Este blogue leva como nome “Andes Sem Parar”. Porque pretendíamos não nos cansar de andar por aí e porque foram os Andes quem primeiro começou por nos fascinar.
Em 1998 viajámos pela primeira vez até aos Andes. À Patagónia. Desde aí fomos subindo, tomando o norte até ao último contacto com os Andes em 2016, já aos pés das Caraíbas, na Colômbia. Nunca pensei que essa viagem inicial de há 22 anos viesse a ser até hoje a única até à Patagónia, para mim ainda hoje o lugar mais fantástico e sonhado dos Andes.

É precisamente em Ushuaia, a cidade mais austral do planeta, que tem início a série documental “Andes Mágicos”, disponível em streaming na Netflix. E é aí que começa a Cordilheira dos Andes, o nosso primeiro amor de viagem, a maior cadeia montanhosa do nosso planeta, com a extensão de 7500 kms que rasgam a América do Sul de sul a norte.
Ao assistir, agora, aos 6 episódios desta série, um guia para os Andes que vai desde o sul glaciar da Patagónia argentina ou chilena até aos trópicos das Caraíbas colombianas, percebi o tanto que já tive oportunidade de conhecer, mas também as saudades de rever muito e a vontade de visitar muito mais.
É de uma enorme diversidade de paisagens e culturas de que se trata. Para além dos glaciares e da selva, pelo meio temos vulcões ora adormecidos ora atentos, desertos de sal branco e outros de terra vermelha, montanhas de diversas formas e lagos de diversas cores, rios tranquilos ou revoltos à vez. Até vistas para praias no Pacífico. Um paraíso para aventureiros, sejam eles amantes da canoagem, pesca desportiva, bicicleta, escalada ou simples caminhantes contemplativos. As condições de vida inóspitas, como o frio, o vento, a falta de luz, o calor, a remotidão, não foram nem são suficientes para impedir que a região seja povoada desde há muito e tenha visto florescer povos como os mapuches, os quechua ou os incas, com povos nativos que até hoje preservam as suas tradições ancestrais, com a veneração da montanha à cabeça, elemento de ligação com a madre tierra que dá a vida, a Pachamama.
A natureza por aqui pode ser dura e hostil, mas como diz alguém em dado momento num dos episódios desta série “quando sai o sol tudo se esquece”.
Voltando aos incas, é protegido pelas montanhas dos Andes que encontramos um dos maiores sonhos de quase todos os visitantes: a antiga cidade de Machu Picchu, o centro daquela civilização. Mas os símbolos dos Andes não se ficam pelos incas. Aqui é o lugar da mais alta montanha da América e a mais alta fora dos Himalaias, o Aconcágua, com os seus 6960m. O deserto mais árido do mundo, o Atacama, e o maior deserto de sal, o Salar e Uyuni, também ficam nos Andes. Bem como o lago navegável mais alto do planeta, o Titicaca. E onde fica a mais alta capital do mundo? Nos Andes, pois claro, na incrível La Paz, a 3700m de altitude, no entanto, nada comparado com o seu subúrbio El Alto, a 4150m, ou o seu protector Chacaltaya, a 5421m.
As cidades dos Andes, como La Paz e Medellin, por exemplo, são ainda únicas por terem desenvolvido engenhosos e modernos sistemas de transporte através de teleférico para vencer a dificuldade de movimentação pelas suas montanhas. E no Lago Titicaca, por sua vez, as comunidades que se estabeleceram pelas suas águas, fazem-se transportar por barco.

Este é ainda o lugar em que as mulheres preservam a tradição com os seus trajes coloridos e trancinhas como adorno. Mas que, ao mesmo tempo, vestidas com esse mesmo traje tradicional, não deixam de jogar futebol, mostrando que guerreiras também podem divertir-se.
A fauna dos Andes não é menos mítica, com o Condor, a maior ave do mundo, como maior símbolo. As serpentes e os pumas são ainda mais difíceis de ver, felizmente. Mais fácil e amoroso é darmos com uma vicunha, lama ou alpaca ou um flamingo.
E esta é ainda a terra que permite mais de 3000 variedades de batata ou o cultivo de café e a plantação de vinha.
Ao longo desta série, os seus personagens, habitantes e amantes dos Andes, vão tentando traduzir em palavras o que é para eles os Andes. Que são um monumento natural, fascínio, vida e paz, uma benção. Mágicos.