanos trocamos pontos de vista sobre a política mundial actual e sobre o percurso político e histórico de Portugal. Com os portugueses a conversa centra-se nas ex-colónias e como era a vida naquelas. Todos viveram em Moçambique e uma delas nasceu em São Tomé.
Horas de regressarmos ao Inhame. Antes observamos alguns momentos da faina. Tudo é sereno.
Já de regresso à ilha principal, voltamos a Porto Alegre, a comunidade vizinha da Praia Inhame. À tarde o ritmo é outro. O peixe já não se encontra a secar e tudo está mais calmo.
Voltamos para a praia Inhame, para um final de dia quente e suave junto ao mar.
É dia dos namorados. O hotel não esquece e prepara um jantar especial. Com as mesas instaladas no areal, música ao vivo e comida excelente, tudo está perfeito e a preceito.
Será que o Jay e a Blair concordam que São Tomé é um lugar romântico?
Tem tudo para ser.
Naquele noite penso e sinto que a vida pode ser boa. Lembro-me da música tão bem interpretada pela diva Mercedes Sosa e faço minhas as suas palavras. Agradeço à vida.