Island Dreams, de Gavin Francis

Island Dreams – Mapping an Obsession, de Gavin Francis, é um livro que teve origem num fascínio. O fascínio por ilhas por parte deste médico escocês, que teve a oportunidade de ter estado destacado profissionalmente em lugares remotos como a Antártica e outras ilhas improváveis, fez da sua paixão uma obsessão. Sorte a nossa que com isso ganhámos um livro bonito.

As suas primeiras ilhas foram escocesas, ou não fosse a Escócia um rendilhado de ilhas. Geograficamente podem estar traçadas num mapa como pertencentes à Europa, mas algumas serão tão remotas como nunca o imaginaríamos por perto. É esta característica de remoto ligada à solitude que preenche longamente o livro, inspirado por muitos outros livros e autores, onde as palavras e sentimentos como reverência e sublime são peças chave. E o mar, claro.

Esta obsessão por ilhas está intimamente ligada à obsessão pela cartografia. E o livro apresenta-nos belas imagens de mapas. Explica Francis que os cartógrafos enquanto especialistas em isolar e realçar as características de uma porção da superfície terrestre possuem um poder muito próprio. E que a palavra “isolar” vem do italiano “isola” – “ilha”, em português. Os mapas enquanto ilusão de entendimento de uma paisagem. Mas ao mesmo tempo como elementos que convidam ao saciar da imaginação. “Pelas suas omissões, todos os mapas deixam espaço para a imaginação e para os sonhos”. Evasão, escape e sentimentos vários como paixão, serenidade e até medo podem ser acrescentados àqueles outros.

Foi num dos lugares remotos por onde passou que Francis descobriu que o silêncio pode ter um som. O som do silêncio, mais uma inquietação por que passa o amante de ilhas. Curiosamente, os Sonhos de Ilhas a que se refere o título deste livro não dedica uma linha àquelas ilhas tropicais dos resorts e pacotes turísticos, aquelas que os que buscam a solitude não vão ao encontro. Cita Thoureau, recorda Darwin, o encantamento deste livro é outro, mais fino, em busca da alma de uma obsessão.

“For Europe is absent / This is an island and therefore / Unreal”, W.H.Auden

Dividido em capítulos, cada um seguindo um tópico, Francis vai discorrendo sobre ideias e sentimentos à boleia das ilhas. No capítulo “Paz & Prisão” recorda-nos que as ilhas trazem paz mas podem ser também ilhas-prisão, como bem soube Napoleão, que passou por Santa Helena, ou Mandela, que passou por Robben Island – “a condição de tolerar a vida na ilha pode bem ser a capacidade de dela escapar”.

E, numa imagem muito interessante, traz-nos a ideia de livros como ilhas portáteis, na medida em que “garantem isolamento, oferecem alívio de buscas imediatas e espaço para contemplação”. A prosa como refúgio, como escreveu W.G. Sebald.

Muita literatura é mencionada, não faltando um dos ilhéus mais míticos, como Robinson Crusoe, personagem de Daniel Defoe. Um livro de sentimentos, paixões e ideias, ao mesmo tempo uma homenagem à literatura e até ao nosso planeta, “ele próprio uma ilha flutuante”. Conclui Gavin Francis: “somos todos ilhéus”.

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