O Jardim Botânico da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, no Príncipe Real, é um recanto preenchido por uma vegetação exuberante que duvidamos que possa existir bem no centro de uma capital. Mas é isso mesmo que acontece na nossa, 4 hectares de profundo verde carregado de espécies originárias de várias partes do mundo que brotam bem no coração de Lisboa, rodeado e pressionado por um edificado urbano de há muito consolidado.


Pensado em meados do século XIX para servir de apoio ao ensino e investigação na Escola Politécnica de Lisboa (fundada em 1837 e em funcionamento até 1911), o Jardim Botânico acabaria por ser inaugurado em 1878, embora a sua plantação tenha tido início uns anos antes. Hoje é parte do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa, ali mesmo ao lado e visita igualmente imperdível.


São cerca de 1500 as espécies botânicas aqui presentes. O Jardim está dividido em duas zonas: a Classe e o Arboreto, uma na parte superior e outra na parte inferior. Começamos este passeio pela Classe, paredes meias com o edifício do Museu e onde se localizam também os edifícios do Observatório Astronómico, da Estação Meteorológica, dos herbários e da estufa. Porém, é o seu coberto vegetal que nos cativa.


À volta de um lago central – o Lago de Cima – e sob uma geometria cuidada estão organizadas taxonomicamente várias representantes das principais famílias de plantas com flor, dispostas em canteiros. Há flores com cores para todos os gostos e na água do lago vemos plantas aquáticas, uma diversidade tranquila. Ainda na Classe podemos observar uns exemplares de Figueiras com uns caules e troncos deliciosamente intrincados e grossos, com uma textura que parece macia e até reluzente. Lindas e poderosas.


Antes de descermos ao patamar inferior, não deixamos de espreitar as traseiras da Rua do Salitre com os seus prédios upa-upa com logradouros surpreendentemente ocupados com piscinas no meio da nossa selva de pedra. E desde a sétima colina de Lisboa percebemos na perfeição a topografia da cidade, rodeada das suas restantes companheiras.

Entramos no Arboreto imediatamente junto à Classe, logo nos tocando uma bela escadaria dupla com calçada portuguesa acompanhada de enormes exemplares arbóreos, onde por entre as palmeiras descobrimos uma estrelícia gigante que facilmente confundimos com um bananal. Isto promete. O Arboreto é o espaço onde ficam as árvores e os arbustos, alguns deles de grande porte, com espécies originárias de várias zonas do mundo.


Contornamos o Lago do Meio, totalmente imersos na vegetação. Aqui facilmente nos esquecemos da tal selva de pedra, deixando-nos dominar pelo poder e beleza da natureza. Exuberante, já o dissemos, e também exótica.

Perto do Lago do Meio fica uma hipnotizante paineira com mais um daqueles troncos impossíveis de abraçar por falta de envergadura humana. Enorme, o seu tronco vai por ali acima, rasgando o céu.


Continuando o passeio, temos já a certeza de termos sido transportados para um mundo tropical. Ainda não chegámos à Rua das Palmeiras e já elas andam por qualquer canto do Jardim, sempre formosas e altaneiras. A colecção de palmeiras do Jardim Botânico acolhe mais de 30 espécies diferentes, algumas delas com dezenas de metros de altura, e é considerada uma das maiores colecções de palmeiras ao ar livre da Europa.


Passamos ainda por mais um lago, desta vez o Lago de Baixo, com belos reflexos do arvoredo que o rodeia – a água como elemento romântico, característica de uma época que continuamos a apreciar. Este lago foi objecto de restauro em 2018, altura em que foi inaugurado o Anfiteatro Fernando Catarino, situado um pouco mais acima. Não faltam bancos espalhados por todo o Jardim, mas as bancadas alvas deste novo anfiteatro são igualmente um convite irresistível a uma pausa para introspecção e contemplação.


Há mais figueiras tropicais, cicadófitas, araucárias, sequoias, magnólias, gardénias, até um caminho de bambu. E dragoeiro, talvez a minha árvore preferida? Claro que também aqui há um exemplar, junto aos sempre incríveis cactos. E dentro do Jardim há ainda espaço para o Jardim das Monocotiledóneas.


Com tanto caminho para percorrer e espécie arbórea para descobrir e apreciar, quase não damos pelas aves do jardim, não fosse o seu chilrear nos desviar a atenção por um momento. Vimos melros e pardais, mas diz que por aqui também se deixam ver amiúde o gaio, o chapim real e o periquito de colar, todos aqui vindo em busca de abrigo e alimento.


Este Jardim é um deleite e se na sua génese esteve a constituição de um espaço científico e pedagógico, hoje é um daqueles lugares onde se vai para se estar e encher de prazer, ao mesmo tempo que se aprende viajando pelo mundo.


Para além do Jardim Botânico de Lisboa, não deixe de visitar também o Jardim Botânico Tropical, em Belém, e o Jardim Botânico da Ajuda