O Espaço de Visitação e Observação de Aves – Evoa – está instalado em Vila Franca de Xira, em plena Reserva Natural do Estuário do Tejo e lezíria, uma zona de pura paisagem natural.
Para lá chegarmos seguimos por alguns quilómetros em estrada de terra batida na companhia de pastagens e arrozais. Sem perder de vista os equipamentos industriais que são a imagem de Alhandra, em terra firme numa das margens do Tejo, e a castiça igreja de Alcamé, em plena lezíria. Pura paisagem natural? Sim, mas a presença do Homem faz-se notar, e bem, num interessante convívio contrastante.
Inaugurado em 2012, o Evoa é o resultado de uma parceria entre a Companhia das Lezírias (dona dos terrenos) e a Brisa. À entrada do Evoa recebe-nos o seu belo Centro de Interpretação, numa arquitectura bem integrada na paisagem. Projecto de Maisr Arquitectos, o edifício desenvolve-se em plataformas e utiliza a madeira como material, remetendo para a ideia de juncos e paliçadas e de ambiente natural. Lá dentro, a exposição permanente dá-nos um enquadramento da história e do ecossistema da lezíria. Ficamos a saber que a abundância de recursos, o clima ameno e a localização do estuário e da lezíria atraíram desde sempre tanto as aves como o Homem. A fertilidade da lezíria, graças ao rio Tejo, era já gabada na Antiguidade e tem permitido diversas actividades como a pesca, a agricultura, a pecuária, a apanha de ostras e a extracção de sal. E o sapal e a dinâmica das marés são decisivas no equilíbrio deste ecossistema.
Mas porque ao Evoa vimos para observar aves, vamos então a elas. No dia em que o visitámos, antes de sairmos rumo à descoberta de parte dos 70 hectares das 3 lagoas de águas doce – a Principal, a Rasa e a Grande – que vão até à Ponta da Erva, na confluência dos rios Sorraia e Tejo, tivemos a sorte de ver libertar uma ave. Um guarda-rios tinha caído logo de manhã na rede propositadamente existente no Espaço para permitir a apanha das aves e seu posterior anilhamento, de forma a monitorizar os seus percursos, permitindo saber quantos quilómetros percorrem estas aves migratórias e até onde vão, incluindo a velocidade média que gastam a ir de um ponto para o outro. Com isso ficámos a saber que algumas das aves, se apanhadas pelos radares das nossas estradas, seriam imediatamente multadas ao voarem a mais de 180 kms/h.
Voltando ao guarda-rios, um passarinho com umas cores lindas, foi primeiro colocado na palma da mão de uma das responsáveis do Espaço onde se aninhou até sentir o conforto e a confiança para iniciar a sua jornada.
O Evoa é um importante ponto na rota das migrações das aves. É a mais importante zona húmida de Portugal e uma das mais relevantes da Europa e aqui se podem ver as aves no seu habitat. São mais de 120 mil aves e 200 espécies diferentes que aqui têm um lugar de refúgio e nidificação.
Existem vários percursos pedestres e outro em carrinho eléctrico – apenas com este último atingimos a Ponta da Erva, o lugar mais distante do centro de interpretação, onde se avista bem ao longe Lisboa com a sua Ponte Vasco da Gama. As visitas podem ser guiadas ou não, mas para leigos em avifauna, como eu, a visita guiada é totalmente aconselhada. Vejamos, já quase passei o estágio de distinguir um melro de uma melra pelo tom do bico, mas como identificar um banal rouxinol, seja pela silhueta ou pela cantoria? Com guia somos alertados quer para a presença física quer sonora das diversas aves. Ao rouxinol, no Evoa, ouvi-mo-lo, embora não o tenhamos visto.
O primeiro desafio na observação das aves é saber usar os binóculos. No Evoa há aves em abundância, mas elas não são facilmente apreciadas de perto e a olho nu. Há que usar os binóculos e até o telescópio em cada um dos postos de observação junto a cada uma das lagoas ou a céu aberto. Depois é aguardar que as aves, incluindo águias, voem sobre nós ou apontar os binóculos para aquelas que se deixam estar pacatamente pelas zonas húmidas. E aí, o melhor momento para as observar é na maré cheia do rio, quando elas deixam o estuário para se recolherem nas lagoas artificiais do Evoa. Quanto à época do ano, embora o Inverno reúna mais diversidade de espécies, é na Primavera que as aves aparecem em maior quantidade.
O guia lá vai descobrindo e anunciando a localização exacta de determinadas espécies, depois melhor identificadas pelos visitantes. Patos são aos magotes, em especial na Lagoa Rasa. O que não sabíamos é que havia assim tantos tipos de patos, incluindo um com o nome pipoca de marrequinha. Mas a ave de que mais gostei de observar foi o abibe, com a sua poupa elegante. Deu ainda para apreciar o pernilongo com suas patinhas fininhas alaranjadas, o alfaiate com o seu fato branco com listinhas pretas e as sempre esbeltas garças, igualmente com montões de espécies dentro delas. Vimos ainda o cartaxo, gerando a confusão de como de Vila Franca se pode observar o Cartaxo. Infelizmente não pude vislumbrar o colhereiro e seu bico em forma de colher. A piada de observar aves é ver as diferentes especificidades que tomam e também apercebermo-nos dos curiosos nomes que lhes atribuem.
Um lamento, porém. Para registar fisicamente estas encantadoras espécies há que dispor de equipamento adequado, ou seja, uma máquina fotográfica com objectivas de longo alcance, o que não é, pode ver-se pelas fotos, manifestamente o meu caso. Fica o registo da paisagem que as acolhe, igualmente imensa.