Depois de uns dias maravilhosos pelas praias e belezas do Sul, deixamos a linha do Equador para trás e voltamos para norte, designadamente para São Tomé, a capital.

Parece que nos começamos a habituar às estradas, a tal ponto que sentimos que a viagem se faz de forma absolutamente tranquila.
Repetimos, em grande parte, o trajecto que fizemos quando fomos para sul. Mas não nos importamos. Tudo o que os olhos alcançam é beleza.
Antes de chegarmos à capital paramos no Club Santana para almoçar e para um mergulho.
Repetimos, em grande parte, o trajecto que fizemos quando fomos para sul. Mas não nos importamos. Tudo o que os olhos alcançam é beleza.
Antes de chegarmos à capital paramos no Club Santana para almoçar e para um mergulho.

De um lado fica o Club, espaço muito arranjado, com piscina e esplanada a debruçarem-se sobre o mar. Do outro, um povoado simples e humilde, como a maioria de São Tomé.
Apodera-se um sentimento ambivalente e, por momentos, lembro-me de uma das minhas músicas preferidas. A Novidade, de Gilberto Gil, que no refrão canta:
“Oh! Mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Oh! De um lado esse carnaval
De outro a fome total
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!…”
Tudo é tão desigual
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!
Oh! De um lado esse carnaval
De outro a fome total
Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!…”
Só não se aplica totalmente porque, felizmente, a abundância de frutas e legumes em São Tomé faz com que a fome não seja um problema de maior.
Do lado humilde, uns miúdos brincam na água, enquanto em terra os homens arranjam as redes de pesca. Também em terra uns barcos descansam.

Do lado do Club é como se estivéssemos em Cascais ou noutro local requintado do mundo. Não fosse uma mesa carregada de políticos e empresários africanos e a envolvente tropical. Achamos mais interessante ver o que se passa do outro lado. Caminhamos pela praia e damos um mergulho.
Aproximamo-nos de um dos miúdos que antes, ao longe, víamos que brincava.
Ali está ele numa grande diversão, com um pedaço de madeira que faz as vezes de uma prancha. Aproveitar o que se tem. É o lema.
Não há ondas. Não tem importância, também se improvisa. Uma corrida, grande agilidade e zás, em pé na prancha, para de seguida deslizar pela água.
Aproximamo-nos de um dos miúdos que antes, ao longe, víamos que brincava.
Ali está ele numa grande diversão, com um pedaço de madeira que faz as vezes de uma prancha. Aproveitar o que se tem. É o lema.
Não há ondas. Não tem importância, também se improvisa. Uma corrida, grande agilidade e zás, em pé na prancha, para de seguida deslizar pela água.

Pura diversão.
Começo à conversa com o miúdo e pergunto-lhe pelo nome e se gosta de apanhar ondas. Jadilson, confirma que sim. Continuo à conversa e com pena de não poder partilhar umas ondas com um dos melhores surfistas que conheci. Sim, porque o melhor surfista é o que mais se diverte.
Antes de prosseguir a caminhada pelo areal, apresenta-me o cão e o irmão. Uma simpatia e doçura genuína. Tão perfeita, como os músculos que torneiam o seu jovem corpo.
Mais à frente uns homens arranjam as redes de pesca e mais uma vez presenteiam-nos com a sua simpatia.
Começo à conversa com o miúdo e pergunto-lhe pelo nome e se gosta de apanhar ondas. Jadilson, confirma que sim. Continuo à conversa e com pena de não poder partilhar umas ondas com um dos melhores surfistas que conheci. Sim, porque o melhor surfista é o que mais se diverte.
Antes de prosseguir a caminhada pelo areal, apresenta-me o cão e o irmão. Uma simpatia e doçura genuína. Tão perfeita, como os músculos que torneiam o seu jovem corpo.
Mais à frente uns homens arranjam as redes de pesca e mais uma vez presenteiam-nos com a sua simpatia.

Depois de sairmos do Club, passamos pela vila de Santana, onde quebra uma das melhores ondas, para surf, de São Tomé. Fora da temporada, o mar encontra-se uma piscina. Talvez um dia apanhe ali umas ondas.
Passamos pela igreja da povoação e encaminhamo-nos para a capital. Vamos serpenteando, sempre junto ao mar.
Passamos pela igreja da povoação e encaminhamo-nos para a capital. Vamos serpenteando, sempre junto ao mar.
Passamos por vários povoados e praias. A confusão e densidade tipicamente africana acentua-se.
Os lugares desertos do Sul dão lugar a uma realidade feita de comércio, azáfama e movimento. Na praia, acabado de chegar, vende-se o peixe.

Aproximamo-nos de uma realidade mais urbana. Sobressaem alguns vestígios da arquitectura colonial, que se faz de degradação. As marcas materiais da história não resistem ao tempo cronológico.
Chegamos à cidade de São Tomé. Deambulamos de carro pela marginal e pelas suas ruas. Vamos para o hotel e deixamos as malas.
Chegamos à cidade de São Tomé. Deambulamos de carro pela marginal e pelas suas ruas. Vamos para o hotel e deixamos as malas.
Saímos de novo, passamos pela azáfama do mercado. Dirigimo-nos à Baía Ana Chaves, depois à Praia do Lagarto. Lanchamos na chocotataria Diogo Vaz. Mais uma vez o requinte do lugar transporta-nos para outras coordenadas. Deixamo-nos ficar no fresco do ar condicionado a saborear um brownie de chocolate, depois de termos decidido os chocolates que levaríamos no dia seguinte.
Voltamos para o calor húmido e denso do exterior. O entardecer não tarda vai dar lugar à noite.
Voltamos para o calor húmido e denso do exterior. O entardecer não tarda vai dar lugar à noite.

Com a noite, vem a escuridão, porque a iluminação urbana é ténue. Jantamos no Paraíso dos Grelhados, lugar simples numa esplanada virada para a Baía Ana Chaves. O breu não nos permite admirar as vistas e só com a ajuda da pequena vela que ilumina a nossa mesa conseguimos ver, tenuemente, a comida. Naquele momento o sentido mais importante de estar apurado não é a visão, mas antes o paladar. Ah, e este indica que está tudo perfeito.
Deixamos as visitas mais profundas para o dia seguinte.
Deixamos as visitas mais profundas para o dia seguinte.
Acordamos. O sol já nasceu e vai brilhando lá fora. Tomamos o pequeno-almoço, carregado de frutas e produtos locais.
Fazemo-nos às ruas da capital e dirigimo-nos à Associação CACAU, local que promove a cultura São Tomense, através de exposições temporárias, artesanato, actividades culturais e restaurante com a gastronomia local.

Quando regressamos à rua sentimos os humores meteorológicos dos trópicos. O céu coloca-se cinzento escuro.
Passamos pela Igreja Nossa Senhora do Bom Despacho.

Nas ruas vendem-se frutas. Numa praia trata-se da faina. Noutra uns miúdos jogam vólei, enquanto por trás localiza-se o Forte São Sebastião e as Estátuas Aos Descobridores de São Tomé.

Entramos no Forte São Sebastião, onde está o Museu Nacional, o qual conta a história do país.

Enquanto isso começa a chover. Para não mais parar ao longo do dia. No nosso último dia o céu desaba em nós.
As ruas começam a ficar vazias. Aos poucos as pessoas recolhem-se. Apenas na área do mercado isso não é verdade.
Antes de aí imergirmos deambulamos a pé pelas ruas e admiramos a arquitectura colonial e vários exemplos de arquitectura modernista com um toque tropical.


Entretanto vamos às compras ao Artesanato Pica Pau, um colectivo de artesãos, e à banca da Isabel, onde nos abastecemos de frutas locais para trazemos para casa.

À frente, junto ao mar, as peixeiras vendem o peixe que os barcos, que agora repousam na areia, trouxeram do mar. Os miúdos brincam na água, porque a chuva apenas reduz ligeiramente o calor, mesmo ao lado da igreja cor de rosa debruçada na Baía Ana Chaves.


A chuva cada vez caí com mais intensidade. As ruas viram rios. Abrigamo-nos numa pastelaria e comemos uma interpretação tropical do pastel de nata. As marcas portuguesas na culinária persistem mundo fora.
Imergimos na intensidade do mercado novo e velho. Cores, texturas, barulho, confusão e cheiro forte, misto de odores dos produtos com urina. Tinham-nos desaconselhado compras no mercado por questões de higiene, mas não visitar seria ficarmos orfãs de um dos elementos e vivências mais importantes de qualquer cultura, e em especial da africana.



Praticamente não há produção industrial no País. A cerveja Rosema é um dos poucos produtos locais. No entanto, sente-se constantemente a presença de produtos portugueses, sejam as cervejas, como os sumos, entre outros, assim como de empresas. Algumas são as legítimas, outras são imitações, como o Pingo Doxi e o Pléçu Cetu.
Praticamente apenas nós caminhamos pelas ruas, cada vez mais vazias, porque a chuva não dá tréguas. Passamos pela Praça da Independência, com o Banco Central de São Tomé e Príncipe numa das pontas. Prosseguimos e atravessamos a ponte do Rio Água Grande, que uns metros à frente desagua na Baía Ana Chaves. Para nascente fica a Catedral da Sé e o Palácio Presidencial.


Percorremos a Avenida Marginal 12 de Julho. O murete que ladeia a Baía dá ares de outrora ser elegante, contudo, actualmente foi apoderado pela degradação inexorável do tempo.

Reflectimos sobre como pode ser feita a sobrevivência de um pequeno país como São Tomé e Príncipe. A descolonização foi feita há mais de 40 anos, mas por vezes fica a ideia de que sem o apoio exterior, designadamente do ex-colono, tudo é mais difícil ou mesmo impossível. Não sabemos como será feito o futuro, mas esperemos que a beleza e simpatia desta terra e povo permaneça. Cá nós, trouxemo-la na memória e no coração.
Até breve São Tomé e Príncipe.