O Fanal deve ser dos lugares mais desconhecidos para um não madeirense, mas pergunte-se a um insular qual o pedaço da sua ilha que mais adora e provavelmente o Fanal constará de qualquer lista. O PR 13, designado Vereda do Fanal, tem 11 fáceis a moderados quilómetros e mostra-nos porque arriscamos também nós, cubanos, a ficar apaixonados pelo lugar. E o que tem o Fanal de especial? Um pouco de tudo, mas sobretudo as vistas de cortar a respiração e as árvores de formas incríveis da floresta Laurissilva. E o nevoeiro, elemento que acrescenta um ambiente de magia inigualável.


Esta caminhada tem início recomendado nos Assobiadores, a meio caminho entre o planalto do Paul da Serra e a costeira Porto Moniz, garantindo-nos, assim, que o façamos quase sempre a descer. É um percurso linear, pelo que tivemos de contratar um táxi para no final, no Posto Florestal do Fanal, nos levar de volta ao ponto inicial (a corrida ficou por 25 euros).

Começamos a 1427 metros de altitude e logo desde o início somos completamente envolvidos pela urze arbustivo, típica da região da Macaronésia. O dia estava soalheiro, ideal para vistas fantásticas sobre o vale do Rabaçal, situado na vertente esquerda do percurso por onde são efectuados os primeiros quilómetros.


O trilho tanto corre a céu aberto como, de repente, nos calha uma sombra natural num pedaço de floresta cerrada. Uma escadaria cénica, umas árvores curvadas carregadas do verde do musgo, troncos que se sucedem irradiando como feixes, uma ponte sobre um fiozinho de água, todos estes elementos, em conjunto, formam um belo ambiente.




A meio do percurso atravessamos a estrada rumo à vertente direita e entramos na floresta do Fanal propriamente dita. E o que nos espera é um cenário completamente diferente daquele que vínhamos tendo até aí: uma floresta Laurissilva plena de magia.




A Laurissilva, já o dissemos, é a floresta indígena da Madeira. Há 15-40 milhões de anos cobria muito do sul da Europa, mas hoje está presente apenas na Madeira, Açores e Canárias. Mas é na Madeira onde ela é mais expressiva e íntegra e por isso está classificada como património da humanidade pela Unesco. Cerca de 20% da ilha está coberta desta floresta e a sua vegetação corresponde maioritariamente à vegetação primitiva. E o mais interessante é constatar a sua versatilidade, uma vez que a Laurissilva do Fanal não tem nada a ver com a Laurissilva do Caldeirão Verde, ambas no norte da ilha. No Fanal as árvores são frondosas mas também formosas, com formas incrivelmente intrincadas. É de uma beleza enternecedora. Maria Lamas falava do “silêncio das árvores quietas” e estas árvores, apesar de parecerem tudo menos quietas, trazem efectivamente um sossego absoluto. Aqui o trilho não é tão óbvio daí que embebidos na floresta nela nos percamos, quer em sentido figurado quer literal. Mas quem se importa de andar por ali às voltas, abraçando os troncos das árvores enquanto os seus ramos estendidos nos afagam?




E, em pouco tempo, à aproximação do final da floresta o cenário muda uma vez mais. Passamos a caminhar por uma planície de pastagem, mas não vemos nenhumas vaquinhas. O nevoeiro vai cerrando e os miradouros nesta zona com belas vistas para a costa norte (povoações do Seixal e da Ribeira da Janela) passam a meras promessas. Nesta vereda do Fanal somos previamente alertados para o nevoeiro que aqui amiúde assenta arraiais e que faz com que os caminhantes se possam perder no caminho – é, pois, indispensável fazer-nos acompanhar de gps. Mas olhando aquele céu azul do início da caminhada julgámos impossível que outro tempo nos pudesse tocar. Os humores do clima, com suas mudanças repentinas, fazem parte da graça do Fanal. Mesmo no final, já na descida para o Parque Florestal, a 1150 metros de altitude, tocou-nos apreciar a bela colecção de tis retorcidas com o nevoeiro como padrão de fundo. Beleza pura; uma atmosfera incrível. Ficamos a pensar que foi melhor assim, ter esta imagem mágica cheia de mistério, algo que os raios de sol nunca poderiam conferir-lhe. E, então, ficamos com a certeza de que os madeirenses é que a sabem toda, ter o Fanal como lugar de eleição. Havemos de voltar para o rever envolvido em nevoeiro e conhecê-lo sob o domínio do sol.


Junto ao Posto Florestal do Fanal há uma zona de lazer, com muito espaço verde e mesas de piquenique, e não muito longe fica a lagoa do Fanal, que não chegámos a conhecer. So está zona de lazer já é perfeita para se sentir o ambiente irreal do bosque de tis centenárias, pelo que caso não queiramos fazer o PR 13 por inteiro já se perceberá parte da magia do Fanal.
Que espetáculo!😍
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O Fanal é mesmo imperdível.
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